Adenir Alves: a voz padrão do rádio e da Festa do Motorista

20 de Agosto de 2025

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Adenir Alves: a voz padrão do rádio e da Festa do Motorista

Hoje, 25, Fernandópolis celebra mais uma edição da tradicional Festa do Motorista, uma das maiores manifestações de fé realizadas na cidade, que mobiliza milhares de motoristas em busca da benção de São Cristóvão, protetor dos motoristas. Como de costume, o ponto de concentração será na praça da Brasilândia, a partir das 17h, porém, algo tão tradicional quanto a própria festa, é a voz que narra o evento para milhares de ouvintes da Rádio Difusora, há 30 anos. Trata-se de Adenir Alves, a voz padrão do rádio, como ficou conhecido ao longo de seus mais de 50 anos de microfone. A participação de Adenir na festa é tão tradicional, que à boca pequena comenta-se que é mais “fácil faltar o padre do que ele na celebração”. E não é por menos. Seu carisma e profissionalismo o trouxeram para Fernandópolis há três décadas e desde então, não deixou de apresentar uma única edição do evento. Sua experiência o gabarita, sem dúvida, para falar da Festa. E é por isso que o entrevistamos.

Quantas Festas do Motorista o senhor já apresentou?

Se for contar pelo tempo em que estou na rádio Difusora, estou fazendo a festa há 30 anos, sem falhar nenhum ano. Na verdade, foi a Difusora que iniciou essa promoção e assim que cheguei à emissora já comecei a apresentar o evento. Antes de minha chegada, já haviam acontecido outras edições, mas depois da minha chegada, é que nós o oficializamos no calendário da rádio. Inicialmente a Festa era tocada apenas pela Difusora, depois é que quando a igreja Católica adquiriu a rádio Educadora Santa Rita, houve então uma parceria entre as duas emissoras que reforçou ainda mais a promoção. Desde então a Festa do Motorista passou por diversas formas de apresentação, de programação mais extensa, mas sempre, em primeiro lugar, notabilizando o lado que mostra a fé dos participantes, principalmente dos senhores motoristas, dos caminhoneiros, priorizando o respeito, a devoção e o agradecimento à proteção de São Cristóvão, cuja a história já é amplamente conhecida e todos os anos homenageada até pelas edições do Jornal CIDADÃO. Com o advento da rádio Educadora na promoção com a rádio Difusora, certamente que se tornou mais fácil até, mais prático realizar o evento. Cada uma com seus parceiros comerciais, mas com as equipes unidas em um só objetivo: divulgar e obter o maior número de participantes na celebração inicial da Brasilândia, na carreata, ou procissão motorizada, como muita gente interpreta, até a benção no Centro da cidade, na praça da Matriz.

A festa do motorista já passou por algumas modificações. No começo, tínhamos shows, uma espécie de quermesse e agora ela é mais voltada apenas para a parte religiosa. Conta para gente como que foi no começo, meio e como está agora...

No início nós tínhamos muito a participação da antiga Verdiesel, que hoje não está mais no mercado. À época, ela dava um suporte financeiro muito grande para a festa e com isso conseguíamos trazer grandes nomes da música sertaneja para se apresentar após a procissão. Para se ter uma ideia, nós já trouxemos para a Festa do Motorista o Rick & Renner, quando o Rick já era um compositor com músicas gravadas por outros grandes nomes da música sertaneja. Ele já esteve aqui na festa do motorista, cantando ali na praça (Matriz). Outra dupla que passou por aqui no começo da carreira foi Guilherme & Santiago, além das apresentações locais. É importante destacar também que nós contamos sempre com a colaboração da Paróquia Santa Rita de Cassia, inicialmente lá da Brasilândia, com a missa campal de frente a igreja São Luiz Gonzaga, onde se faz a benção de documentos e chaves, sempre com um grande público, um grande número de famílias assistindo, onde pode se perceber que está todo mundo concentrado na oração, na celebração que o sacerdote comanda, junto com o coral lá do pessoal da Brasilândia, que é uma apresentação muito simpática da parte dos moradores da comunidade e aqui no Centro, onde nós temos a benção propriamente dita dos veículos, com a passagem pelo padre que vai aspergindo água benta em todos os veículos que passam pelo local. É o buzinaço, é o som do carro ligado nas emissoras em alto volume e um detalhe importantíssimo de todas as festas do motorista é que nunca tivemos, em todo esse tempo, nenhum acontecimento que viesse manchar o brilho da festa, que pudesse entristecer a celebração, nenhum acidente, ou seja, a benção de São Cristóvão começava logo ali (risos).

O trajeto da procissão motorizada foi sempre o mesmo?

Já tivemos algumas mudanças, mas em via de regra o trajeto sempre foi o mesmo. Certa vez, não me recordo por qual motivo, nós fizemos a chegada para a benção, na Praça da Aparecida. A ideia era chegar aqui no Centro, pegar um trecho da Rio Grande do Sul, cruzar a avenida dos Arnaldos e pegar a Francisco Costa, para chegar na mão normal da igreja da Aparecida. Mas, muita gente acabou não tomando conhecimento desse trajeto e acabou atravessando pela rua Minas Gerais e saindo do outro lado, então conforme os veículos circundavam a praça, tinham que sair pela Bahia, para depois virar à direita, então entrava um veículo daqui e outro de lá (risos), mas graças a Deus, apesar deste transtorno, também não tivemos nada a lamentar. Aí, no ano seguinte, voltamos para o trajeto original para evitar mais confusão. 

E por que o senhor acredita que mesmo nos dias de hoje, depois que algumas tradições religiosas acabaram perdendo espaço, a Festa do Motorista continua levando tantas pessoas para as ruas? É a força do rádio?

Sem dúvida é a força do rádio. Mas também é possível definir essa situação em uma palavra: fé. A pessoa que participa continua com uma fé inabalável na figura de São Cristóvão, como protetor dos motoristas. Tem pessoas e empresas que se programam para poder permanecer em Fernandópolis para poderem participar da festa. O que move essas pessoas é a fé em São Cristóvão. E com esse trânsito violento que nós temos no Brasil, que mata mais do que as guerras pelo mundo afora, a gente precisa realmente se apegar ao protetor dos motoristas e outros santos também.

O senhor é devoto de São Cristóvão?

 Sou devoto, fã, admirador, e aficionado também em Nossa Senhora Aparecida, que para mim é a mãe morena do Brasil e eu preciso falar isso porque em outros tempos, outras áreas como profissional do microfone, sempre tive uma louvação muito grande por Nossa Senhora Aparecida, que é reconhecida oficialmente como padroeira do Brasil. Só que não vou falar muito aqui de Nossa Senhora porque senão São Cristóvão vai ficar com ciúmes (risos).

Mas o senhor sempre foi devoto de São Cristóvão, ou essa devoção começou a partir do momento em que começou a apresentar a festa do motorista?

Bom questionamento. Sempre fui, mas sem dúvida ela aumentou e muito depois que passei a acompanhar o evento.

Depois de tantos anos de trabalho e do respeito que conquistou através deles, o senhor poderia estar hoje em casa, descansando, tomando café e assistindo TV, porém, continua a encampar essa missão. Pretende seguir nessa tarefa enquanto força tiver?

Sem dúvida alguma. Até porque se eu ficasse ‘tranquilão’ em casa, quem iria ficar intranquilo seriam os meus credores (risos). Na verdade, a gente tem que gostar do que faz e eu realmente gosto do que faço. Comecei no rádio com 17 anos, na época em que se fazia concurso para contratação da pessoa mais indicada e eu concorri com vários outros candidatos quando eu comecei na área. Eu sempre me interessei no rádio a não fazer apenas uma determinada função, se bem que eu comecei no rádio como redator, como locutor e noticiarista. Naquela época, a única forma que tínhamos de pegar as notícias nacionais era escutando as outras grandes emissoras, o que a gente chamava de compilação. Hoje o mundo é completamente diversificado, com internet e tudo mais. Enfim, eu faço o que faço porque eu gosto e principalmente na festa do motorista, pois é um aspecto que nunca deixei e não quero deixar de fazer.

Já pensou em parar?

Não. Até porque eu sempre estou de bem com a vida, pela família que tenho, pelos amigos que tenho. Fernandópolis me recebeu de braços abertos há 30, eu não sei te falar com quantas pessoas converso na rua por dia, nos locais onde vou, estabelecimentos comerciais e sempre sou conhecido por esse aspecto, de pertencer ao setor de comunicação da cidade. Até mais recentemente, todo mundo sabe, eu abdiquei de horário diário no rádio para me dedicar mais a área comercial, mas eu nunca fujo de uma latinha, que é como a gente chama o microfone. Apresentar a festa do motorista é uma satisfação que eu tenho, inclusive este ano eu deixei de ir a um evento fora de Fernandópolis, para o qual fui convidado, para poder permanecer aqui na festa do motorista. Não abro mão, enquanto forças tiver e saúde Deus me der, eu estarei participando da festa. Mesmo que por algum motivo ou outro, algum dia eu não esteja trabalhando no rádio, farei questão de participar junto com a população, pois é uma coisa muito bonita. A fé é algo que marca muito a minha vida e acredito que a vida da maioria dos brasileiros, basta analisar a quantidade de religiões que temos por aí e mesmo assim conseguimos conviver harmonicamente. Tenho clientes que não são católicos, que suas religiões não acreditam em santos e mesmo assim todos os anos fazem questão de patrocinar por conta dessa manifestação de fé que é a Festa do Motorista.

Acredita que essa tradição perdure por muitos anos ainda?

Acredito que sim. Vai depender de vocês, mais jovens, que estão no rádio agora, seja na Difusora ou na nossa coirmã Educadora, para manter essa chama da fé acesa e isso depende do coração de cada um de vocês. É como você mesmo destacou, hoje até mesmo as datas religiosas importantes da Igreja Católica perderam um pouco o número de participantes. Mas, com relação a essa festa, não vejo apenas pelo lado do catolicismo, as pessoas vão mesmo pela grande manifestação, empresas mandam seus motoristas, os ‘cargas pesadas’ como a gente fala.

O senhor está há 30 anos em Fernandópolis. Quanto tempo no rádio?

Já são 50 anos. Para permanecer na comunicação você tem que ser eclético, fazer coisas novas. E eu sempre fui convidado a fazer coisas novas no microfone, não apenas no rádio, coisas que você exercita sua força na comunicação, como por exemplo, fazer apresentações. Fiz a parte de locução comercial da Expô por 14 anos (locutor de palco), além de outras centenas de festas em estados vizinhos, inclusive. Além disso, outra atividade que fui convidado em 1988, foi para ser leiloeiro rural. Enxergaram condição essa possibilidade pela potência de voz, uma voz limpa de se ouvir, fácil de entender e, inclusive, sou credenciado como leiloeiro oficial pela FAESP – Federação da Agricultura do Estado de São Paulo. Procurei fazer de tudo no rádio, jornalismo, programa musical, repórter policial, narrador esportivo. Comecei como repórter volante, depois me colocaram para narrar um jogo, quando eu trabalhava em Jales. Senti interesse e vi que tinha possibilidade de narrar também. Nessa condição trabalhei por muito tempo acompanhando o FFC – Fernandópolis Futebol Clube. Quando encontro o Tato (ex-centroavante), por exemplo, em nossas caminhadas, eu digo: ‘Tato, meu amigo, o pai herói’, e ele responde: ‘Adenir Alves, a voz padrão do rádio’. Acompanhei verdadeiras batalhas esportivas do clássico Fervo (FFC e Votuporanguense). Sou do tempo em que um dos craques do FFC era o Soares. No microfone sempre tivemos a mescla de fazer várias coisas. No rádio hoje não se faz apenas uma coisa. Depois de um tempo me defini mais na área comercial, mas sonhar com os tempos de microfone, as grandes transmissões, locais onde a gente passou é uma coisa que fica, parte da sua vida, que está na sua memória para sempre.