Na última terça-feira, 17, completaram-se exatos dois meses de intervenção na FEF – Fundação Educacional de Fernandópolis -, após a famigerada Operação “Bolsa Fantasma”, da Polícia Federal, que investiga uma série de fraudes na instituição, dentre elas, o uso de “alunos fantasmas” para a obtenção de recursos irregulares por meio do programa Escola da Família do Governo do Estado de São Paulo. À frente dessa intervenção está o respeitado empresário Titosi Uehara, que assumiu a função a pedido do juiz Evandro Pelarin e desde então tem trabalhado ao lado de seus companheiros Antônio Carlos Cantarela, José Poli e Antonio Batista Cezar para dar novos rumos a primeira faculdade do município. Ao que se sabe, após a intervenção, vários documentos que apontariam supostas fraudes já foram encaminhados à Polícia Federal pelos interventores, inclusive, os mais recentes, relacionados a aquisição de títulos podres em 2007, que renderam um prejuízo de R$ 3 milhões aos cofres da Fundação.
O que o senhor sentiu quando foi “convidado” pelo juiz Pelarin para assumir a presidência da FEF como interventor?
Senti que estava sendo convidado para enfrentar um desafio que jamais tinha me defrontado durante os meus 58 anos de trabalho profissional, porém, me senti muito orgulhoso pela credibilidade e confiança que aquele magistrado estava depositando nesta modesta pessoa e naqueles que eu tive a liberdade de escolher para compor a minha equipe de transição naquela Instituição, que são os advogados Antônio Carlos Cantarela e José Poli e o contabilista e funcionário aposentado do Banco do Brasil, Antonio Batista Cezar, sem os quais talvez eu não teria condições de cumprir a missão para a qual estava sendo designado.
Tinha ideia do rombo financeiro da instituição?
Não tinha a menor ideia de como ia encontrar a situação da instituição, mesmo porque não conhecia o seu corpo administrativo e a sua área acadêmica.
Sentiu constrangimento ao se ver diante de apuração de irregularidades que tem as digitais – pela ordem - de seu ex-companheiro político, Luiz Vilar, e Paulo Nascimento?
Não entendi a expressão “seu ex-companheiro político”, porque participei da vida pública, com uma breve passagem pelo Poder Legislativo, como vereador, há mais de 30 anos, desde então nunca mais tive uma atuação destacada na política. Já votei no candidato algumas vezes e já deixei de votar em outras, simplesmente como eleitor, e não me sinto constrangido porque não tenho nenhuma participação nem direta, nem indiretamente nos fatos desabonadores que porventura possam ter ocorridos nas administrações da FEF.
O senhor acredita que se o estatuto da FEF não tivesse sido alterado, com exclusão de autênticos representantes da sociedade, substituídos por subordinados do Sr. Vilar, o rombo poderia ter sido evitado?
Creio que estatuto algum impede a prática da criminalidade, quando se quer praticar, mas, pode sim incriminar e punir os faltosos e prova disto são os escândalos que estão acontecendo nas grandes empresas estatais do Brasil, cujos estatutos são muito bem elaborados, mesmo assim, a corrupção se estende por todos os lados.
Quando se deu a alteração dos estatutos?
Em 23/11/2003.
Quem eram os antigos conselheiros?
Tenho plena convicção de que todos aqueles cidadãos da nossa sociedade, que aceitaram fazer parte do Conselho de Curadores, sempre estiveram imbuídos no melhor dos propósitos, pensando em colaborar pelo engrandecimento da nossa FEF, portanto não gostaria de citar seus nomes. Porém se algum cidadão tiver interesse em saber, a ata está registrada no Cartório de Registro de Títulos e Documentos de nossa Comarca, sob nº 1.147, em 25/11/2003 e é um documento público, bastando apenas requerer.
Quais os substitutos escolhidos pelo senhor Vilar?
Os mesmos que constam na ata acima.
Qual a dívida da FEF, hoje? Qual a principal delas?
As dívidas principais da FEF são processos trabalhistas, tributos federais, contribuições INSS e FGTS, cujos valores ainda estão sendo levantados pela Receita Federal para adesão ao PROIES.
Qual a receita mensal?
Aproximadamente R$1.600.000,00, não considerando as inadimplência.
Em termos porcentuais, como o senhor distribuiria a cada um (Vilar e Paulo Nascimento) a responsabilidade pela atual situação da FEF?
Não cabe a nós, administradores, fazer este julgamento, porque como dissemos no ato em que tomamos posse, que a nossa missão era de colocar a FEF nos trilhos para que ela pudesse caminhar e o passado pertence a justiça, (Ministério Público e Polícia Federal) que está de posse de todos os documentos que possam incriminar ou não os ex-administradores.
As bolsas correm algum perigo?
Não. As bolsas não correm nenhum perigo. Fizemos algumas viagens a São Paulo e muitos contatos telefônicos, conseguimos fazer todos os ajustes e correções necessários, restituímos ao Governo a importância de aproximadamente R$ 44.000,00 que estavam divergentes e finalmente, assinamos no dia 11/2/15, na sede da FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação -, novo convênio no valor superior a R$.7 milhões para o ano de 2015, garantindo desta forma a manutenção de mais 1500 bolsas, que por sinal é o maior convênio firmado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, dentro do Programa Escola da Família.
O senhor fica até quando como interventor?
Até aqui estivemos empenhados para atender todos os pedidos da justiça e em rever todos os atos administrativos das gestões anteriores. Agora estamos entrando na área de recursos humanos, conhecendo melhor o seu quadro de colaboradores e o processo acadêmico para depois fazer os ajustes necessários e a nossa nomeação não tem prazo determinado, porém, queremos que a nossa estada aqui, seja por um curto espaço de tempo, pois todos nós temos outros compromissos profissionais.
A pedidos aceitaria continuar?
Não.
Há como enumerar algumas das possíveis fraudes já descobertas pelo senhor e sua equipe na FEF?
Vários documentos foram requisitados pelo Ministério Público e Polícia Federal de Jales e cabe a eles opinarem sobre a existência ou não de fraudes.
Sobre os títulos podres adquiridos em 2007, o que pode comentar?
Foi um prejuízo total para a FEF.
Após o período de intervenção como funcionará a eleição para presidência da instituição?
Estamos elaborando um novo Estatuto que será submetido a apreciação dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público e das Entidades, para definir a forma de como conduzir os destinos da FEF.
Quanto tempo o senhor acredita que seja necessário para que nossa Fundação volte ao caminho do desenvolvimento?
No momento não temos como definir, enquanto não for feito todos os ajustes necessários, principalmente equilibrando as receitas e despesas.