O acesso a um passo

20 de Agosto de 2025

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O acesso a um passo

Ao longo do campeonato, CIDADÃO já entrevistou o presidente do FFC Jerri Falcão, o técnico Betão Alcântara, e até alguns jogadores. Injustiça cometeríamos se, a um passo do acesso, não trouxéssemos a palavra de quem trabalha nos bastidores para que tudo corra bem dentro e fora de campo. A lista então seria enorme, pois começa desde os gandulas, maqueiros, cozinheiras e vai até os membros da diretoria, que abdicam de suas vidas em prol de um sonho: ver o time de sua cidade se destacar. Representando essa enorme lista, conversamos então com o dentista Breno Lopes, vice-presidente e diretor financeiro do clube. Dr.Breno, como é conhecido, pouco aparece nas fotos ou concede entrevistas, mas é um dos responsáveis pela bela campanha do clube. É ele quem perde noites de sono pensando em como conseguir pagar os fornecedores e raspa o fundo do tacho para pagar em dia os jogadores. Esse trabalho, que faz sem ganhar nada, lhe rendeu algumas broncas da esposa e puxões do orelha da filha, a perda de alguns pacientes e até mesmo de mais alguns fios de cabelo, mas ao que tudo indica, hoje, todo o sacrifício será recompensado. 

Primeiramente, quem te apresentou o FFC e o que te motivou a participar da diretoria?

Sou nascido e criado em Fernandópolis. Sempre gostei muito do FFC, mas não o acompanhava muito. O último jogo que havia presenciado até então tinha sido aquele lendário jogo contra a Ponte Preta, que teve aquela briga generalizada. Depois de muitos anos, já atendendo aqui em meu consultório, comecei a atender alguns jogadores, cobrava um preço mais em conta para ajudar clube de alguma forma, mesmo sem aparecer, sem publicidade. Aí, em 2013, eu atendi mais um jogador aqui em meu consultório e então decidi mandar um e-mail para o presidente da época, que era o Cleiton (Ferraz), me colocando à disposição do clube. Ele nem respondeu, já veio direto aqui na clínica e se propôs a abrir as portas do clube para mim para fazer essa parte de atendimento odontológico dos jogadores e acabei observando que tinha uma dificuldade ali não só odontológica como na saúde em geral, de medicamentos, de separar o que é anti-inflamatório, o que era antibiótico, o que era analgésico e então eu comecei a ajudar nessa parte também. Dessa forma comecei a me envolver, vi que o Cleiton precisava de ajuda, de colaboradores e então acabei entrando de vez. De lá para cá a participação tem sido muito intensa. No ano de 2014, durante a gestão do Zonta, já tive uma participação cuidando da parte financeira do clube, até que em 2015 toda parte burocrática foi enfim regularizada e eu acabei sendo nomeado o administrador provisório até que em consenso com os demais membros do clube decidimos eleger o Jerri como presidente e acabei ficando como vice-presidente e responsável da parte financeira do clube. 

E por quê? Afinal, o senhor poderia estar em seu consultório, atendendo, ganhando dinheiro, ou em casa com a família. Por que toda essa dedicação ao FFC?

É uma pergunta que até eu faço para mim mesmo. Às vezes eu paro e fico pensando, para quê né? O futebol é um esporte que desperta algumas paixões que a gente nem sabia que tinha. Sou são-paulino, sempre fui torcedor do São Paulo, daqueles que sempre acompanhou o time, daquele que acompanhava a escalação, quantos pontos tinha ele e os adversários, qual era a melhor combinação de resultados, e tal, hoje em dia eu já nem sei como que está o São Paulo, sei apenas que está lá em quinto ou sexto colocado e que está disputando uma vaga para a Libertadores. Agora se você me perguntar à escalação do FFC, quantos pontos tem, de quem ganhou, para quem perdeu, enfim, eu sei tudo. A gente até se desliga de outras coisas para tomar conta dessa paixão que é o futebol. Só que essa paixão lhe toma muito tempo e isso é complicado. Esse ano tive grandes dificuldades por conta do tempo, de tocar a clínica, de tocar a vida  particular, pois a gente acaba ficando devendo em casa, já não consegue ficar com a família, então a mulher reclama, a filha não consegue brincar todos os dias com o pai. Isso acaba rendendo uma cobrança muito grande, mas me parece que dessa vez, teremos um resultado gratificante no final.

Dr, o acesso há tempos o FFC não ficava tão próximo. Qual é a sensação?

A sensação é de que valeu a pena. Se chegar realmente ao acesso, tão sonhado e depois de tanto tempo, quer dizer que valeu a pena brigar com a esposa, valeu a pena deixar a clínica um pouco de lado, valeram a pena as noites mal dormidas pensando naquele cheque que passei e se vai ser coberto, pensando se aquele jogador que foi contratado realmente vai fazer por merecer, se as trocas de treinadores foram positivas, então chegar aqui, à beira do acesso nos dá a sensação de que realmente valeu a pena tudo isso. É um, ufa de alívio sabendo de todas as dificuldades que passamos até aqui.

Quais foram as principais dificuldades para que o time chegasse até aqui?

A grande dificuldade nossa foi administrativa, financeira. O FFC vem com uma carga de dívida de gestões passadas e por isso o FFC tem sua bilheteria comprometida, tem as verbas que recebe da Federação comprometidas, tudo por dívidas trabalhistas de administrações passadas, que a gente não tem nada a ver com isso, mas tem que pagá-las para que o clube seja mantido. A grande dificuldade do FFC, que agora está sendo superada, não tem nada a ver com campo, mas sim, administrativa e essa diretoria está de parabéns, o presidente está de parabéns todo mundo de parabéns, porque reverter esse quadro de insucesso que estava tendo o FFC foi surpreendente.

O acesso à série A3 pode representar o sucesso do modelo de gestão implantado este ano, que há tempos já era comentado de que seria a única solução para que o FFC deixasse essa divisão?

Acredito que sim. Essa visão de empresa, essa visão moderna de empresa que foi implementada, não só agora, mas que vem de um processo de amadurecimento de uns três anos para cá, já demonstrava que seria questão de tempo para que Fernandópolis chegasse à série A-3, assim que espero que também seja uma questão de tempo até chegarmos à A-2 e também na A-1, por que não? Então assim, essas dificuldades de organização foram superadas, claro que ainda tem muita coisa para melhorar, estão sendo implementadas essas melhorias e mudanças, ideias novas surgiram e vão ser implementadas para o ano de 2016 e tem tudo para se consolidar como uma empresa até lucrativa.

Quais foram os erros e os acertos da diretoria nessa temporada?

Pensando como se já estivéssemos na série A-3, Deus me livre que isso não aconteça, acredito que nosso principal acerto foi a união de toda diretoria. No FFC, agora, cada um tem o seu espaço e a sua responsabilidade, sem ciumeira, sem um ficar jogando a culpa no outro, sem vaidades. Ainda tem muita coisa a ser melhorada, mas acredito que essa união é o ponto forte do FFC. Agora falando em pontos negativos, acredito que ainda tem coisas a melhorar na organização, mas nossa principal falha é que ainda patinamos um pouco na parte de propaganda. Precisamos ter mais patrocínio, pois numa cidade do tamanho da nossa, com o tanto de empresas que temos, acredito que poderíamos ter uma quantidade maior de patrocínios, a gente ainda tem essa dificuldade de fechar o caixa e vamos encerrar essa gestão praticamente no limite, o que seria diferente se tivéssemos uma maior arrecadação com publicidade.

Se o time de fato garantir hoje o acesso, quais serão os próximos passos?

Para série A-3 é tudo muito rápido. Se nós garantirmos o acesso e formos para a final, encerraremos o campeonato   em novembro, ou seja, teremos aí 20 dias, porque em dezembro já temos que estar com o time montado e treinando, para janeiro já começar com tudo. Então vou insistir na parte de publicidade, o FFC hoje sobrevive dos patrocínios. Nós temos uma carteira de despesas com jogadores, comissão técnica e funcionários que provavelmente vai aumentar para a série A-3, então o que a gente tem hoje de patrocínio, não conseguiremos tocar. Acredito que a grande dificuldade nessa transição da Segunda Divisão para a série A-3 vai ser o comprometimento dos empresários para com o time, pois com o elenco eu não tenho tanta preocupação já que 80% dos atletas têm plena condição de disputar a A-3 e o elenco já chega forte, motivado e entrosado.

Vai ter festa se o FFC subir?

Festa vai ter né, com certeza. Se o FFC subir acredito que as pessoas não vão se segurar. Não tem como quem é torcedor do Fernandópolis, há tanto tempo espertando por isso,  não fazer uma grande festa. Espero que seja uma festa bonita, já seja no dia de hoje, a gente já está preparando uma carreata, talvez até os jogadores num caminhão, para que a cidade possa vê-los e os parabenizar, para depois, com calma a gente programar uma festa numa casa noturna ou coisa assim, para exaltar os grandes campeões que na verdade são os atletas, coloca-los num palco, fazer a entrega do troféu e fazer uma festa bonita pelo encerramento do campeonato e pelo acesso também.

Sabemos que para chegar até aqui, o clube contraiu uma grande dívida. O que pretendem fazer? A “Ação entre Amigos” que lançaram ajudou?

Realmente a gente chegou a um ponto onde não poderíamos dar um passo para trás. Então, os passos tiveram que ser dados sempre para frente e com isso acabamos contraindo algumas dívidas mesmo. Então lançamos a ‘Ação entre Amigos’, com o sorteio de uma moto, que no começo estava sendo vendida a R$ 100 e teve muita dificuldade para fazer as vendas, então baixamos o preço para R$ 50 e mesmo assim a gente ainda não teve um retorno satisfatório. Por isso, prorrogamos essa ‘Ação entre Amigos’ por mais 15 dias para ver se a gente consegue arrecadar um pouco mais e cobrir parte dessa dívida conquistada com a campanha do time. E pedimos também para que o torcedor lote o estádio hoje e se conseguirmos ir para a final, que lote o estádio novamente para conseguirmos cobrir esse déficit, para entrar em 2016 sem dívidas. As cartelas estão sendo vendidas, sabemos que a crise está preocupando todo mundo, mas R$50 não fará tanta falta para ninguém, mas para gente é muito importante. Se conseguirmos vender pelo menos duas mil cartelas já quitamos o déficit.

Sonhando com os pés no chão, quem o senhor gostaria de ver com a camisa do FFC?

Os nossos. Temos um técnico fantástico que se encaixou perfeitamente em nosso time, então eu seria injusto se dissesse que queria o Muricy Ramalho como treinador ou qualquer outro de renome. É claro que o Muricy é um grande treinador, mas eu não desvalorizo o meu treinador. É claro que eu gostaria de ter o Jadson do Corinthians em meu time, mas eu não desvalorizo o Diego Choque, o Pity, o Vinicius Pequeno, o Radsley. Então assim, prefiro falar que o jogador que sonho em ter no nosso time  é aquele que realmente vista a camisa do FFC e vista com garra, com prazer de jogar pela nossa águia assim como esses jogadores que estão aí estão fazendo.