Mais de 11 meses se passaram desde que a FEF - Fundação Educacional de Fernandópolis – recebeu em suas dependências uma força tarefa da Polícia Federal, com o objetivo de apurar a suposta existência de bolsas fantasmas em programas governamentais como o “Escola da Família”, do governo do Estado e “FIES”, do governo Federal. De lá para cá, a instituição genuinamente fernandopolense, fundada por pessoas apaixonadas por essa cidade, e geradora de centenas de empregos, além de responsável por boa parte da economia local, foi virada do avesso. Fraldes e falcatruas milionárias foram descobertas, dirigentes e conselheiros afastados, alguns até presos por certo tempo e a justiça teve que intervir para evitar que acontecesse o que parecia inevitável: o fechamento da FEF. A referida intervenção judicial colocou no caminho e também na história da Fundação o nome Titosi Uehara, que, acompanhado de Antônio Carlos Cantarela, José Poli e Antônio Batista Cézar, recebeu a missão de tentar colocá-la de volta aos trilhos. O que poderiam fazer foi feito. Agora, por conta de seus compromissos pessoais e profissionais, Titosi e seus companheiros “repassaram” essa responsabilidade para o empresário e advogado Fábio Fernandes, ex-gerente e auditor regional do Banco Banespa/Satander e mais recente secretário de Gestão Pública de Fernandópolis. Fábio, já conhecido por gostar de desafios, aceitou mais este e está otimista, mesmo sabendo que terá de administrar uma instituição com mais de R$ 100 milhões em dívidas. Conheça o novo administrador da FEF.
Qual foi sua primeira reação quando recebeu o convite para assumir judicialmente a FEF?
Fiquei lisonjeado pelo convite e por ficar sabendo que meu nome já estava sendo estudado há algum tempo pela equipe que aqui estava na administração judicial e junto com a promotoria e o juiz. O doutor Marcelo (Francischette) é um promotor novo aqui na cidade e o juiz Valderrama (Arnaldo Luiz Zasso), também. Não os conhecia e então, só o fato de ter meu nome ventilado sobre a possibilidade de fazer um trabalho sério, confesso que me deixou lisonjeado, mas também um pouco apreensivo pelo tamanho do problema.
Por que acredita que o poder judiciário chegou ao seu nome para ocupar essa função?
A informação que me veio é de que foi pelo meu currículo e pela minha postura. Disseram-me que pesquisaram, tentaram buscar um nome porque o Titosi tinha, a princípio, assumido um compromisso com o judiciário de ficar um determinado período aqui, pois ele também tinha seus afazeres lá fora.
Se sente apto para assumir esse difícil trabalho?
Essa é uma pergunta difícil de responder. Me considero uma pessoa cheia de vontade, com uma boa experiência em gestão de pessoas e por ter trabalhado por 26 anos no mercado financeiro, também tenho experiência com gestão de processos e movimentações financeiras, o que me dá uma bagagem para enfrentar todo esse problema.
O senhor já sabia da difícil situação em que a FEF se encontra, inclusive que está com uma dívida de mais de R$ 100 milhões. Alguma vez pensou em recusar a administração judicial de lá?
Com certeza. Quando recebemos uma proposta como essa a gente avalia as duas pontas. A ponta de você aceitar o convite, a responsabilidade e a outra, que seria muito mais fácil para mim, declinar o convite e continuar minha vida. Mas, o que me chamou atenção? O que me chamou atenção foi o seguinte: a dificuldade e a situação da FEF todos conhecem, mas essa é uma instituição que é muito importante para nossa comunidade e quando me veio o convite, o Titosi foi categórico e disse: ‘Fábio, estou te fazendo o convite, pois já tivemos uma pré-conversa com o doutor Marcelo, que é o curador das Fundações de Fernandópolis e a gente chegou ao seu nome. Gostaria que você avaliasse com carinho, pois nós estamos precisando de você’. Vindo de quem veio – eu tenho o Titosi como um exemplo de conduta – e se ele está me convidando é porque ele acredita que posso desempenhar um bom trabalho. Sou de uma geração bem posterior a dele e acho que posso fazer e oferecer alguma coisa de bom para a Fundação. Tenho, pelo menos a esperança, mas a esperança que digo aqui não é no sentido de esperar que tudo se ajeite com o tempo, mas sim no sentido de ir atrás, de buscar novos dias. Estou aqui para tentar resgatar a autoestima da Fundação. Uma das primeiras coisas que detectei aqui foi que o corpo administrativo e pedagógico da instituição está muito acanhado, com a autoestima baixa pelo momento que a FEF vive e um dos motivos pelos quais vim para cá não foi para focar problemas, pois deles todos já sabem e não cabe a mim julgar ou emitir algum juízo de valor, mas sim tentar ajudar, fazer uma gestão transparente, correta e responsável, porque acredito de verdade na Fundação e em sua recuperação.
O que sua família achou disso?
Uma das coisas que aprendi com o tempo é que as decisões nós conseguimos acertar quando as tomamos em colegiado. Não gosto de decisão individual. Antes de vir para cá, me reuni com os meus filhos e a minha esposa. A princípio, a minha família também se assustou com o tamanho do problema, mas foi uma decisão que tomamos em um feriado, quando meus filhos, que estudam fora, um em Campinas e a outra em Ribeirão, vieram para cá e a gente sentou para avaliar os prós e os contras. Em determinado momento meu filho chegou a perguntar: ‘mas pai, para quê o que o senhor vai fazer isso? Nós não precisamos disso’. Porém, ao mesmo tempo ele entendeu e retrucou: ‘só que se estão te procurando é porque eles enxergaram no senhor uma possibilidade de ajudar a Fundação’ e foi aí que chegamos a um consenso. Não sei quanto tempo ficarei aqui, pois isso depende da justiça e eu posso agradar, como também posso não agradar com meu modelo de gestão. Mas foi uma decisão colegiada com toda a minha família.
Quais serão seus principais desafios nessa missão?
Cheguei à FEF com dois pontos muito importantes para sua sobrevivência em negociação. Primeiro é o problema trabalhista e o outro, fiscal. Esses são os dois principais desafios. Mas há um terceiro que também considero de suma importância, que é o de recuperar a autoestima do pessoal que realmente fez a Fundação. Nós precisamos resgatar isso, precisamos acreditar na Fundação. Não venho aqui para ser o salvador da pátria, mas venho com uma crença de que é possível. Se chegasse aqui como um administrador judicial desanimado, não iria ajudar. Então, estou muito animado e não sei o dia de amanhã, mas quero chegar todos os dias aqui e poder contagiar meus colaboradores com essa animação. Tem um termo que uso e gosto muito, é que uma empresa só começa a ser realmente diferenciada a partir do momento que todos os colaboradores sentem de forma bem clara o sentimento de ‘dor de dono’, isso é fundamental e quero reviver esse sentimento aqui na FEF.
Fábio Fernandes está sucedendo Titosi Uehara, que, no período em que esteve a frente da instituição, ganhou o respeito dos colaboradores da Fundação e seus sindicatos. O que isso lhe representa?
Um caminho a ser seguido. Aqui em Fernandópolis temos algumas pessoas que admiramos, pelo menos eu, pela conduta. O Titosi é uma dessas pessoas, o seu Alfredo Scarlati é outra pessoa que também admiro por sua postura e são exemplos que temos a seguir. Tudo que o Titosi conseguiu aqui na FEF tentarei aprender para ver como ele fez e tentar fazer igual ou melhor. Esse é o caminho que quero seguir.
O senhor foi muito bem recebido, aplaudido e recomendado durante a cerimônia de transição de posse. A que se deve essa credibilidade?
Tive uma carreira no mercado financeiro e grande parte dela foi vivida em Fernandópolis. Sou filho de Fernandópolis, entrei no Santander aos 18 anos como contínuo na cidade de Campinas, onde fui fazer faculdade. E foi então que meus amigos começaram a falar que eu gostava de desafios. Não é que eu goste de desafios é que a vida vem me colocando neles. Acredito muito em Deus e creio que nada é por acaso, quando as coisas acontecem na vida da gente acredito que seja por vontade de uma força maior que a define. Por exemplo, perdi meus pais com 18 anos, minha mãe faleceu e uns dez meses depois meu pai também se foi. Esse foi o meu maior desafio, eu sozinho trabalhando como contínuo no banco e com dois irmãos para cuidar, um de 15 e outra de 17. Diante disso, coloquei um objetivo de não olhar para trás e buscar sempre melhores dias. Foi assim que consegui formar meus dois irmãos, duas pessoas corretas. Então, a FEF está sendo meu maior desafio de hoje, mas eu já passei por coisas muito mais difíceis que isso no passado e consegui superá-las. No falecimento dos meus pais sentei com meus irmãos e combinamos que focaríamos no amanhã, pois o que aconteceu no passado não seria resolvido se nós ficássemos parados, nos lamentando pelo que aconteceu. Por isso que cheguei na Fundação com esse mesmo intuito. Não vou focar o passado, quero focar o futuro, pois acredito em melhores dias.
Durante a cerimônia de posse o senhor utilizou um trecho do poema de Elisa Lucinda que diz: “Sei que não dá para mudar o começo, mas se a gente quiser, vai dar para mudar o final”, que culminou em uma longa sessão de aplausos. Por que escolheu essa citação? E por que acredita que foi tão aplaudido ?
Justamente pelo o que acabei de mencionar. Não venho para cá para ficar emitindo juízo de valor por coisas que foram feitas. Eu era gerente regional do Santander e quando a gente fazia uma movimentação de pessoal, por exemplo, troca de gerentes, tínhamos uma observação de que o gestor que entrava para substituir e assumir a função de outra pessoa e só criticava o anterior recebia uma restrição. Temos que ter diretrizes próprias, objetivos próprios. É muito fácil eu entrar aqui e ficar criticando o que foi feito, só que não é essa a minha função. Por que usei a frase da Elisa Lucinda? Porque não vou conseguir mudar o que foi feito lá atrás, eu tenho que conseguir mudar o que será feito daqui para frente.