Como anunciado na última edição de CIDADÃO, a Diocese de Jales, responsável por todas as paróquias católicas da região, inclusive a de Fernandópolis, terá novo bispo, já que Dom Demétrio Valentini se aposentará compulsoriamente no dia 1º de janeiro de 2016, data em que completa 75 anos, idade limite para um bispo diocesano. Para o seu lugar, o Papa Francisco, líder mundial da igreja católica, nomeou o padre José Reginaldo Andrietta, e não foi por acaso. O novo bispo fala oito línguas e é dono de um currículo pastoral invejável, mas, isso não é tudo. Monsenhor Reginaldo, como deve ser chamado até a sua ordenação e posse – que agora já têm data marcada -, deixa claro em sua entrevista que tem muito para oferecer à Diocese, assim como seu antecessor, e que não foge das perguntas e temas polêmicos.
Dom José Reginaldo Andrietta, é assim que devemos o chamar?
Gosto muito de meu nome completo. No entanto, sugiro me chamarem, agora, de Monsenhor Reginaldo, e a partir da minha ordenação episcopal, de Dom Reginaldo.
Já sabe as datas de sua ordenação e posse?
Minha ordenação será no dia 27 de dezembro deste ano, às 15h, na Basílica Santuário de Santo Antônio de Pádua, em Americana-SP. Minha posse será no dia 31 de janeiro de 2016, às 10h, na Catedral Diocesana Nossa Senhora da Assunção, em Jales. Sintam-se todos cordialmente convidados.
A Diocese de Jales é uma das maiores do estado de São Paulo. O senhor vê como um desafio sua nomeação para comandá-la?
Toda missão conferida por Cristo, como a minha, é um desafio. Eu a exercerei como um serviço humilde, seguindo o que Cristo disse aos seus discípulos, conforme Lucas 10,42-45: os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam, mas entre vós não deve ser assim; o grande ou primeiro deve ser servidor de todos. Por isso, escolhi como lema episcopal: “A serviço do bem comum”.
O DNJ, realizado pela Diocese de Jales em Fernandópolis, reuniu mais de cinco mil pessoas. Enxerga com otimismo a participação dos jovens na Diocese que o senhor assumirá?
Sempre me dediquei com entusiasmo à juventude. Fico feliz, portanto, em saber, pelo que demonstrou o DNJ realizado este ano em Fernandópolis, que a juventude da Diocese de Jales é pastoralmente dinâmica. Eu me dedicarei, sobretudo na fase inicial de meu ministério episcopal, a conhecer e a analisar a realidade no seu todo e situações particulares, como da juventude trabalhadora, desempregada e estudantil, da cidade e do meio rural. Quero conhecer a história, o momento atual e as projeções pastorais feitas pela Igreja Particular de Jales nessa área, e ouvir o que as lideranças juvenis e todos os que assessoram a juventude, esperam de mim, com relação a esse setor pastoral.
Seu antecessor Dom Demetrio Valentini sempre possuiu muito prestigio junto aos jovens e sempre defendeu firmemente os trabalhos com a juventude cristã. Pretende trilhar o mesmo caminho?
Trilharei o mesmo caminho de Dom Demétrio, dando continuidade ao maravilhoso trabalho que ele, seu presbitério e toda a Diocese tem realizado, também no que se refere à juventude, pois esse tem sido um dos focos importantes de meu trabalho pastoral durante meus 32 anos de padre.
Embora ainda seja maioria, o número de católicos tem diminuído, de acordo com o último senso do IBGE. Em sua opinião, o que motivou essa queda no número de fiéis?
Há muitos fatores que justificam essa queda de fiéis, todos relacionados a uma mudança global de cultura. Cito alguns. Atualmente, os modos de vida e as formas de expressão religiosa se diversificam rapidamente. Muitas pessoas estão buscando espiritualidades religiosas nas quais possam se expressar de maneira mais subjetiva, individualista e informal, sobretudo por meio de grupos religiosos e igrejas que enfatizam a relação afetiva com Deus, sem muito compromisso comunitário sócio transformador. Cresce também, o fenômeno da secularização, ou seja, muitos dispensam a religião de suas vidas, dispensando finalmente, Deus, crendo com isso, equivocadamente, que podem ser mais felizes. Há que se considerar também que hoje, o cristianismo católico pauta-se menos por quantidade de fiéis, procurando enfatizar mais a qualidade do testemunho de fé, de vida comunitária e de atuação de seus adeptos.
Qual a principal frente de trabalho defendida pelo senhor para evitar que isso continue acontecendo?
Defendo a formação cristã permanente e de qualidade de todas as gerações, ou seja, pessoas de todas as idades, priorizando, evidentemente, as crianças, os adolescentes, os jovens e os recém-casados, os quais estão sendo afetados de modo mais intenso pela rápida mudança global da cultura.
Vemos muitos pastores de igrejas evangélicas envolvidos na política, inclusive deputados. Por outro lado, não vemos padres ou bispos envolvidos da mesma forma. Há alguma orientação do Vaticano para que a igreja Católica não seja tão próxima da política?
O Vaticano, atualmente, por meio do Papa Francisco, orienta e incentiva os cristãos a se engajarem politicamente. Cito como exemplo significativo a resposta que o Papa deu à pergunta de estudantes de colégios jesuitas de Roma, em 2014, sobre o engajamento dos cristãos no mundo: “Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, cristãos, não podemos fazer como Pilatos, lavar as mãos. Devemos nos engajar na política porque a política é uma das mais altas formas de caridade, porque busca o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar na política. A política está muito suja. Mas eu pergunto: está suja por que? Porque os cristãos não se implicam nela com espírito evangélico. É fácil dizer que a culpa é dos outros, mas eu, o que faço? Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão”. Dessa forma, o Papa incentiva os bispos e padres a colaborarem para que os cristãos leigos e leigas assumam responsabilidades na vida pública, desde seus ambientes quotidianos de vida, evitando substituí-los na postulação de cargos públicos eletivos, a menos que haja motivos justos para assumir esse papel supletivo.
Não seria interessante para igreja ter representantes na política para defender os interesses da população Católica?
A Igreja respeita a laicidade do Estado e trabalha para o bem comum, no qual os católicos encontram-se incluídos. Engajar-se na política para defender interesses corporativos, mesmo que sejam de igreja, em detrimento do bem comum, é profundamente antiético. Portanto, a Igreja, em lugar de se dedicar a ter representantes próprios para defender sua população católica, deve ajudar todos os cidadãos e cidadãs a se formarem com critérios cristãos, se organizarem como sociedade civil e atuarem politicamente em favor da coletividade.
Perguntado sobre sexualidade, em sua visita ao Brasil, o Papa Francisco disse que “se uma pessoa é gay e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”. Diante disso, qual sua opinião sobre o tema?
Esta postura do Papa é muito sábia. Inspiro-me nela para dizer que a Igreja deve acolher todas as pessoas do jeito que elas são, com seus valores e dificuldades, inclusive do ponto de vista da sexualidade, e acompanhá-las para se tornarem sempre melhores, ajudando-as a ser mais santas, ou seja, perfeitas no amor a Deus e na caridade.
Qual a opinião do senhor sobre o homossexualismo?
Minha opinião é a da Igreja. Distingo homossexualismo da experiência vivida pelas pessoas homossexuais. Cada pessoa, independente da sua orientação sexual, deve ser compreendida e respeitada na sua condição própria, e acolhida, caridosamente, sem discriminação. A Igreja, no entanto, discorda da ideologia homossexualista, entendida como uma proposta ideal de se viver a sexualidade. A razão é evidente. A Igreja valoriza o ideal da complementariedade sexual entre diferentes, associada à possibilidade de se gerar, acolher e educar filhos, uma das finalidades importantes da vida conjugal.
E em relação ao aborto, qual sua opinião?
Minha opinião corresponde, evidentemente, à visão da Igreja. A vida humana deve ser incondicionalmente respeitada e defendida desde a concepção. O Sínodo sobre “A Vocação e a Missão da Família no Mundo Contemporâneo”, realizado entre 4 e 25 de outubro passado, reafirmou que a vida humana é um dom de Deus que nos transcende e que o ser humano não é um bem descartável.