Futuro promissor pelo jeito certo de ensinar

20 de Agosto de 2025

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Futuro promissor pelo jeito certo de ensinar

Quem foi ao Teatro Municipal no último domingo, 30, na apresentação da Osfer – Orquestra de Sopros de Fernandópolis-, em prol do Lar Meimei, ficou impressionado com a qualidade da apresentação da banda jovem do projeto. O público ficou ainda mais surpreso quando o maestro Luiz Fernando Paina anunciou que alguns dos pequenos tiveram contato com os instrumentos há apenas três meses. O novo método pedagógico de ensinar e o “jeito Osfer” de incentivar os alunos a crescerem na música, quem explica é o próprio maestro Paina.

 

No último domingo a OSFER lotou o Teatro Municipal em ação benéfica ao Lar Meimei e o que chamou muita a atenção foi a qualidade da banda jovem da Orquestra. Há quanto tempo aqueles alunos tocam no projeto?

A Orquestra Jovem, ou como também gostamos de chamar “Orquestra do Futuro” é composta pelos alunos que saem da iniciação musical, através da flauta doce, e começam a ter o primeiro contato com os instrumentos da orquestra. Com um repertório simples e específico, nesta prática de orquestra os alunos têm a oportunidade de conhecer o universo da música orquestral, sentindo que o som que ela executa através dos seus novos instrumentos musicais produz música bela e harmoniosa aos seus ouvidos. Os alunos que participam deste grupo já possuem no mínimo três meses de instrumentos de sopro ou percussão e participam de um ensaio geral, que acontece uma vez na semana, aulas coletivas especificamente do seu instrumento, também uma vez na semana e é preciso estudar o conteúdo por pelo menos três horas semanalmente.

Pela segurança e disciplina demonstrada por eles pode-se afirmar que é um período curto para aprender com tamanha sabedoria?

Sim. Porém, como a maioria deles passa por uma musicalização antes de ingressarem na Orquestra Jovem, eles já entendem a importância de ter esta disciplina e comprometimento com seu grupo. Grupo que é composto por crianças de 10 anos, estudantes de medicina, dona de casa, mães de alunos, professores da rede municipal de ensino e alunos de ensino médio. Esta diversidade, tanto de idade como de experiência de vida, é superada pela boa vontade e empenho na arte de estudar música.

Qual método musical é utilizado com os alunos e quais motivos levarão a adotá-lo em Fernandópolis?

Existem diversos métodos musicais, dos quais muitos eu já usei em outros momentos dentro do ensino musical da Corporação Musical. Porém quando tive a oportunidade de fazer um curso sobre ensino coletivo de música como o Prof. Dr. Joel Barbosa, que criou e adaptou este modelo de ensino musical, usado principalmente nas escolas americanas, para o ensino coletivo de música de bandas no Brasil, eu fiquei impressionado com a facilidade que esta metodologia proporcionava.

Além do aprendizado, é possível mensurar a importância dele para OSFER, tendo em vista que o número de desistentes diminuiu após a utilização da nova forma de ensinar?

Atualmente utilizo um método americano, que depois de analisar vários, achei melhor aplicar este devido a organização didática, passo a passo, à aprendizagem do instrumento, de teoria aplicada, além de estímulos ao desenvolvimento da percepção musical serem diferenciados dos demais, pois em cada lição é introduzida uma nova nota no instrumento; bem como ritmo e um conceito teórico, todavia aplicado ao fazer musical de forma mais prática e de resultados mais rápidos.

Muitos se fala em dom, mas qualquer criança pode iniciar o aprendizado na Orquestra de Sopros de Fernandópolis? Existe uma idade adequada?

Existem muitas pesquisas e diversas opiniões sobre o assunto. Uma destas opiniões, que pessoalmente compartilho é da educadora musical Teca Alencar de Brito, professora do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da USP, onde ela afirma que é possível introduzir a música no mundo de crianças de todas as idades, mesmo as mais novas. Porém, é preciso respeitar seu modo de perceber o mundo. Por exemplo, uma criança de quatro anos que quer aprender a tocar piano não necessariamente quer aprender a ler uma partitura. Ela pode simplesmente querer apertar as teclas e explorar as possibilidades daquele instrumento. Acredito que uma aula ou um professor que tente diminuir esta espontaneidade provavelmente aborrecerá a criança e a afastará do instrumento que esteja aprendendo.

Em minha experiência de ensino musical vejo que tudo depende do modo como é feito. Algumas crianças que começam a fazer aula de música muito cedo e acabam não tendo experiências boas. Vale lembrar que ter contato com a música não significa só aprender um instrumento e saber ler uma partitura. Se a aula for chata, a criança com certeza vai se desinteressar. Cabe ao educador ou professor respeitar e acompanhar o desenvolvimento da criança, e introduzir o treino mais formal quando ela estiver mais madura.

Em nossa instituição, devido aos instrumentos que usamos, atendemos crianças a partir dos 7 anos de idade, pois a metodologia que aplicamos em nosso cotidiano requer que o aluno já seja alfabetizado ou que já esteja bem adiantado no processo de alfabetização.

Atualmente quantos alunos compõem a Osfer, e é possível matricular-se neste segundo semestre?

Atualmente, a Corporação Musical tem aproximadamente 160 crianças fazendo parte dos diferentes projetos da entidade e ainda consta uma lista de mais 60 alunos para ingressar nas aulas de flauta doce e violão até a segunda quinzena deste mês. Recebemos matrícula todos os dias e sempre damos um jeito de atender a demanda que nos procura. Quando não foi possível atender um aluno, devido os dias ou horários disponíveis do mesmo, esperamos a próxima oportunidade de turmas e comunicamos as fichas que ficam na lista de espera.

Como vê o poder de integração e ciclo dos jovens no que tange ao preparo deles para compor a banda principal no futuro?

Na verdade é a somatória de tudo que a instituição oferece para o aluno. Pois, além, da instrução musical ofertada e muito bem desenvolvida por nossos educadores musicais, todos os alunos participam de um programa sócio educativo, onde são orientados pela assistente social e pela psicóloga da instituição em diferentes vertentes do convívio social, chamado “Cultivando a Cidadania”.

Esse programa tem como finalidade complementar o trabalho social com as famílias e prevenir a ocorrência de situações de vulnerabilidade e risco social. Através desde projeto é desenvolvido o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, que é realizado em grupos, de modo a garantir aquisições progressivas aos seus usuários, de acordo com seu ciclo de vida. O projeto possui um caráter preventivo e proativo, pautado na defesa e afirmação de direitos e no desenvolvimento de capacidades e potencialidades dos usuários, com vistas ao alcance de alternativas emancipatórias para o enfrentamento das vulnerabilidades sociais. O foco é a oferta de atividades de convivência e socialização, com intervenções no contexto de vulnerabilidades sociais, de modo a fortalecer vínculos e prevenir situações de exclusão e risco social. Os grupos são organizados por faixa etária com o objetivo de prevenir possíveis situações de risco inerentes a cada ciclo de vida.

Você citou ainda, na apresentação de domingo, que levar um filho para a Osfer é uma decisão acertada e que vale a pena. Quais os ganhos reais na vida desse jovem, além de executar os instrumentos?

O benefício da música para crianças e jovens já foi apontado por vários estudos e nada mais justo do que os pais quererem oferecer essa possibilidade aos filhos desde cedo. No entanto, esse aprendizado não precisa acontecer somente dentro dos moldes tradicionais ou de uma maneira que acabe com toda a diversão e emoção que a música pode e deve proporcionar. Por isso, é importante ter o cuidado de onde, como e com quem seu filho estará estudando música. A disciplina que a música coloca na vida de quem a estuda traz grandes benefícios em sua vida escolar, pessoal e futuramente profissional, seja lá qual for a carreira que este jovem escolher. Quanto melhor músico ele for, melhor aluno ele se tornará, melhor filho e será e consequentemente um indivíduo extraordinário para a sociedade.

É certo que alguns têm mais facilidade de aprendizagem do que outros, mas como proceder com a turma de forma homogênea sabendo dessas particularidades? O método instrui a analisar caso a caso o nível de aprendizagem?

Na verdade, não existe uma forma homogênea de se trabalhar o ensino, seja ele musical ou pedagógico, pois cada indivíduo é único e cada um tem seu tempo e seu desempenho de aprender diferente. Por isso, é muito importante respeitar a individualidade de cada um, mesmo que as vezes o conhecimento dos alunos pode não corresponder ao esperado para a turma, mas essa variedade de níveis em um grupo tem de ser usada de forma produtiva. Existe uma grande troca de saberes entre eles e esse desafio de encarar cada um na sua individualidade e promover a interação entre as diferentes habilidades a favor da aprendizagem faz grande diferença, pois quem ensina aprende mais facilmente. Essa metodologia não vem descrita no método, mas por se tratar de um ensino coletivo, acredito que usar da coletividade em todos os momentos do ensino e aprendizado teremos resultados cada vez melhores.

 Para o pai que está em dúvida se introduz a música na vida do filho, qual seria o conselho do maestro Luís Fernando Paina?

Muitas vezes, e sem que se apercebam disso, são os pais quem introduzem desde cedo a música na vida dos seus filhos, com as mais diversas canções de embalar, tantas vezes inventadas na hora, com o intuito de acalmá-los e talvez por isso seja normal que a grande maioria das crianças associe sempre a música a algo de bom. Se sem querer os pais já os fazem por que não fazer de forma consciente?

O mais importante de se estudar música, for a diversão, a socialização e o prazer de fazer música, porém, enquanto nos divertimos desenvolvemos certas habilidades e competências que são úteis em diversos outros departamentos de nossas vidas. A lista de benefícios para quem faz música é bem grande e inclui melhorias em diferentes aspectos da vida do aluno como melhoria desempenho nas matérias do currículo regular, inteligência especial, criatividade, paciência, lógica; comportamento das crianças em salas de aula, concentração, ajuda no desenvolvimento emocional, diminui os sentimentos de ansiedade e o estresse, além de reforçar relacionamento interpessoal pela convivência em grupo.

Quais os dias e o local do ensaio? Há uma agenda de apresentação da banda jovem para este ano?

Temos aulas de segunda à sexta das 14hs às 17h30 e das 19hs às 21hs. Ensaios da banda jovem todas as quartas, 19hs às 20h30, na sede da OSFER. Próxima apresentação será dia 25 de novembro, no Teatro Municipal, às 20hs.