A merendeira Márcia Maria Mendes protocolou no última segunda-feira, 6, uma representação criminal contra o motorista da secretaria municipal de Educação, Renato Alessandro de Oliveira, por um suposto crime de ameaça. Segundo ela, as ameaças teriam ocorrido após suas declarações na CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito -, que apura denúncias de superfaturamento na merenda escolar.
Na representação, Márcia afirmou que Renato a surpreendeu em seu trabalho, no dia 22 do mês passado, por volta das 16h, e teria dito que se ela não desmentisse seu depoimento, poderia sofrer um mal grave. “Você poderá amanhecer com a boca cheia de formigas a qualquer hora, porque está mexendo com gente grande”, teria dito a ela, o motorista.
O depoimento que Renato queria que ela desmentisse, de acordo com a representação, é o que Márcia afirma que certa vez o motorista teria a confidenciado que iria levar e enterrar carne estragada da merenda.
Diante da denúncia, os vereadores que fazem parte da CPI teriam questionado o motorista sobre a veracidade dos fatos e após negar em depoimento, teria se revoltado e procurado a merendeira para lhe ameaçar.
“Disse mais o servidor, aduzindo que haveria uma acareação entre as partes na CPI e que se não voltasse atrás no que disse estaria correndo sérios riscos e, mais, que a senhora prefeita havia advertido a todos os servidores que, eventualmente, poderiam ser mandados embora, se falassem demais na CPI. Daí por diante, toda vez que o representado passa pela representante, dirige-lhe olhar ameaçador, para naturalmente incutir-lhe temor”, afirmou a merendeira na representação.
Apesar da ameaça ter ocorrido supostamente no dia 22, Márcia não informou em sua representação os motivos que a levaram a declarar os fatos apenas duas semanas depois do ocorrido.
OUTRO LADO
Procurado por CIDADÃO, Renato de Oliveira, motorista efetivo da Prefeitura há dez anos, disse que nunca ameaçou a merendeira e que ela, é que estaria lhe procurando para lhe orientar sobre o que deveria falar em seu depoimento.
“Minha filha, que estuda na escola que a Márcia trabalha, chegou em casa dizendo que ela não parava de a procurar pedindo para que passasse meu telefone para ela, me chamando de ‘negão’, que só eu prestava na secretaria de Educação, pois queria falar comigo sobre meu depoimento na CPI da merenda. Minha esposa ouviu minha filha falando isso e ficou brava, é claro, outra mulher chamando o marido dela de ‘negão’ e pedindo o telefone. Por causa disso é que eu fui procurar a Márcia e só pedi para que ela parasse de procurar minha filha, que ela não tinha nada a ver com o assunto. Foi só isso”, afirmou Renato.
O motorista afirmou ainda que nunca falou com ela sobre enterrar carne estragada, até porque ele não transporta carne.
“Eu não carrego carne, nem posso, pois, o caminhão não é refrigerado. Mal conheço essa mulher, o único contato que tenho com ela é quando entro para deixar os alimentos nas escolas e quando saio. É oi e tchau. Depois que deixo os alimentos nas escolas a responsabilidade é das cozinheiras de prepará-los. Se algo estraga, a responsabilidade de se desfazer dos produtos é delas e não minha. Nunca levei carne estragada de escola alguma para lugar algum. Isso é mentira”, completou.
Ainda de acordo com Renato, seu irmão, que também trabalha na secretaria da Educação teria presenciado tudo, assim como outros adolescentes teriam presenciado o dia em que a merendeira assediou sua filha para que a mesma lhe passasse seu telefone.
“Quem me conhece sabe da minha índole e sabe que jamais seria capaz de ameaçar ninguém. Meu irmão estava comigo no dia em que fui levar alimentos na escola que ela trabalha e chamei ela para pedir que parasse de procurar a minha filha. Meu irmão é pastor há 30 anos, todo mundo o conhece e ele não tem para quê mentir. E tem mais, algumas coleguinhas da minha filha estavam juntas com ela no dia em que a Márcia ficou me chamando de ‘negão’ e pedindo meu telefone”, concluiu.
NA TV
Uma nova vertente das investigações foi ao ar pela afiliada da rede Globo na região. Dessa vez, a denúncia era de falta de alimentos na merenda, sustentada pela mesma merendeira que acusou Renato de tê-la ameaçado.
“Ficamos três meses sem feijão, extrato de tomate não estava vindo, a ordem que a gente tem é que para fazer o que tem”, disse Márcia em entrevista à TV Tem.
Também em entrevista ao canal de televisão, o presidente da CPI, Gustavo Pinato afirmou que o relatório deverá ser concluído nos próximos dias e enviado ao plenário.
“Poderia te adiantar é a compra, o pagamento e a não entrega dos alimentos, mas isso é uma suspeita que certamente o relator deverá apresentar ou não no relatório final que será apresentado em plenário”, destacou.
Ainda em entrevista, Pinato afirmou que a CPI poderá acabar em cassação. “Se aprovando o relatório já monta a CP, que é a Comissão Processante, que aí sim, terá que apresentar outro relatório, sobre a inocência da prefeita ou acusada se for para plenário e aprovado ela poderá até ser cassada”, concluiu.
REAÇÃO
Em seu gabinete, a prefeita afirmou que estão usando pessoas de bem como “bode expiatório”, o que ela classifica como uma armação baixa e burra.
“Estão mexendo com gente séria, honesta. Colocar o meu nome no meio dessa sujeira eu até compreendo, afinal sou uma pessoa pública e quando coloquei o meu nome à disposição da população, sabia que estava sujeita a esse tipo de coisa. Agora pegarem uma pessoa trabalhadora, honesta e jogarem o nome dele na lama, o colocando como bandido é uma armação burra e inadmissível. Quem conhece esse menino (Renato) e sua família sabe que ele é incapaz de fazer uma coisa dessas. Esse tipo de coisa me revolta”, afirmou a prefeita.
Ainda segundo Ana Bim, trata-se de uma atitude desesperada de denegrir a sua imagem. “Devem ter feito pesquisas eleitorais e descoberto que mesmo com todas as dificuldades financeiras que encontramos o município, a população continua confiando no nosso trabalho. Não encontraram nada nessa CPI, porque não há nada de errado e por isso estão partindo para esse jogo sujo. O palanque para as eleições do ano que vem já está montado e, para eles, Fernandópolis que se dane”, concluiu.
CARÁTER RESERVADO
Um termo de deliberação, assinado no final da tarde de quarta-feira, 8, pelos membros da Comissão Parlamentar de Inquérito, que investiga denúncias de superfaturamento na Merenda Escolar do município, acabou revogando o caráter reservado dos depoimentos testemunhais.
Segundo o termo, assinado pelos vereadores Gustavo Pinato (presidente); Rogério Pereira da Silva (Vice-presidente); Francisco Arouca Poço (relator); e advogado Antonino Sérgio Guimarães, o caráter reservado dos depoimentos foi mantido até o presente momento para preservar o conteúdo dos mesmos em benefício do desenvolvimento satisfatório dos trabalhos da CPI, de forma a não prejudicar o andamento das investigações, e que, após a conclusão das audiências para oitivas dos depoimentos testemunhais, a CPI já atingiu os seus objetivos desta fase de investigações.
A Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar denúncias de superfaturamento na Merenda Escolar foi constituída e nomeada em 28 de abril de 2015.