Três anos se passaram desde que o CIDADÃO, com a intenção de alertar as autoridades competentes e conscientizar a população, traçou a “rota do lixo” em Fernandópolis. Essa semana, nossa equipe de reportagem percorreu os mesmos trechos citados na matéria veiculada na edição 344 e constatou que nada mudou.
Mesmo sabendo dos pontos onde costumeiramente os “mal educados” descartam seus detritos, nenhuma ação concreta por parte do poder público foi tomada de lá para cá. E a consciência da população em relação ao mesmo assunto também não avançou.
Falta de conscientização ou fiscalização ineficaz? Quem sabe, até as duas opções cumulativamente. O fato é que não é preciso procurar muito para encontrar em Fernandópolis pontos irregulares de descarte de lixo e entulho. Um problema grave que a cidade enfrenta e que, até então, nada se mostrou eficaz em sua solução.
Partindo da antiga sede da redação do jornal, localizado na Avenida dos Arnaldos, 1.435, onde hoje funciona uma clínica veterinária, a reportagem se deslocou ao local da primeira denúncia. Tratava-se de um trecho da Av. Aldo Livoratti no Bairro Pôr do Sol, ainda não asfaltado, às margens do Córrego Santa Rita.
À época, os dejetos tomavam praticamente conta de toda extensão da avenida. Dentre vários detritos era possível observar sofás, restos de construção e até telhas de amianto – material comprovadamente cancerígeno, segundo a Organização Mundial da Saúde. Quando inaladas ou ingeridas, as fibras do pó do amianto estimulam mutações celulares dentro do organismo, que podem dar origem a tumores e a certos tipos de câncer de pulmão. Isso bem ao lado de um dos principais córregos da cidade.
Hoje a situação não é muito diferente, apesar de, aparentemente, o local ter sido limpo há poucos dias. Felizmente, telhas de amianto não são mais vistas no local. Elas deram lugar a móveis velhos e restos de materiais de construção civil, principalmente latas de tinta.
Na primeira edição da “rota”, o próximo destino seria o jardim Liana, porém novas denúncias levaram nossa equipe ao Parque Universitário. Lá, o final da Rua Aloísio Viêira Coimbra, foi tomada por todo tipo de lixo imaginável. Lixo que aliás, ultrapassa os limites do bairro e chega ás margens da rodovia Carlos Gandolfi, única via de ligação à Unicastelo.
De lá voltamos a rota original e seguimos para o próximo ponto denunciado, que fica na Rua Norberto J. Martins, Jardim Liana. Ali, em 2012, era possível observar praticamente a mesma situação da Aldo Livoratti, com o agravante de ser às margens de uma das principais nascentes da cidade.
A placa de “Proibido Jogar Lixo” de nada servia. A nascente estava cercada pela sujeira, e em determinados pontos era possível observar que os detritos já invadiram boa parte da nascente.
A situação de nada mudou e continua colocando em risco uma grande fonte de água potável da cidade, isso em um momento em que a falta desse bem tão precioso ganhou as páginas e os horários dos principais noticiários do país.
Continuando com o traçado, o próximo ponto visitado foi o da rua Rua Luiz Belatti no Bairro Morada do Sol, onde, bem de frente a um “poção” da SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo -, de onde sai a água que a população fernandopolense bebe, existia, à época, outro depósito ilegal de lixo. Assim como nos outros pontos, lixo, entulho, pedaços de móveis e até pneus eram vistos no local.
Nesse caso fomos surpreendidos positivamente. O local foi limpo e a população não voltou a depositar qualquer detrito irregularmente.
Saindo da Luiz Belatti, CIDADÃO partiu para a Rua Pernambuco, onde a partir do Bairro Paulistano era possível observar pequenos depósitos de lixo por toda sua extensão até chegar à Marginal Luiz Brambati.
Ao contrário do ponto anterior a surpresa não foi positiva. A situação piorou e os pequenos depósitos se tornaram grandes e os mal-educados começaram até a invadir um canavial que fica às margens da estrada. Descartes de toda espécie e em grande monta.
Em 2012, desse local, a equipe partiu para apurar a próxima denúncia, na antiga estrada que ligava Fernandópolis a Macedônia a partir do Jardim Paraíso, mas no caminho se deparou com mais um depósito de lixo, este, às margens da Rodovia Percy Waldir Semeghini. Entulho, sofás, colchões pneus e até lixos eletrônicos eram descartados às margens da rodovia que liga Fernandópolis à usina de Água Vermelha.
A situação melhorou bastante, mas em alguns pontos ainda é possível encontrar grandes quantidades de lixo.
De volta à rota das denúncias, a reportagem seguiu para o Jardim Paraíso e ali encontrou a estrada inteira repleta de pequenos depósitos de lixo e entulho. Em determinados pontos, o odor é insuportável por conta dos animais mortos ali depositados e até caveiras de animais estão misturadas aos montes de detritos.
Do Jardim Paraíso, a equipe partiu para a Avenida Teotônio Vilela, que fica atrás do hospital da AVCC – Associação dos Voluntários no Combate ao Câncer - e da FEF – Fundação Educacional de Fernandópolis. Com a criação, à época, de uma área de transbordo no terreno que servia apenas como depósito de lixo, começaram a jogar a sujeira à beira da avenida.
Hoje, com grande parte de sua extensão asfaltada, a Teotônio Vilela deixou de ser depósito de lixo, até a ponte, por que a partir de lá a coisa fica feia. Para começar, a ponte que esta caída há anos, ganhou como barreira os mais variados dejetos descartáveis de todo tipo atravessar de qualquer forma ficou impossível. Do lado de lá da ponte, os pequenos depósitos de lixo existem aos montes e os detritos começaram a invadir o córrego.
Fechando o ciclo de denúncias, em 2012, o CIDADÃO se deslocou para o CDHU Jayme Leone, mais precisamente na Rua Quatro do conjunto habitacional. A situação no local não estava muito diferente das demais denúncias. Lixo, sofás, pneus, restos de móveis, entulhos, tudo isso em pequenos montes espalhados em um trecho de cerca de 1km.
Hoje a situação continua a mesma. A falta de respeito se estende da mesma forma pelos mais de mil metros da via. Só que além da rua quatro, o Jayme Leone ganhou outro depósito. Este logo atrás das 47 casas que faltavam no conjunto.
OUTRO LADO
Questionada, a Prefeitura informou que a “secretaria do Meio Ambiente faz o trabalho de fiscalização em todo município e que foi solicitada a contratação de mais profissionais dessa área para maior eficácia do trabalho”.
A Prefeitura informou ainda que “orientou, fiscalizou, multou cortes e podas de arvores, deposito de lixo, entulhos, galhos e queimadas em áreas não permitidas na cidade. Foram efetuadas cerca de 100 notificações e multas nos últimos 12 meses e que realiza trabalho de conscientização da população durante todo o ano, através de palestras, orientação nos bairros, escolas, CRAS, idosos, panfletos educativos”.
A infração de descarte de lixo ou entulho irregularmente acarreta notificação e multa que varia de 1URM a 20URMs (de R$ 217,62 a R$ 4.352,40) de acordo com tamanho do impacto ambiental, segundo a lei 3716 de setembro de 2010 – Resíduos Sólidos.