Os dois alunos da E.E Afonso Cáfaro que estavam representando Fernandópolis na tradicional FEBRACE - Feira Brasileira de Ciência e Tecnologia, uma das mais expressivas do gênero no país, conseguiram a 4ª colocação da Feira na categoria “Agrária”. Jessé Pinato de Castro e Lucas Thiago Pereira, ambos da 3ª série do ensino médio estavam em São Paulo desde a última segunda-feira, 16, apresentando o projeto inovador intitulado “Um salto para o futuro - Introdução de insetos na alimentação humana”, cujo objetivo é introduzir gafanhotos na merenda escolar devido ao alto teor de proteínas presentes na farinha feita do inseto.
Os dois já haviam conquistado o 2º lugar na MOP – Mostra Paulista de Ciências e Engenharia São Paulo, realizada no ano passado, e uma das premiações foi a participação na FEBRACE.
Na coluna, os alunos falam sobre a ideia do projeto e como funciona na prática, futuro profissional e postulam ao método de ensino integral da Escola os resultados positivos na carreira promissora como pesquisadores e, quem sabe como cientistas.
Como surgiu a ideia de aprofundar as pesquisas quanto à introdução de insetos na alimentação humana?
No ano de 2013, começávamos o ensino médio em um novo modelo de escola proposto pela Secretaria Estadual de Educação e dentre as novidades estava a oportunidade de realizar uma pesquisa de pré-iniciação científica. Foram apresentados aos alunos os propósitos e andamentos de uma pré-iniciação científica e fomos instigados a buscar um tema relevante no mundo científico. Começamos a investigar e encontramos um relatório da FAO – Organização das Nações Unidas para alimentação e a Agricultura relacionado ao consumo de insetos como fonte de proteínas. No documento constavam importantes linhas de pesquisa e incentivava os países a estudar mais sobre o segmento e a partir daí decidimos elencar um inseto e associar sua introdução na alimentação humana a tríplice da sustentabilidade, tornando - o um recurso sustentável, ou seja, socialmente justo, ambientalmente correto e economicamente viável.
Qual a fundamentação teórica utilizada por vocês e quais argumentos básicos utilizam para comprovar a importância do trabalho?
O título do trabalho, “Um salto para o futuro - introdução de insetos na alimentação humana” faz uma referência ao segmento da sustentabilidade, sob forma de enquadrar as necessidades humanas, tais como: sua maneira de constituir cultura, gerar sustento e reduzir os impactos no ambiente.
A população mundial está crescendo. Seremos mais de nove bilhões em 2050, o consumo de carnes aumenta à medida em que a sociedade ganha poder aquisitivo e adquire novos hábitos alimentares, a exemplo dos asiáticos.
Desta forma, a sustentabilidade tornou-se necessária, pois, segundo especialistas, dois terços das terras cultiváveis do planeta são hoje ocupadas por rebanhos de bovinos, suínos e caprinos. Diante desse contexto, faz-se necessária a preocupação com o espaço físico, com o consumo de água, com o acesso e escassez de recursos, além da utilização de novas tecnologias na substituição de animais de grande porte, por outros menores viáveis ao consumo humano rico em fontes proteicas. Assim, segundo critérios sustentáveis, a alternativa mais viável que elencamos, é o “gafanhoto”.
Nossos experimentos apresentam resultados satisfatórios dentro dos parâmetros científicos, pois constatamos o índice de 60% de proteína na composição do gafanhoto da espécie Tropidacris grandis. Isso significa que a cada cem gramas de gafanhoto sessenta são de pura proteína, índice alto se comparado com fontes proteicas tradicionais como as bovinas, caprinas, suínas e de aves, que têm em média 40% de proteína a menos. A partir do estudo concluímos que a ideia de alimentação à base de gafanhotos teve uma adesão relevante para o grupo pesquisado, e este estudo servirá de parâmetro para o futuro. A alimentação poderá ser apresentada de diferentes maneiras, por exemplo, em farinha e em cápsulas de suplemento alimentar; precisando apenas de investimento nesse tipo de iniciativa.
Quando notaram que poderiam levar o trabalho de pesquisa à diante, muito além de um simples trabalho de escola? Foi após a primeira premiação, ou antes, dela já imaginavam que isso poderá render bons frutos?
Desde as primeiras fases fomos instigados a desenvolver uma pesquisa de excelência e sabíamos das perspectivas com relação às feiras, porém as premiações concretizaram as possibilidades de avanço, como estávamos iniciando, o contato com as metodologias científicas propiciou os bons frutos. Um ponto de fundamental importância é a percepção de escolher um caminho que realmente traga algo de inovador e acredito que acertamos nessa proposta.
Para quem não provou, o sabor pode ser assemelhado a quê? Existem contraindicações?
O gafanhoto preparado como uma farinha pouco interfere no sabor quando associado a outros alimentos, por exemplo, no preparo de uma receita como um bolo, já o inseto se assemelha a uma verdura, com algo próximo a rúcula ou alface.
Durante participação na Febrace, vocês ouviram alguma sugestão que será acatada para apresentações futuras ou inclusão no trabalho?
Sim, na Febrace recebemos sugestões relevantes, tais como a produção de um possível material paradidático para ser enviado a Unesco com as descobertas da pesquisa; criação de representações visuais para esclarecimento das vantagens da utilização do gafanhoto como fonte proteica em comparação as fontes tradicionais de proteína; elaboração de uma tabela nutricional que evidenciem as composições do gafanhoto; ressalto que para a nossa presença na Febrace fomos apoiados pela United Way, uma ONG americana, que atua no Brasil e estabelece parceria com diversas empresas a fim de desenvolver comunidades brasileiras através de talentos e recursos de indivíduos, empresas. Eles nos ajudarão a encontrar parceiros para a produção da farinha. Para as análises nutricionais contaremos com uma parceria com a Unesp.
Acreditam que a farinha de gafanhoto possa ser incluída na merenda escolar ou ainda ser aderida mundialmente um dia?
Acreditamos em duas frentes de possibilidades: a farinha como subproduto que subsidiará receitas, ou seja, a proteína sendo utilizado em bolos, biscoitos, iogurte, etc e como suplemento alimentar em cápsulas. A partir dessas possibilidades as pessoas passariam a consumir de acordo com suas necessidades e afinidade, podendo se tornar uma nova alternativa mundial no campo alimentício, haja visto seu custo-benefício, a criação de proteína mais acessível com menos demanda de recursos.
Agora, já premiados e com o conteúdo na ponta da língua, qual o próximo passo? Existe um objetivo mór?
Através das parcerias com a United Way e Unesp viabilizar a produção e as condições de aproveitamento desse recurso proteico.
Pretendem seguir carreira como cientistas?
De certa forma, sim, ambos pretendemos seguir carreira na área da Saúde.
Qual o aporte teórico e prático que a escola lhes deu para chegarem a esse ponto?
A pré-iniciação científica possibilita o encontro entre os diversos saberes, além de que é totalmente interdisciplinar, portanto ao desenvolvermos a pesquisa tivemos que utilizar as diversas habilidades e competências adquiridas nas diversas áreas do conhecimento. E posso lhe afirmar que se não fosse às diretrizes do programa que visam excelência acadêmica e proporcionam estrutura para pesquisa experimental não teríamos alcançado os objetivos almejados.
Enquanto a maioria dos garotos da idade de vocês está se divertindo, jogando videogame, soltando pipa, etc, vocês estão estudando. O que os motiva a isso?
O nosso desenvolvimento pessoal é muito satisfatório para nós como alunos de escola pública estarmos inseridos em processo de ensino e aprendizagem eficaz como o que tem se caracterizado a E.E. Afonso Cáfaro e seus segmentos.
Mesmo com a rotina de estudos que levam, ainda sobra tempo para diversão?
Sim, não há nenhum segredo para isso, o que nos possibilita ainda achar tempo para diversão é uma agenda bem programada e disciplina.
A mudança da escola em que estudam, para ensino integral, colaborou para o desempenho de vocês?
Sem dúvida nenhuma, o novo programa dá uma perspectiva diferente para os alunos, o protagonismo é realmente exercidos e temos a possibilidades e ferramentas para crescer.
Sentem algum preconceito vindo dos colegas de vocês por serem estudiosos, os populares nerds? Aliás, vocês se consideram nerds?
Não, o trabalho realizado pela escola para incentivar os alunos a buscarem caminhos para o conhecimento é muito forte, o que faz com que os alunos percebam as responsabilidades demandadas para aqueles que optam por estudar no modelo de ensino integral. Não nos consideramos nerds, apenas alunos que não estão desperdiçando oportunidades que estão ao nosso alcance.