A possível punição por parte da Câmara Municipal ao vereador Valdir Pinheiro (PP) – por quebra de decoro, só será definida na segunda-feira,22. Os vereadores se reuniram na tarde de quinta-feira, 18, a pedido do presidente da Câmara André Pessuto para falar sobre o assunto, no entanto, a reunião do Conselho de Ética, que analisará se houve ou não quebra de decoro parlamentar, será realizada apenas na segunda-feira, 22, segundo o vereador Maurílio Saves, que preside o Conselho.
“Nós vamos ouvir a gravação do discurso dele e a entrevista que ele concedeu a um jornal da cidade. Só a partir daí vamos decidir o que será feito”, disse Saves, que não participou da reunião de quinta-feira.
Se seguir os mesmos critérios utilizados no caso mais recente de “possível” quebra de decoro, a punição a Valdir Pinheiro, mais uma vez, não passará de um “puxão de orelha”. Pinheiro já fora advertido outras cinco vezes por explanações confusas e exageradas em tom irônico e por vezes ofensivo.
Em novembro no ano passado, o Conselho de Ética julgou o vereador Rogério Pereira da Silva, o Chamel, que chamara a prefeita Ana Bim de “jumenta” e “jumentinha”, na tribuna, no dia 5 de agosto daquele ano. No entanto, mesmo com a ofensa e com toda repercussão que o caso gerara, o relator do Conselho Étore José Baroni surpreendeu ao pugnar pelo arquivamento do caso, uma vez que, segundo ele, “não há de se falar em desrespeito aos padrões de moralidade e decoro desta edilidade na conduta imputada ao denunciado”.
Resta saber se o fato de os próprios vereadores, desta vez, terem sido alvo das ofensas de Pinheiro surtirá alguma punição mais grave que em relação às ofensas de Chamel à prefeita.
O DISCURSO
Na sessão da última terça-feira, 16, o vereador Valdir Pinheiro, em um emaranhado de ideias, falou sobre vários assuntos e repetiu por várias vezes ser iluminado de Deus e que possuía até mesmo uma foto para provar a afirmação. Segundo ele, falta homens de Deus na cidade e que as brigas no legislativo impedem o progresso da cidade. “Chega de enganação, vamos ser realistas. A gente não faz nada porque a gente só briga demais. É com amor que se consegue as coisas. Nós vereadores precisamos parar de ter ciúmes e parar de gozação”, esbravejou Valdir Pinheiro.
Antes do discurso mais acalorado, durante explicação de uma indicação, ele se irritou após o vereador Gustavo Pinato avisar que seu tempo na tribuna já havia excedido, uma vez que o cronômetro não havia sido ativado pelo
A
primeiro secretário Arnaldo Pussoli. “Por que você está perguntando se já deu o tempo, está com ciúmes?”, questionou Pinheiro.
Já irritado com Pinato e após ouvir os murmurinhos vindos do plenários que o classificava ironicamente de “Zé Nogueira” - popular ex-vereador da cidade conhecido por seu jeito simples, quase simplório e pelos discursos engraçados com deslizes na língua portuguesa-, Valdir Pinheiro atacou os colegas vereadores. “Nossa cidade não prospera porque não tem homem de Deus, que faz coisas que devia fazer com a mãe deles, com a filha, com a neta... Conheço gente que está no poder e que é malandro, que xinga o povo. Quando fiz o projeto de economia de água fizeram audiência pública, mas porque que para votar o aumento de salários não fizeram? Nas reuniões mandavam eu ser favorável ao aumento que logo o povo esqueceria os que votaram a favor. Mas o povo conhece os malandros. Quem trabalha na Prefeitura e tem um pouquinho de dinheiro tem mais facilidade em ganhar a eleição”, criticou ele, que intimou os vereadores a fazerem um projeto reduzindo o salário para dois salários mínimos.
Pinheiro ainda citou outros projetos e obras emperradas e disse que deixará os colegas envergonhados ao conseguir uma emenda parlamentar com um deputado de seu partido para construção de portais nas entradas da cidade. Já em relação à comparação com o personagem folclórico “Zé Nogueira”, Pinheiro foi enfático. “Eu não sou Zé Nogueira não. Sou instrutor de mecânica e uso até esse anel aqui. Não tenho sabedoria porque vim de família pobre. Tem muitos homens honestos aqui e garanto que a cidade seria melhor se tivesse mais ‘Zés Nogueiras’”, destacou.
Após discorrer por vários temas, ainda com ideias confusas, ele finalizou sua fala pedindo o fim das brigas e deixou uma mensagem otimista. “Não fiquem de gozação comigo não. Parem com esse brigueiro que isso é feio. Não me deixam mais falar que Jesus é poderoso, mas vou provar que seremos os melhores vereadores da história e os ruins serão destacados. Roupa suja se lava em casa. Peço desculpas àqueles que não conseguem entender, mas o amor sempre vencerá”, finalizou.
Com a cabeça mais fria, durante a semana Valdir procurou o CIDADÃO e disse não temer uma punição. “Falei até em renunciar ao cargo caso quisessem me cassar, mas as pessoas na rua me encorajaram a lutar até o fim. Me interpretaram mal. Não quis dizer que são malandros”, disse.