Para enterrar qualquer resquício de desavença política

20 de Agosto de 2025

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Para enterrar qualquer resquício de desavença política

Após 45 anos, a quinta filha do médico fernandopolense Adhemar Monteiro Pacheco (in memorian), Regina Silvia Viotto Montero Pacheco regressou a Fernandópolis onde participou do Dia Municipal da Confraternização – realizado no último dia 10 – e protagonizou um ato simbólico. Para findar de vez qualquer resquício de conflitos políticos desencadeados pelas desavenças de seu pai, ex-prefeito e deputado estadual e o também ex-prefeito Percy Waldir Semeghini, a Associação de Amigos promoveu o encontro de Regina Pacheco e o sub-secretário de Tecnologia e Serviços ao Cidadão do Estado de São Paulo Julio Semeghini, representantes das duas famílias. Embora não tenham herdada as retaliações dos pais, ambos selaram a “paz” simbolicamente, mesmo já sendo amigos.

Doutora em Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente - Université de Paris XII desde 1985, Regina é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela USP, professora do quadro permanente da FGV-EAESP desde 1990, onde atua desde 1988 e coordenadora da linha de pesquisa Transformações do Estado e Políticas Públicas (TEPP), na pós-graduação da FGV-EAESP. Foi Presidente da ENAP Escola Nacional de Administração Pública, entre 1995 e 2002 e atualmente é coordenadora do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas - MPGPP da FGV-EAESP.

O Dia da Confraternização, organizado pela Associação de Amigos, marcou, de certa forma, o fim de uma era histórica de

“brigas” entre a sua família, a Pacheco, e a família Semeghini. O que isso significa para a senhora e toda sua família?

Nossa família já há bastante tempo superou aquela era. Na verdade, a ida a Fernandópolis no Dia da Confraternização Municipal significou relembrar excelentes momentos da nossa vida nesta cidade, revisitar lembranças queridas, encontrar pessoas que se lembram dos meus pais com carinho, celebrar a memória deles e rever amigos (e filhos de amigos) que sempre foram muito caros a meus pais.

Há mais de 16 anos, quando Julio Semeghini resolveu se candidatar a deputado, procurou meu pai para apoiá-lo, num gesto muito bonito de aproximação. Meu pai acolheu o pedido de imediato, e o apoiou. Acredito que o amor por Fernandópolis foi mais forte do que o passado.

Quando recebeu o convite para participar do evento, qual foi a sua primeira reação?

Fiquei feliz, conversei com meus irmãos, me preparei para reencontrar tantas lembranças. Pensei que talvez tudo estivesse mudado – eu não ia a Fernandópolis há mais de 45 anos.

A senhora viveu, à época, os conflitos políticos entre as famílias? O que se recorda desse período? Por que havia tanta rivalidade?

Eu era muito pequena, sou a quinta de seis filhos; quando mudamos para São Paulo, assim que meu pai foi eleito deputado estadual, eu tinha cinco anos. Não tenho lembrança de detalhes, apenas me lembro de que eram adversários políticos. Mas não as famílias – pessoas de ambas as famílias se davam bem e eram amigas. A disputa era política.

Seu pai marcou a história de Fernandópolis por meio de seu trabalho e suas conquistas para a cidade. O que a senhora se lembra de Ademar Monteiro Pacheco, mas do homem, pai, esposo, cidadão e não do político?

Ele foi um só. Firme nos propósitos, orientado por princípios, correto, presente, uma referência. Colocou família e trabalho como prioridades na sua vida. Seu jeito de descansar e de se divertir era lendo jornal e assobiando – afinadíssimo.

O que a senhora carrega de lembranças de Fernandópolis?

Lembro-me da praça da matriz com o chafariz e de comer pipoca com molho de pimenta (na garrafa), das quermesses com o frango assado e farofa embrulhado em celofane para ser rifado, das compras na caderneta na Padaria Santa Rita, de ir de charrete para a escola onde minha mãe lecionava na saída pra Brasilândia (hoje batalhão da PM), da Casa Lisboa, da Casa Sano, da Buri, da Caiçara, do cinema ao lado do Hospital das Clínicas, do Bregueço, do Quinzinho das Éguas, da minha casa sempre aberta e cheia de gente, da farmácia em frente (ainda lá, na Rio de Janeiro com Milton Terra Verde), do instrutor de autoescola de minha mãe sempre de gravata borboleta, do clube, do carnaval no Tênis, da minha babá adorada e da Maria José, do

consultório do meu pai dentro de casa, das árvores. E ao voltar agora vi que muita coisa ainda está aí, foi como passear dentro de minha memória. Descobri o céu maravilhoso – que na época não chamava tanto minha atenção, talvez porque eu pensasse que todo céu fosse assim. E o que mais me emocionou foi ver as calçadas na área central, com as ondas de Copacabana em mosaico português, desenhadas e feitas por meu pai – há 60 anos – e ainda duram e são bonitas.

Já pensou em voltar a morar aqui?

A vida corrida não deixa a gente sonhar. Mas quem sabe?

Qual a senhora considera uma característica herdada de seu pai?

Acho que sou bem parecida com ele. Gosto das pessoas diretas e comprometidas com o que fazem.

A senhora discordava de algum dos pontos de vista dele no que tange à administração pública?

Provavelmente não. Minha área de trabalho é governo, administração pública, políticas públicas. Hoje se difundiu uma ideia de que o jogo político leva obrigatoriamente as pessoas a fazerem concessões e se dobrarem às alianças e interesses. Tenho o exemplo de meu pai de que é possível outra forma de fazer política, limpa e sem transgredir nos princípios.

A senhora é reconhecida como um dos expoentes no Estado em Gestão Pública. A que se deve este rótulo?

Tenho trabalhado com esse tema desde que presidi a ENAP Escola Nacional de Administração Pública, no Governo federal, entre 1995 e 2002. E formei muita gente, em muitos anos como professora na FGV-EAESP – encontro ex-alunos em todas as partes! Tenho tido oportunidade de acompanhar o que fazem diferentes governos no mundo para melhorar o desempenho das organizações públicas e de propor novas maneiras de ver os problemas públicos no Brasil e buscar soluções.

A senhora já foi convidada para integrar o secretariado do governo Alckmin. Qual o entrave que impossibilitou que se tornasse secretária estadual e qual pasta assumiria?

Fui convidada por Julio Semeghini a ser Secretária Adjunta de Gestão, em 2011. Não pude ir devido aos projetos que estava tocando na FGV, em especial a coordenação do mestrado profissional em gestão e Políticas Públicas.

Também ficou impressionada com o número de pessoas que foram até a senhora durante o evento recordar algumas passagens e fazer fotos? Tinha noção da grandeza impregnada em seu sobrenome?

Não é grandeza do sobrenome: é um imenso carinho que as pessoas têm pelos meus pais. Foi emocionante e fico muito agradecida.

Em meio aos protestos contra ao atual governo federal, qual seria a solução viável para o fim da crise no país?

São muitas as razões da crise. Quero me ater à minha área: acredito que o governo precisa agir com vigor para melhorar os serviços públicos que entrega à população. O Bolsa Família é um grande programa, que realmente contribuiu para diminuir a desigualdade no país. Mas cidadania não se faz com acesso ao consumo – cidadania se faz com acesso a serviços públicos de qualidade.

Acredita que se houvesse a obrigatoriedade de todo político brasileiro possuir capacitação profissional – ensino superior - como gestor público não haveria corrupção ou ela seria quase nula?

Não acho que essa seja a condição. Precisamos de uma sociedade com acesso à educação de qualidade em todos os níveis – hoje um dos maiores problemas é o ensino médio. Diploma não garante as competências necessárias aos políticos. Precisamos de partidos mais estruturados, revisão das regras políticas, mudança de práticas, responsabilização, justiça mais rápida, dentre muitos outros fatores. Precisamos resgatar o valor da política.

Gestão pública também se aprende “na rua”, ou a senhora defende, a todo custo, a qualificação profissional?

Gestão pública se aprende de muitas formas, observando boas experiências, refletindo sobre suas próprias práticas, informando-se.

Qual político da atualidade considera o mais semelhante ao seu pai?

Sou fã do Obama.