Beneficiário do “Minha Casa Minha Vida” anuncia venda do imóvel pelo Facebook

20 de Agosto de 2025

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Beneficiário do “Minha Casa Minha Vida” anuncia venda do imóvel pelo Facebook
As denúncias de beneficiários do programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal, que ganharam um imóvel no Jardim São Francisco e agora estão os vendendo, são recorrentes. Porém, o que se viu essa semana em uma rede social foi um exemplo de ousadia ou ignorância.

Um dos beneficiários anunciou, no Facebook, a venda de sua casa. De acordo com o programa, os imóveis, que são subsidiados com verbas públicas, só podem ser vendidos legalmente após dez anos da aquisição, período previsto para a quitação das prestações subsidiadas. 

Quem infringe essa norma está utilizando recursos públicos para especulação imobiliária, o que incide em conduta prevista na Lei 7.492/86. O artigo 20 dessa lei diz que é crime financeiro “aplicar, em finalidade diversa da prevista em lei ou contrato, recursos provenientes de financiamento concedido por instituição financeira oficial ou por instituição credenciada para repassá-lo”. A pena prevista para o crime é reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.

Fingindo ser um possível comprador, o CIDADÃO entrou em contato com o proprietário do imóvel por meio do telefone que constava no anúncio. Do outro lado da linha, o beneficiário informou o valor de sua moradia e garantiu a legalidade da transação.

“Estou pedindo R$38(mil). Está tudo certinho, no meu nome mesmo”, disse quando perguntado sobre o valor e no nome de quem estava o imóvel. Questionado sobre a legalidade da transação, o vendedor garante: “Pode, pode sim. A gente vai lá no cartório, reconhece firma, tudo certinho”, completou.

Na sequência, o infrator ainda relatou uma série de melhorias que teria realizado em seu imóvel, para afirmar que se trata de um bom negócio e completa dizendo que a prestação a ser assumida é de apenas R$60.

“Já gastei mais de R$25 mil lá. Fiz uma cozinha de 6,5m por 3,5m, construí outro banheiro, garagem para dois carros, lavanderia, murei tudo por minha conta (...). A parcela é R$60, baratinho, com R$6.200, quita”, destacou.

O CIDADÃO irá preservar o nome do beneficiado, mas se compromete a repassá-lo às autoridades em caso de abertura de processos de investigação.

OUTRO LADO

Procurada, a Prefeitura informou que “não tem mais responsabilidade com o referido projeto, que é um programa do Governo Federal”.

Questionada, a Caixa Econômica Federal enviou a seguinte nota:

A Caixa informa que a comercialização do imóvel do programa, sem a respectiva quitação, é nula e não tem valor legal. Esta condição está prevista em contrato e os beneficiários são informados na data do sorteio das unidades habitacionais e também na data da assinatura do contrato. A Caixa ressalta que vai verificar a denúncia em questão.

Quando há denúncia do descumprimento desta regra, a CAIXA notifica os moradores para que comprovem a ocupação regular do imóvel. Caso fique comprovada a venda do imóvel para terceiros, a CAIXA protocola notícia-crime na Polícia Federal e adota medidas judiciais cabíveis, no sentido de buscar a rescisão do contrato e a reintegração de posse do imóvel.

A CAIXA esclarece que não é proibida a venda do imóvel da faixa 1 do Programa Minha Casa, Minha Vida (destinados às famílias com renda de até R$ 1.600,00), desde que seja quitado o valor da dívida e devolvido o subsídio recebido do Programa, conforme previsto na Lei nº 11.977/2009 e em contrato.

A CAIXA, recentemente, ampliou o convênio com a COFECI  para que este, por meio dos CRECI, auxilie também na fiscalização de eventuais comercializações irregulares de imóveis no faixa 1, inclusive no que se refere à atuação de corretores e imobiliárias.

A CAIXA informa ainda que o Programa Caixa de Olho na Qualidade tem objetivo de atender aos beneficiários do MCMV. O telefone é  0800.721.6268 e a ligação é gratuita.

O Ministério Público Federal também foi procurado pela reportagem e não se pronunciou.