Os perigos de se “pegar uma corzinha”

20 de Agosto de 2025

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Os perigos de se “pegar uma corzinha”

Há séculos o bronzeamento é considerado um investimento em beleza e estética. Porém, embora há tanto tempo as mulheres, principalmente, busquem a famosa “corzinha”, ou então “marquinha”, a minoria pratica a forma correta, se é que existe uma para algo que pode lhe causar envelhecimento precoce além de doenças de pele. Se levar em consideração que 2014 está na iminência receber o rótulo de mais quente da história, a atenção com o bronzeamento, mesmo que natural, deve ser redobrada.

O último mês de agosto foi o mais quente já medido no mundo. E este ano está a caminho de bater o recorde histórico de temperatura. O mês de setembro, por exemplo, foi o mais quente desde que começaram os registros (no século IXX), empatando com 1998 e 2010, de acordo com a Nasa, agência espacial americana.
Após o relato de um leitora do CIDADÃO que ficou com parte do corpo totalmente queimado e ter febre após buscar o bronzeamento natural, nossa reportagem procurou o médico dermatologista Alan Marques Ferreira que falou sobre os perigos dos métodos de bronzeamentos, a maneira mais saudável de fazê-lo e afirmou não indicá-los aos pacientes. Alan é formado em Medicina pela Universidade Iguaçu (RJ) com especialização em Dermatologia pela Fundação Pele Saudável (SP). Ele atua em Fernandópolis desde 2009 realizando cerca de 30 consultas mensais.

Com a tele-dermatologia, o departamento de prevenção do câncer de pele da unidade de prevenção do Hospital do Câncer de Fernandópolis, 644 possíveis pacientes de toda região enviaram fotos para serem analisadas. Destes, 429 foram consultados e 150 tiveram diagnóstico positivo.

 

Quais os principais cuidados a serem tomados para um bronzeamento natural saudável, levando em consideração um dos anos mais quentes da história?
 

Compreenda que, para se bronzear, você não precisa se queimar. Queimaduras repetidas ao longo dos anos podem levar ao câncer e devem ser evitadas.
Antes de mais nada, nunca tente adquirir a cor de um verão inteiro no primeiro dia de férias. Você deve entender que o bronzeado só vai começar a aparecer 48 a 72 horas após a primeira exposição solar. Este é o tempo necessário para que a melanina (pigmento que dá cor à pele) seja produzida e liberada pelas células. É um processo gradual e não adianta exagerar no sol para tentar apressá-lo.
Proceda assim: antes das 9 horas, exponha-se por 20 minutos ao sol e então aplique generosamente o protetor solar, sempre com FPS 30 ou maior; Lembre-se se for ficar exposta ao sol por mais tempo, use sempre chapéus, bonés, guarda sol, óculos de sol e reaplique o filtro a cada 2 horas. Evite exposição prolongado para diminuir o risco de envelhecimento precoce e câncer de pele.
Acredite e experimente, em poucos dias você estará com a cor desejada e sem queimaduras. É fácil ver se está funcionando. A partir do terceiro dia, verifique sua marca de biquini ou calção, você vai ver a diferença.

Muitos já conhecem a informação de se evitar os horários entre 10h e 15h, mas em tempos de aquecimento global, são realmente apenas estes dois horários que devem ser evitados?


Sim. Entre 10 e 16 horas aumenta muito o ultravioleta B, causador das queimaduras solares, portanto, neste horário, proteja-se sempre.
Já o ultravioleta A, não causa queimaduras, mas bronzeia. Está disponível antes das 10 e após as 16 horas em grande intensidade. No entanto, lembre-se de que esta radiação, além de envelhecer sua pele precocemente causando manchas e rugas, também predispõe ao surgimento do câncer. Expor sua pele ao sol em demasia é um risco que pode trazer consequências sérias futuramente e o prejudicado será você.

O bronzeamento natural de forma inconsequente e sem instrução de um profissional pode acarretar no envelhecimento precoce?


Sim. Isso é bem visto e pode ser observado por qualquer pessoa, é só prestar a atenção naquelas de mais idade e pele mais claras, nas áreas mais expostas das pessoas como antebraços, face e “V” do decote no tórax, ocorre um envelhecimento notório e quanto mais clara for a pele da pessoa mais cedo aparecem os danos solares, inicialmente como vermelhidão, pele frágil e afinada e sequencialmente as lesões pré-cancerígenas e câncer de pele.


Ainda assim, o bronzeamento natural é mais saudável em relação ao artificial? O Senhor recomenda a segunda forma de se alterar a tonalidade da pele?


Apesar de contraindicarmos todos os tipos de bronzeamentos, o bronzeamento natural é extremamente mais saudável em relação ao artificial, principalmente aqueles que usam câmaras de bronzeamento articial pois nessas, o que se utiliza para bronzear é a radiação UVA de forma concentrada, por isso que é totalmente contra indicado, uma vez que a radiação ultravioleta A, é a que tem maior penetração na nossa pele causando danos em fibras elásticas, colágenas levando ao envelhecimento precoce e o principal, atinge os melanocitos, que podem ter seu DNA alterados por irradiação crônica e predispor ao melanoma que é o câncer de pele mais temido, pois apresenta metástases precoces e alto índice de mortalidade.


Quais os riscos reais de câncer de pele nestes casos?
 

É quase um crime, pois a incidência de radiação ultravioleta principalmente a Ultravioleta A, aumenta muito a probabilidade do desenvolvimento do melanoma altamente maligno e altamente metástico, sobrevivendo os pacientes que fizerem diagnostico bem precoce.

 

É comum sentir febre após o bronzeamento, seja ele natural ou artificial?
 

Sim, mas isso acontece mais comumente em pessoas que exageram na exposição solar ou a radiação ultravioleta. Estudos recentes indicam que a exposição prolongada a radiação ultravioleta reduz as defesas do organismo, tornando o indivíduo mais sujeito a doenças nesse período. Por exemplo, Herpes, Lupus e outras fotodermatoses.


Além destas duas formas, existe mais alguma mediante a utilização de produtos químicos?


Sim, os autobronzeadores. Ao contrário do que se imagina, os autobronzeadores nada tem a ver com manutenção da cor da pele. Enquanto o bronzeado natural se dá através da melanina (substância responsável pela pigmentação da pele), o componente básico dos autobronzeadoras é um corante que atua em combinação química com a queratina, formando um composto pardo-amarelado.
Essa reação química confere à pele uma pigmentação castanha, facilmente confundida com o resultado da incidência dos raios solares. Em vez de bronzear, a substância tinge a pele.
Para o corante atuar é necessário a existência da córnea, a camada superior da pele, ou seja, em mucosas ou cicatrizes que não possuem essa camada os autobronzeadores não apresentam resultado.
Além disso, sua atuação não depende do tom da pele, e sim da concentração do produto utilizado. Se o uso diário é interrompido, o efeito de “bronzeamento” desaparece espontaneamente em cerca de quatro a dez dias.
O maior problema causado pelo uso dos autobronzeadores é a incidência de manchas resultantes do excesso desigual do produto em uma região específica.
Para evitar que isso aconteça, a cosmetologia moderna tem utilizado a nanosfera dihidroxiacetona, uma substância que permite a liberação gradativa dos princípios ativos do produto, evitando concentração em determinada região e tornando a coloração mais homogênea.
Caso você decida usar um autobronzeador para manter sua aparência, procure no rótulo se essa substância compõe o produto.
Embora não haja contraindicações ao uso desses produtos, é importante tomar cuidado com reações alérgicas. Casos de dermatite eczematosa de contato (pele avermelhada, com irritações e coceiras intensas), causada por substâncias autobronzeadoras tem sido observadas em pacientes. Se você realmente for fazer uso desse tipo de produto, não deixe de fazer um teste para saber se você terá reações alérgicas a ele. Caso apareça alguma irritação, procure dermatologista.

Quem tem pele oleosa e com tendência à acne deve tomar mais cuidado?
 

Sim. Principalmente em usar produtos como filtros solares e cremes hidratantes livres de óleo e toque seco, pois o excesso de oleosidade na pele favorece o aparecimento e piora da acne.

Como conciliar o bronzeamento natural com autobronzeadores?

Eu não indico o bronzeamento natural devido ao efeito cumulativo da radiação ultravioleta que acumulamos ao longo da vida e quanto mais acumulamos, mais cedo instala-se o envelhecimento precoce e câncer de pele, por isso dar sempre oportunidade para os autobronzeadores, é claro se não for alérgico ao produto, pois nesse a maior preocupação seria uma dermatite de contato enquanto com o outro ( exposição a radiação ultravioleta) esse efeito cumulativo além de causar o envelhecimento precoce, manchas ( melanoses solares, leucodermias gutatas solares), podem levar ao câncer de pele.
Dar preferência aos autobronzeadores, apesar de outras áreas medicas indicarem o banho de sol devido a manutenção da vitamina D. Na dermatologia preferimos repor via oral a vitamina D, e pouparmos os nossos pacientes desses inconiventes ( envelhecimento precoce e câncer de pele).

Manchas após o bronzeamento natural pode ser princípio de câncer de pele?

Nem sempre. Mas é muito importante a avaliação de um dermatologista em todas as manchas que se formarem ou que se modificar (tamanho, coloração, bordas e sensibilidade) após exposição solar, para tratamento e exclusão de possível célula cancerígena.