Betão Alcântara e a nova “cara” do FFC

20 de Agosto de 2025

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Betão Alcântara e a nova “cara” do FFC

Contas em dia, estrutura bem montada, apoio de parte do empresariado fernandopolense, torcida participativa, ou seja, tudo o que em tese seria necessário para um campeonato ímpar do FFC – Fernandópolis Futebol Clube. No entanto, algo não se encaixava. Dentro de campo, os jogadores pareciam não estar dando o melhor de si e as cobranças da torcida logo vieram. O ex-treinador Carlinhos não aguentou a pressão e pediu para sair. Para assumir o comando da equipe, a diretoria do clube fez questão de buscar um treinador experiente e Betão Alcântara encarou o desafio.  Se apatia dentro de campo era a principal reivindicação da torcida, disso eles não tem mais do que reclamar. Desde que Betão assumiu, a equipe está de cara nova e de coração também. Dedicação do primeiro ao último minuto, marcação firme e vontade de mostrar trabalho. Parece estranho, mas estamos falando dos mesmos jogadores de outrora, só que agora sob novo comando. Carlos Roberto Cardoso de Alcântara já treinou diversos clubes e chegou ao Fernandópolis mostrando à que veio. Dos 12 pontos que disputou, levou oito para casa, sua defesa não tomou nenhum gol e seu ataque marcou sete vezes. Se continuar assim, a classificação está à caminho.

O senhor chegou ao Fernandópolis e deu outra cara ao time. Qual a primeira carência que identificou e qual a melhor solução que encontrou para ela?

O maior problema que diagnostiquei na equipe foi a forma de marcação. Nós tínhamos uma marcação muito preguiçosa e nessa divisão não se pode jogar dessa forma, pois jogando assim acaba-se chamando o adversário para cima. Então mudamos essa postura de marcação, hoje nossa equipe marca com bastante intensidade, isso é muito importante. Depois disso, reorganizamos o setor defensivo. O FFC era um time que tomava muitos gols, errava muito nas saídas de bola e então ajustamos isso, mudamos essa maneira de conduzir ali atrás e graças a Deus tem dado certo, já são quatro jogos sem tomar nenhum gol. 

Seu aproveitamento frente ao time tem sido bastante elogiado pela torcida, ainda mais após os 6 a 0 do último domingo, sobre o Bandeirante. Como conseguiu organizar o time, que não vinha bem, em tão pouco tempo?

Acho que mudou a atitude dos jogadores. Treinador não ganha jogo sozinho, é lógico que ele é uma peça importante nessa engrenagem, mas o principal trabalho dele é passar para os jogadores a confiança que eles necessitam para jogar, mostrar para eles que aquilo que nós (treinadores) fazemos, falamos e mostramos, pode surtir efeito positivo dentro de campo e assim conquistar a confiança deles. A partir disso, as chances das coisas darem certo são muito grandes e felizmente eu peguei um grupo comprometido, que estava com a alto-estima baixa, estava desanimado, sem confiança, é verdade, mas extremamente comprometido com o propósito e por conta disso, conseguimos resgatar essa confiança do grupo. Alguns jogadores que não vinham nem sendo relacionados, hoje são jogadores fundamentais no nosso trabalho e aos poucos fomos agregando essas coisas positivas.

É sabido que é impossível fazer milagres sem um elenco de qualidade. Como classifica seu plantel e para quais posições seriam necessários reforços para a segunda fase, caso o time se classifique?

Você não gosta de mim não, né (risadas)? Brincadeira. Eu diria que temos um elenco reduzido. Perdemos algumas inscrições, como foi o caso do Müller e do Alex Dias, que foram muito importantes para o projeto, sem dúvida alguma, mas acabamos perdendo essas fichas e agora temos algumas posições no elenco que realmente são carentes. Acredito que um elenco deva ter no mínimo dois jogadores para cada posição do mesmo nível ou pelo menos semelhante, para que tenhamos disponíveis essas peças de reposição. Encontramos essa dificuldade principalmente no setor ofensivo, onde nós temos somente um atacante de área e o Ceará que está no departamento médico e não sabemos quando estará disponível. Diante disso estamos encaixando algumas peças. No último jogo nós demos uma oportunidade para um dos garotos da base, o Lukinha e ele vinha treinando muito bem, entrou bem, fez gol e acredito que ele vá ajudar nessa reta final. É dessa forma que a gente trabalha. 

O elenco estava desmotivado antes de sua chegada? Há uma relação de confiança entre o senhor e os jogadores?

Sim. Estava muito desmotivado, tanto é que no primeiro dia que cheguei ao clube, pedi para o nosso auxiliar técnico, o Junior, que fizesse um treino coletivo para que eu pudesse assistir e conhecer o elenco. Nesse dia eu vi um treino muito morno, um treino onde a motivação era praticamente zero. Alto-estima dos jogadores, como eu disse, estava em baixa e a partir dali eu já tive uma ideia do que eu teria que fazer para mudar esse astral. Desde então começamos a trabalhar duro, com firmeza. Comigo o treino tem hora para começar, mas não tem hora para terminar e agora os jogadores sabem que têm que trabalhar pesado, afinal nós temos um clube que cumpre com suas obrigações e por isso temos que retribuir e dar o nosso melhor sempre.

O senhor demonstrou que não abre mão de um time aguerrido durante os 90 minutos. Diante do Bandeirante, mesmo já vencendo por 5 a 0, o senhor não parou de gesticular e gritar com os jogadores. Nessa divisão, a raça tem sempre que prevalecer à técnica?

As duas tem que andar juntas, mas independente da divisão eu gosto de uma equipe aguerrida. Como atleta eu fui um jogador bastante aguerrido e é dessa forma que eu gosto da minha equipe. Em Birigui, nós estávamos ganhando o jogo, por 4 a 0 no primeiro tempo, mas a gente não pode parar de falar, de orientar, de cobrar, pois o jogador de futebol é muito sossegado, quando você começa a dar muita abertura ele acaba deixando de fazer aquilo que você trabalha e aquilo que você pede e é dessa forma que eu trabalho, eles gostem ou não. Sempre digo a eles, aqui não tem nenhum jogador melhor que o outro, não há proteção, vai jogar aquele que realmente se doar ao time o tempo todo. Eles entenderam isso e hoje eu estou muito satisfeito com esse elenco, claro que podemos melhorar e muito ainda, mas eu estou satisfeito porque o grupo de atletas entendeu a nossa filosofia de trabalho e está levando à risca tudo aquilo que a gente pede.

O senhor também demonstrou que privilegia uma equipe compacta, que não desguarnece a defesa. No entanto, o time busca o gol a todo momento. Na próxima fase, este padrão será mantido?

 Será mantido sim, o que precisamos é melhorar a qualidade no arremate final. O Fernandópolis é um time que cria diversas oportunidades, como foi o exemplo do jogo contra o Noroeste, onde nós criamos quatro ou cinco chances claras e não conseguimos fazer o gol para dar tranquilidade, já que estávamos ganhando de apenas 1 a 0. Temos que manter essa postura e melhorar o arremate. Agora esse trabalho de compactação ajuda bastante. É uma forma dos jogadores correrem menos. Quando se tem um time bem organizado e compactado tanto na parte defensiva quanto na ofensiva, o desgaste do jogador é menor. Ao invés dele ter que dar um pique de 30 a 40 metros, ele dá um tiro curto ali de dez a 15 metros no máximo e isso acaba ajudando bastante na parte física. É por isso que nossa equipe tem tido uma intensidade de jogo muito grande e tem conseguido terminar os jogos inteiro fisicamente. Lógico que nisso conta ponto o trabalho do Ricardo (Guareschi – preparador físico do FFC), que indiscutivelmente é fantástico e dentro dessa minha forma de trabalho se a equipe estivesse ruim fisicamente seria impossível suportar essa intensidade que jogamos o tempo todo.

Em qual técnico de expressão, o senhor se espelhou quando decidiu seguir essa carreira? E atualmente, qual se assemelha ao seu perfil?

No início da minha carreira, sem dúvida alguma, taticamente falando eu me espelhei no Cilinho, pois taticamente foi o melhor que eu vi. Depois dele eu admirei muito o Tele Santana, que foi um gênio, e mais recente o Muricy Ramalho. Acho que eu carrego bastante o estilo do Muricy, no que diz respeito a entrega no trabalho, no comprometimento com o clube a cobrança aos jogadores, mas sempre com muito respeito, tanto é que não tenho problema nenhum de indisciplina com meus atletas, porque tratamos os jogadores com muito respeito e educação. Mas hoje o meu grande espelho, a quem procuro acompanhar, pois vejo como o melhor do mundo é o técnico do Chile Jorge Sampaoli.

O senhor já passou por diversos clubes, como classifica a estrutura montada pelo FFC para a disputa do Campeonato Paulista deste ano?

Como uma surpresa agradável. Assim que recebi o convite para vir para o clube já busquei informações e tomei conhecimento do que já havia acontecido aqui no passado, em anos anteriores, quando as coisas aqui não andavam como deveriam. Porém, quando cheguei ao clube percebi que eu esperava uma realidade e encontrei outra totalmente diferente, superior a muitos clubes que se intitulam como grandes. Fiquei impressionado com a lisura das pessoas, da postura deles (diretoria) em termos de credibilidade na cidade, credibilidade com o grupo e da forma com que trabalhavam. O FFC é um clube que cumpre com suas obrigações, que dá uma condição de trabalho muito boa e o projeto é muito bom e eu acredito que se Deus abençoar e nós conseguirmos o acesso esse ano, o FFC vai voltar a brigar por grandes títulos no futuro, desde que se mantenha essa filosofia de trabalho que eles implantaram aqui. Estou muito satisfeito, muito feliz em estar aqui e fazer parte desse projeto.

Por várias vezes a equipe voltou mais organizada após o intervalo. É preciso ser um pouco psicólogo para lidar com jogadores tão jovens?

Totalmente. A psicologia é muito importante e eu trabalho muito nesse sentido. Um jogo típico dessa mudança de postura que você citou foi o jogo contra o Noroeste. Naquela oportunidade nós entramos muito pilhados no primeiro tempo, a motivação acabou passando do limite e isso acabou atrapalhando na organização das jogadas, na hora de se pensar no que tinha que ser feito e por isso acabamos nos perdendo bastante dentro de campo no primeiro tempo. Fomos para o intervalo e esse tempo serviu para tirarmos um pouco dessa pilha e desse nervosismo, colocar algumas situações que poderiam acontecer e quando voltamos conseguimos fazer o melhor segundo tempo, na minha opinião, do time até o momento.

Como manter esse espírito vencedor que o time demonstrou nos últimos jogos, até o fim do campeonato?

Mostrar para eles que nós estamos empregados. No futebol hoje, só o fato de estarmos empregados já é uma vitória. Hoje nós temos quase 25 mil jogadores desempregados em todo Brasil, muitos treinadores e preparadores físicos também estão desempregados e é por isso que sempre digo a eles que temos que valorizar o nosso emprego, valorizar o que Deus nos deu, valorizar o torcedor que é apaixonado por esse clube e acaba se apaixonando pelo nosso trabalho e é por isso que temos que fazer por merecer estarmos aqui.

Antes de sua chegada, o lateral direito Maurinho, que já defendeu os principais times do país e até a seleção brasileira, era titular absoluto. Após uma lesão, ele acabou indo para o banco e Lucas Bocão, que assumiu seu lugar tem se destacado nos últimos jogos. Depois de sua completa recuperação, Maurinho deverá voltar ao time? Em qual posição?

O Maurinho é um jogador que dispensa comentários, um jogador que tem um currículo fantástico no futebol, que adora o FFC, adora essa cidade, o clube, um jogador comprometido com tudo isso aqui que estamos vendo. Quando eu cheguei ele ainda estava à disposição. Jogou junto com o Bocão, só que em outra posição e depois acabou se machucando, não pode participar da semana de trabalho que antecedeu o jogo contra o Noroeste e mesmo assim optamos por trazê-lo para o banco, pois era um jogo importante, precisávamos de um jogador experiente e ele entrou em um momento crucial do jogo, onde precisávamos manter a posse de bola e ele fez isso muito bem e mais uma vez por lesão, acabamos perdendo ele para este último jogo e talvez não o tenhamos para o jogo de hoje. No entanto, ele é um jogador muito importante e quando ele estiver 100% sem dúvida alguma voltará a ajudar o Fernandópolis. 

O FFC tem time para ser campeão da Segundona deste ano?

Sinceramente, hoje não. Temos time para classificar para a segunda fase e com os quatro reforços que poderemos trazer após a classificação seremos sim os favoritos ao título, até porque contaremos com a torcida que será nosso 12º jogador e quando se joga com 12 se tem grandes chances de vencer o adversário.