Ga..ga..gueira: um problema que afeta 1,6 milhões de brasileiros

20 de Agosto de 2025

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Ga..ga..gueira: um problema que afeta 1,6 milhões de brasileiros

Para muitos, é somente um motivo de piada. Mas para quem vive o problema não tem graça nenhuma. Na última quinta-feira, 22, foi comemorado o Dia Internacional de Atenção à Gagueira, distúrbio na influência da fala que pode ser originado de duas formas: herança genética e/ou por lesão cerebral.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), a grande maioria dos casos de gagueira começa mesmo na infância. Muita gente acredita que o distúrbio resolve-se por si só. Não se deve, no entanto, deixar o tempo passar sem tomar qualquer atitude. Na verdade, a criança não gagueja para chamar a atenção, mas porque provavelmente apresenta um mau funcionamento de áreas do cérebro relacionadas à temporalização da fala.

Ainda segundo o IBF, em boa parte dos casos, a gagueira regride espontaneamente em até um ano após o início dos primeiros sintomas. Mas, para algumas crianças, a tendência é que o problema persista indefinidamente. Por isso, é fortemente recomendado que os pais procurem um fonoaudiólogo especializado em gagueira assim que o distúrbio surgir.

Aproximadamente 1% das pessoas gagueja. No mundo, são 60 milhões e no Brasil, são 1,6 milhão.

A fonoaudiologia e algumas especialidades médicas dispõem de técnicas e procedimentos específicos para tratar a gagueira, inclusive em adultos. O instituto informa que até o momento não existe cura total para a gagueira, mas os tratamentos disponíveis promovem uma diminuição significativa do distúrbio. Em média, os tratamentos duram de seis meses (casos mais leves) até dois anos (casos mais graves).

Angélica Maria Ferrari, fonoaudióloga especialista em motricidade orofacial também atende na Apae – Associação dos Pais e Amigos do Excepcionais-, de Fernandópolis e já teve experiência com pacientes gagos, embora não seja sua área de atuação.

“O que eu percebi é que há várias linhas de trabalho para tratamento de gagueira, mas em praticamente todos os casos é necessário um acompanhamento psicológico atrelado por conta da parte emocional que interfere e que faz acontecer. Ainda assim, outras literaturas relatam a parte genética e convivência. Vale lembrar que alguns casos são temporários, ou seja, não se caracteriza como gagueira. Já tive um paciente, de Macedônia, que ficou por sete dias gaguejando após um ataque de cachorro sofrido por ele. Outro paciente ficou gago após uma chuva forte derrubar o telhado da sua casa, em um sítio. Agora quanto aos casos de convivência, é preciso tratar primeiro a pessoa gaga que convive coma  criança para depois tratá-la, pois é como um espelho. Tive um paciente que a mãe era o modelo. Quando fiz a entrevista coma mãe percebei que ela gaguejava mais que a filha e por isso era preciso tratá-la primeiro”, relatou.

Ela lembrou ainda que muitas vezes o interlocutor acaba prejudicando e agravando ainda mais a gagueira, principalmente em crianças que passam a desenvolver de forma mais acentuada. “Tive um paciente que não gaguejava comigo, embora a mãe relatasse que ele era gago. Coloquei a mãe atrás do armário na sala para ela ver que ele não gaguejava quando estava longe dela. Era uma pessoa autoritária ao extremo que impunha muito medo à criança, e por isso, gaguejava. Geralmente quem convive com uma pessoa gaga precisa saber como agir. O nervosismo deixa a gagueira mais intensa e não há nada que deixe um gago mais nervoso que uma pessoa com expressão facial de aflição, ou que tente terminar a frase para ele. No caso da criança, até os três anos é normal que ela gagueje por estar aprendendo palavras estruturando novas frases, por isso o adulto tem que saber lidar para que isso não se torne uma gagueira de fato. Alguns pais não tem paciência e ficam naquela: ‘calma, respira’, e isso atrapalha muito”, lembrou.