O empresário Maurício de Andrade Barreto recebeu essa semana em seu escritório a equipe do CIDADÃO e ao mesmo tempo a visita do secretário de Desenvolvimento de Fernandópolis Rodrigo Ortunho. Maurício e seu irmão João Carlos Barreto são os responsáveis pelo projeto que visa a implantação de 5300 moradias populares, parceladas em até 100 vezes, em uma cidade de apenas 11 mil habitantes, Valentim Gentil. Lá, o sistema funcionou. Das 1.038 casas já levantadas na primeira fase do projeto, apenas 150 ainda não possuem donos. O curioso, é que há dois anos, quando lançaram o projeto na vizinha cidade, os irmãos Barreto procuram a Secretaria de Desenvolvimento de Fernandópolis para fazer o mesmo aqui, mas não obtiveram retorno. O tempo passou, o secretário mudou e agora parece que há o interesse de ambas as partes. Aos empresários valentim-gentilenses, o desprezo por parte da administração municipal parece não ter deixado mágoas e a visita de Ortunho reacendeu a possibilidade deles investirem na terra moça.
Quando surgiu a ideia da construção de um residencial na cidade?
Foi algo até meio inesperado. Nós temos uma loja de materiais hidráulicos e elétricos. Certa feita decidimos ampliar essa loja e para ampliá-la precisávamos vender mais e para vender mais tivemos que procurar uma alternativa. Então decidimos construir algumas casas para aumentar o consumo de materiais e consequentemente a venda. Sendo assim fizemos uma parceria com um pessoal de Olímpia e construímos seis casas lá. Depois disso surgiu a oportunidade de fazer o mesmo aqui em Valentim Gentil, mas em uma escala bem maior. Pegamos uma área que já era nossa, compramos uma outra faixa de terra para interligar a nossa com o resto da cidade, emendamos tudo e começamos a construir. Isso já vai fazer dois anos.
O senhor tem grande experiência no setor moveleiro e agrícola, que é de conhecimento de todos que o conhecem. E na construção civil, qual a sua ligação?
Na área industrial a concorrência sempre é muito forte. Na agricultura o bom andamento não depende só da gente, basta olhar essa estiagem que vivemos hoje. Então pensamos: não vamos ficar com os ovos em apenas uma cesta não, vamos diversificar e foi onde nós entramos em mais uma atividade. Porém, mesmo entrando de cabeça no projeto, não esperávamos que encontraríamos tanto sucesso como encontramos. Se não teríamos começado antes.
Levando em consideração que a cidade possuía pouco mais quatro mil ligações de água, e o seu projeto é de cinco mil residenciais, obviamente o número de casas vai dobrar. De onde o senhor acha que virão os moradores destas casas? Tem gente para tudo isso?
Se formos falar em termos de Valentim, não. Só que o déficit habitacional existe em todas as cidades e toda a região. Porém, na região, apenas nós estamos fazendo esse sistema. Todos sabem que o sonho da maioria das pessoas que paga aluguel é conseguir a casa própria, pois geralmente o valor que ele irá pagar na prestação da casa própria é inferior ao preço do aluguel que ele paga.
O senhor acabou de destacar que o sistema que adotaram é único na região. De onde surgiu a ideia de criar um sistema onde não há nenhum tipo de envolvimento do Governo?
Hoje as verbas federais e estaduais estão cada vez mais restritas. Então quando construímos com dinheiro próprio e vendemos de forma particular não ficamos amarrados em nada. Construímos dentro dos padrões exigidos pela Caixa Econômica no programa “Minha Casa, Minha Vida”, mas sem nenhum convênio firmado com nenhum dos poderes. Isso deixa muito mais prática a liberação das moradias. Ou seja, a pessoa está comprando e não ganhando, como muitos classificam as casas construídas por meio de convênios.
Quantas casas já foram vendidas até agora?
Das 1.038 da primeira etapa, apenas 150 ainda não foram vendidas.
Em média, de quanto é a parcela dos imóveis?
Varia entre R$ 530 e R$ 550. Lembrando que esse valor pode variar de região para região.
Sabe-se que vários empresários e prefeitos da região têm vindo visitar sua obra por ser inovadora. O senhor tem interesse em construir residenciais em outras cidades? Pensa em ensinar o caminho das pedras para estas pessoas?
Temos interesse em fazer sim, conforme já está sendo feito. Em Parisi com 164 casas, Meridiano 106 casas e General Salgado em torno de 100 casas. Tivemos convite também para Mato Grosso do Sul que tem uma quantidade enorme também. Estamos iniciando as conversas agora, mas há a possibilidade de se fazer até três mil casas lá.
O senhor recebeu agora, no momento da entrevista, a visita do secretário de Desenvolvimento Sustentável de Fernandópolis Rodrigo Ortunho. Há a possibilidade de levar esse empreendimento para nossa cidade?
Há a possibilidade e há interesse. Essa é uma conversa inicial, mas podemos colocar isso em prática, pois há interesse do nosso lado e sabemos que déficit habitacional em todas cidades existe. Se é o nosso negócio e nossa atividade, há interesse, pois Fernandópolis é uma cidade muito promissora.
Quantas casas seriam?
A quantidade que for necessária. Hoje nós temos condições e capacidade de fazer. Não sei hoje qual o déficit habitacional de Fernandópolis, mas se Valentim cabe 5,3 mil creio que possa caber essa quantidade, ou até mais lá também.
De onde vem a matéria prima que o senhor utiliza nas casas. É da própria loja da família?
Parte é da nossa loja, parte é direto da onde tem os produtos. Lembrando que hoje nossa empresa faz parte do ISO 9.000.
O que chama bastante a atenção é que antes mesmo das casas estarem prontas elas já possuem muros calçadas e toda infraestrutura necessária no loteamento, o que não é comum. Qual o motivo?
Hoje fazemos mais do que a exigência feita pela Caixa Econômica Federal. Qualquer residencial popular não existe muro, nós é quem fazemos. Como eu tenho uma quantidade maior de pretendentes, se eu posso oferecer mais. Depois fica mais fácil para vender.
O senhor consegue explicar como Valentim Gentil, com pouco mais de 11 mil habitantes, se destacou de forma tão forte com a vocação para o ramo moveleiro?
Sim, é simples. A maioria destes empresários era agricultor e a agricultura ficou difícil. Então, quando você vê uma pessoa ganhar dinheiro você passa a saber o que ele está fazendo. Se está difícil em um ano você começa a trocar, e assim foi. À época, meu tio, José Marciano, que era prefeito, deu incentivo ao distrito industrial e foi migrando. Aí o vizinho viu que estava ganhando dinheiro, o outro viu que estava também e foi ‘centrificando’ e facilitando. Um exemplo: uma transportadora, que vem buscar carga em Valentim, tem 86 empresas para ele encher o caminhão. Se não tem uma vai outra, então facilita tudo, para quem é empresário e quem trabalha direto e indiretamente. Este foi o destaque, tanto que eu tinha empresa em uma cidade, era única e não dei conta. Outra coisa que tem que se parabenizar em Valentim Gentil é a conscientização do trabalho. Aqui ninguém depende de Prefeitura, de política. Enquanto outras cidades tem o hábito de viver pendurada no governo.
O senhor acredita que este seja um dos fatores que ajudam na venda das suas casas, sendo que todos trabalham, lutam pelo que querem e tem o interesse em conseguir uma casa própria, sem ficar esperando cair do céu?
Não, pois 70% de venda das nossas casas são para pessoas de fora. São pessoas que migram para cá para trabalhar. Fachini, por exemplo, se ele for colocar um ônibus, só do meu condomínio não cabe. Porque lá não tem, então ele paga aluguel mais caro do que paga aqui na casa para ele. É essa a causa da venda.
No setor moveleiro, quem foi o precursor em Valentim Gentil?
Os irmãos Liana, da Firenzi Móveis. Foram os primeiros a colocar uma fábrica de móveis aqui.
O que chama atenção também é que um dos cartões postais da cidade, a Chopplândia está abandonada. Por que isso aconteceu? Por pouco caso?
Ali foi complicado (risos). Valentim é tão bom, que as mesmas pessoas que mudaram para ali ganharam dinheiro e mudaram de profissão, pois no comércio de lanchonete você tem que trabalhar enquanto outros estão se divertindo. Aí o cara ganha dinheiro e muda de profissão. Mas quem entrou não teve a mesma habilidade de tocar. Por isso acabou parando, mas a Prefeitura tem intenção de fazer algo.