Ano novo, presidente também

20 de Agosto de 2025

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Ano novo, presidente também

O vereador André Pessuto (DEM) concedeu essa semana sua primeira entrevista ao CIDADÃO depois de ser eleito presidente da Câmara Municipal de Fernandópolis para o próximo biênio. Vereador há sete anos, o neto de Bernardo Pessuto decidiu que havia chegado a vez de disputar o cargo mais alto no Legislativo fernandopolense. Sete de seus colegas acreditaram que ele era a melhor opção e o conduziram à liderança. Sem medo de abrir o jogo, Pessuto falou sobre o documento escuso que circula pela cidade sobre sua eleição, dos polêmicos projetos de aumento de salário e cadeiras, do nepotismo, e do seguimento dos trabalho no no Palácio 22 de Maio. 

Em todas as eleições que disputou o senhor foi sempre bem votado. A quem ou ao o que se deve esse sucesso?
É um conjuntura de coisas, eu sou fundador da UNATI, onde minha mãe é presidente e onde temos um leque de votação, minha família é tradicional em Fernandópolis, meu tio (Luiz Pessuto) foi vereador durante quatro mandatos, então já temos um histórico familiar na política fernandopolense. Eu fundei em Fernandópolis a Associação dos Deficientes Físicos, uma instituição que também me ajuda nas campanhas, sou membro do Rotary Club 22 de Maio, sou diretor da APAE, então acredito que é uma conjuntura de coisas, por isso é difícil falar o que me dá votos.
Já são sete anos como vereador. O que o senhor mais aprendeu e o que mais lhe marcou na vida política?
O que eu mais aprendi na vida pública foi respeitar o ser humano, acho que isso é o que me motiva ainda na vida pública. O que mais me marcou foi uma vez durante a eleição quando eu estava pedindo voto e encontrei uma mãe desesperada, que cortou uma banana e deu uma metade para cada criança que estava no chão. Eu perguntei se ela não iria descascar e ela respondeu que não pois, segundo ela, a casca ajuda a matar a fome. Isso me marcou demais e me motiva a ficar na política para tentar resolver o problema das pessoas que são menos favorecidas em nossa terra.
O senhor citou logo na primeira pergunta o seu tio Luiz Pessuto, um homem que se destaca na cidade pelo “imenso coração”. O que aprendeu com ele e que carrega na vida pública?
Não só com meu tio, mas com meu avô (Bernardo Pessuto) também. Ele é um dos fundadores da cidade, uma pessoa que sempre se dedicou a classe mais humilde, e apesar de não estar na política em cargo público ele sempre se dedicou a política, sempre teve lado, sempre apoiou candidatos, e sempre tentou ajudar da melhor maneira possível a nossa terra. Já o que eu sempre aprendi com meu tio Luiz é a simplicidade, a humildade, o respeito e o carinho com a população. Posso te dizer que ainda não aprendi tudo. Meu tio é muito mais carismático e mais popular do que eu. Eu ainda tenho que aprender muito ainda e espero que  consiga.
O senhor venceu a disputa para presidência da Câmara Municipal. Tem a intenção de fazer algum tipo de mudança na conjuntura estrutural no Palácio 22 de Maio como a contratação, demissão ou revisão salarial de funcionários?
Não. Temos um quadro de funcionários suficiente. É uma das Câmaras da região mais enxutas e a que menos gasta proporcionalmente. É que menos gasta com funcionalismo e que tem um quadro de funcionalismo fantástico, ninguém tem o que reclamar. Todos são atenciosos, responsáveis, cumprem com seus deveres e não pretendo mexer não. Claro que alguma alteração e conversa individual a gente vai ter na busca pela melhor eficiência na gestão.
Em 2009, o senhor foi o mais votado entre os vereadores e abriu mão de disputar as eleições à presidência, como de costume ocorre com o mais votado, e deixou o cargo para Warlei Campanha. O que mudou de lá para cá, já que agora o senhor se considera apto para ser presidente?
Eu não tinha experiência, estava chegando numa Casa e posso confessar que essa experiência a gente adquire no dia a dia, passo a passo e ela é árdua, não é da noite para o dia que conseguimos experiência para fazer gestão aqui na Câmara de Fernandópolis. Não me sentia preparado naquele momento para assumir tal posição, por isso que preferi recuar e aprender para depois tentar galgar o espaço de presidente e foi o que eu fiz. Primeiro aprendi para depois tentar conduzir.
O que o senhor tira de lição período em que Warlei, Dorival Pântano, Creuza Nossa e Chico Arouca estiveram como presidentes? Nota alguma semelhança na qual vá se espelhar daqui para frente ou descartar de sua gestão?
Cada presidente teve a sua peculiaridade. Tivemos o caso do Warlei que foi atípico e é óbvio que o que aconteceu eu vou descartar. O Dorival, na sequência com toda sua humildade e simplicidade teve pulso para fazer uma gestão, pois é difícil assumir a presidência depois de uma cassação. Depois veio a Creuza, já mais experiente em gestão, vinda de banco, e aprendi muito com ela na questão de gestão interna, parte contábil, então cada presidente foi me ensinando uma coisa. E agora com o Chico foi um grande aprendizado com um homem de palavra, um senhor que  cumpre com seus atos, extremamente responsável no que faz e extremamente carinhoso e amoroso com nosso município. Vou levar isso comigo com certeza.
Em um determinado momento o Legislativo foi criticado por ter poucos projetos em pauta enquanto vários outros estavam engavetados. Nos próximos dois anos, as gavetas da Câmara ficarão cheias de projetos atravancados ou estes não acumularão em seu mandato?
Foram dois anos com um pouco de dificuldade na questão jurídica. Fugia um pouco da alçada do presidente. Os embates aconteciam e isso é saudável, é salutar, eles aconteciam nas comissões. Uma coisa posso te garantir: o presidente André Pessuto não vai segurar projeto. Vou tentar agilizar o máximo os projetos para que eles tenham andamento, agora as comissões são autônomas e tem direito e dever de questionar quando um projeto não se encontra totalmente correto, pois é nossa assinatura que vai lá. Podemos nos comprometer. Então as comissões terão total liberdade para trabalhar, se precisar segurar um projeto vai segurar, vai perguntar, vai pedir parecer para o NDJ – Nova Dimensão Jurídica-, isso é natural. No Congresso Nacional tem projetos tramitando há cinco anos. Agora segurar por segurar, por ser de outro grupo político, isso não é meu perfil. Meu perfil é mais dinâmico, de acelerar de trabalhar em prol da cidade, de tentar um diálogo e é isso que irá acontecer. Deixei isso claro no discurso de posse, seremos independentes. Nós é que vamos conduzir os trabalhos por aqui, com muito diálogo e harmonia entre poderes.
O senhor frisou ser de outro grupo. As pessoas ainda vinculam sua imagem com a do ex-prefeito Luiz Vilar. Isso é positivo ou negativo? O que acha disso?
Na verdade eu sou do partido do ex-prefeito. Ele está afastado da liderança partidária. Tivemos um distanciamento, ele tem os problemas dele e tem que resolver. Então quero que fique uma coisa muito clara:o vereador André Pessuto tem vida própria, tem cabeça própria e tem informação própria, então não tenho mais nada a ver com o Luiz Vilar. Ele foi prefeito e eu fui vereador, tentei ajudar no que foi possível em nome de um bem maior que é Fernandópolis, como estou tentando ajudar a prefeita atual. Em momento algum eu fiz um posicionamento radical, contrário a atual administração. Sempre tentei ajudar, mostrar que mais importante na política é a construção e não a desconstrução. Se eu não puder ajudar, eu não atrapalho.
Existe um documento que circula pela cidade, que teria sido feito na Chácara do ex-prefeito Luiz Vilar em que ele referendava que Chico Arouca seria o primeiro presidente e o senhor o sucessor. Esse documento existe? O senhor sabia que seria presidente agora?
Não. Não tinha certeza alguma, mesmo porque, se você pegar a votação verá que quem votou no Gustavo são meus aliados políticos e que comungou na campanha junto comigo, o Baroni, o Ademir e o Salvador. Nós dividimos os palanques. Não posso negar para você que a gente conversou de política, acertos... A política é feita de diálogo e nós conversamos sim. Tinha pretensão sim em ser presidente nesse segundo biênio, mas também não tinha vaidade nenhuma. Se existisse uma pessoa que tivesse despontado, que tivesse condição de ser presidente e ter sido mais votado, eu iria respeitar do mesmo jeito, iria tentar ajudar do mesmo jeito.
Neste documento havia a condição de que as contas do ex-prefeito fossem aprovadas. O senhor teve acesso a isso? Procede?
As contas do ex-prefeito e da atual prefeita não dependem da Câmara e sim do Tribunal de Contas, que é um órgão muito mais competente, mais experiente, que tem pessoas habilitadas para isso. Se as contas do ex-prefeito vierem rejeitadas pelo Tribunal de Contas, eu vou rejeitá-las pois vou ouvir quem sabe muito mais que eu. O Tribunal sabe muito mais que eu.  Agora se vier com parecer favorável do Tribunal de Contas por que serei contra? As contas da prefeita nós iremos discutir no fim de 2016 e se vierem com parecer favorável, com certeza votaremos favoravelmente. Esse é o pensamento de todos os vereadores. É uma tendência de todos os legislativos. Acompanhar o que o Tribunal está dizendo.
Impossível não tocar no assunto da Operação “Bolsa Fantasma” na FEF. No passado o senhor trabalhou na FEF. Como viu essa operação em Fernandópolis?
Com tristeza é que a gente olha tudo que está acontecendo. Não sei a fundo o que realmente está acontecendo, os reais problemas da FEF, espero que tudo seja apurado e quem errou que pague pelo erro. Porém, como gestor púbico a gente não pode virar os olhos para uma instituição que é fundamental para a sobrevivência da nossa cidade. A FEF não pode perder convênio com o Escola da Família, nem com o FIES, nem com o ProUni, então nós precisamos nos unir. O Dr. Evandro acertou em colocar o Titosi (Uehara) que é uma pessoa totalmente isenta, competente no que faz, mas os agentes públicos precisam se unir. Até faço um chamamento aos vereadores, ao Júlio Smeghini, ao Fausto Pinato, que é maior liderança da cidade, os deputados que ajudei para cobrar. A instituição não pode pagar pelo erro de alguém. Se alguém errou esse alguém tem que pagar.
A Câmara sofreu várias críticas pela manobra que aprovou o aumento de salários e o aumento de cadeiras. Pensa em colocar logo em discussão os dois projetos que visam acabar com isso?
Nós temos que dar uma resposta para a sociedade. Todos querem saber em que pé está. Minha primeira atitude pós-recesso vai ser chamar todos os vereadores para tentarmos chegar a uma conclusão. A minha vontade é que no primeiro mês já tenhamos resolvido essa situação dando uma resposta de imediato.
Sua posição ficou clara, à época, mas o que pensa hoje sobre os dois projetos?
Sou contra os dois. Acho que a situação econômica do município na questão de valores e também do aumento de cadeiras não suporta isso. Acho que é incompatível com o que a Prefeitura arrecada, com o repasse que vem para a Câmara e também acredito que 13 vereadores sejam suficientes para a representatividade popular, proporcionalmente.
As duas manobras que mais marcaram negativamente este ano foram: aumento de salários e de cadeiras e do nepotismo. Qual seu posicionamento sobre esta segunda manobra citada? Pretende colocá-lo de novo em votação?
Sou favorável ao projeto. O projeto não é de responsabilidade da mesa. Já ouvi rumores que o Chico Arouca que é o propositor deva estar voltando com ele. Se voltar vou acompanhá-lo.