Quem acompanhou da praça Joaquim Antônio Pereira ou pela transmissão ao vivo da Rádio Difusora, o ato cívico em comemoração ao aniversário de Fernandópolis, no último dia 22, se assustou ao ouvir o discurso preocupado do juiz fernandopolense Heitor Katsumi Miura.
Em sua fala, Miura declinou a seguinte frase: “Nesse ano, nesse mês e talvez nas próximas semanas teremos um embate muito duro e eu convido, aliás, convoco as autoridades, as lideranças para tentar manter e garantir o futuro dessa cidade. O futuro de Fernandópolis está ameaçado e se essa ameaça não for combatida de forma bastante incisiva, fará com que a cidade regrida 30 anos”.
Espantados, os convidados, autoridades e participantes do evento iniciaram os cochichos para saber o que poderia ser tão grave a ponto de ocasionar o declínio de Fernandópolis. Poucos dias depois, a resposta que todos temiam veio à tona: A FEF – Fundação Educacional de Fernandópolis –, está por um fio.
A preocupação e as palavras do juiz não foram exagero. Se de fato a Fundação pedir insolvência como chegou a ser cogitado, dezenas de professores e funcionários da instituição perderão seus empregos, os mais de quatro mil alunos da faculdade, terão que procurar vaga em outras instituições de ensino e o setor de comércio e serviços – que mantém a economia da cidade – perderá uma de suas principais fontes de renda.
O PROBLEMA
Além do setor de ensino superior estar passando por uma de suas maiores crises, em decorrência dos problemas com o FIES, inadimplência, etc, o orçamento da FEF está engessado por conta do pagamento de indenizações trabalhistas fixadas pela justiça.
De acordo com o administrador judicial da Fundação, Titosi Uehara, a receita mensal da instituição é de cerca de R$1,6 milhão. A inadimplência mensal está girando entorno de 35%, ou seja, de R$ 1,6 milhão a receita cai para aproximadamente R$1,04 milhão.
Acontece que só com as ações trabalhistas, a FEF está tendo que despender de R$540 mil mensais. Sendo assim, resta à Fundação apenas o montante de R$500 mil para honrar com os salários dos professores e funcionários, suprir a manutenção do campus (água, luz, telefone, etc) e demais pagamentos como dívidas bancárias e contratuais.
A escassez de recursos já está inviabilizando os trabalhos, inclusive ocasionando o atraso no pagamento de salários dos professores e funcionários da faculdade e a única saída seria pedir a insolvência.
A SOLUÇÃO
No entanto, como os efeitos de uma insolvência seriam catastróficos, o grupo de interventores (Titosi Uehara, Antônio Carlos Cantarela, José Poli e Antonio Batista Cezar) encontrou uma possível saída e pediu o apoio da sociedade para alcançá-la.
Eles montaram um processo, onde com a anuência dos credores dessa dívida trabalhista, será pedida a dilatação do prazo para a quitação do débito, o que daria folego à instituição.
“Não queremos tirar o direito de ninguém, muito pelo contrário, a única coisa que pedimos é para que se alongue o prazo, pois assim a parcela seria menor e sobraria um pouco mais de dinheiro em caixa para satisfazer as necessidades do dia-a-dia, inclusive salário dos funcionários, que é fundamental para nós”, explicou Titosi, que abriu mão de sua própria remuneração para colaborar com a Fundação.
A alternativa já foi explicada aos funcionários da instituição e aos sindicatos dos professores e funcionários da Fundação. Os dois sindicatos e 100% dos funcionários e professores da ativa já aceitaram o acordo. A grande dificuldade está em encontrar e convencer os ex-funcionários.
“Eu realmente faço um apelo aos ex-funcionários para que nos ajude nessa iniciativa. Sei que muitos deles saíram desgostosos, magoados lá da FEF, por um motivo ou outro, mas vamos esquecer o passado, pensar no futuro de nossa Fundação e da cidade e dar mais uma parcela de contribuição para FEF, como vocês sempre deram, pois sempre foram os funcionários e professores que praticamente carregaram a Fundação. Um exemplo disso é que mesmo com salário atrasado e todos os problemas administrativos, a qualidade de ensino nunca caiu. Então, mais uma vez eu faço um apelo a você que está fora da instituição para que dê mais uma parcela de contribuição e assine o acordo permitindo a dilatação do prazo. Só assim a FEF sobreviverá”, concluiu Titosi.
REUNIÃO
Na quinta-feira, 28, a Associação de Amigos de Fernandópolis organizou uma reunião na Câmara Municipal com os representantes da FEF, autoridades e membros da associação. Todos se comprometeram em trabalhar para angariar as assinaturas necessárias para o acordo.