Fernandópolis e as dependências do Grupo Scandiuzi de Comunicação receberam essa semana a visita de um ilustre cidadão votuporanguense, o senhor Nasser Gorayb, considerado um dos responsáveis pelos tempos de paz política que vive a cidade vizinha. Nascido em Nova Aliança, São Paulo, no dia 25 de agosto de 1938, filho de Felicio Gorayb e Cacilda Salgado Gorayb, o entrevistado dessa semana trouxe consigo um presente: o CD “Assim escrevi”, uma coletânea de 500 artigos de sua autoria publicados no jornal A Cidade de Votuporanga. Gorayb é morador de Votuporanga, mas, já residiu por tempos em Fernandópolis sendo, inclusive, o responsável pela implantação da primeira revenda Chevrolet da cidade, a Sarita Veículos, que ficava na Avenida Expedicionários Brasileiros. O importante empresário regional falou com exclusividade ao CIDADÃO sobre a experiência como colaborador de um dos mais tradicionais jornais de Votuporanga, da política de paz, que ajudou a implantar por lá e da união regional que se faz necessária para o
desenvolvimento do noroeste paulista.
Sente saudades de Fernandópolis?
Posso te confessar uma coisa? Vou dizer aqui o que pouca gente tem coragem de falar, mas eu tenho. Existe uma rivalidade estúpida entre Fernandópolis e Votuporanga, sempre pensei assim. Eu adoro Fernandópolis. Moro em Votuporanga, mas adoro Fernandópolis. Tive uma vida muito gostosa aqui, tive e tenho grandes amigos, meus filhos estudaram em ótimas escolas de Fernandópolis eu ganhei meu arroz e feijão aqui também. É a nossa região. Nós temos que respeitar isso.
A razão de sua visita aqui é nos presentear com um CD que contém 500 artigos de sua autoria. O senhor se considera uma pessoa disciplinada? Afinal escrever 500 artigos para um jornal requer muita disciplina, além do talento que o senhor tem, é claro.
Acho que não deixa de ser uma disciplina, não. São 500 semanas, uma ou outra o jornal até não rodou, como vocês dizem, então se pula essas semanas, o que podemos dizer que foram mais de 500 semanas de comprometimento em dar os palpites na vida da minha cidade, que no caso agora é Votuporanga e da região, que adoro muito.
Rigorosamente estão todos os artigos nesse CD, ou o senhor selecionou 500?
Todos estão no CD. Já fiz uns 15 ou 20 depois, mas agora parei. Quero um pouco de sossego.
Teve algum tema que escapou? Algo que o senhor gostaria de ter escrito a respeito e não o fez por falta de tempo ou oportunidade?
Penso que não. Acho que até exagerei um pouco nos temas, mas tudo aquilo que ao longo do tempo fui escrevendo são coisas contemporâneas e, ainda, infelizmente, são coisas contemporâneas como os defeitos políticos e administrativos de nosso país e de algumas cidades também, mas acho que abrangi todos de alguma forma. Sempre procurei não ofender as pessoas, não sei se isso aconteceu e se aconteceu eu peço desculpas, nem me dirigi diretamente a alguma pessoas para que ela perdesse o sono naquela noite. Jamais, eu nunca tive esse pensamento. Procurei ajudar e se atingi esse objetivo fico feliz. Se alguém entendeu diferente eu peço desculpas.
Com esse espírito conciliador, dentro dessa nova mentalidade política que surgiu em Votuporanga, e tem produzido bons resultados, sem dúvida, o senhor tem a sua parcela de contribuição. Por meio da leitura de seus artigos as pessoas foram entendendo que era necessário buscar a paz e o fizeram. Concorda com isso?
Se eu falasse o contrário não estaria sendo verdadeiro. Fiz parte, sim. Faço parte disso em Votuporanga há 52 anos e tento passar isso para a região por meio de grandes amigos que tenho em algumas outras cidades. É preciso haver uma educação no entendimento em todas as cidades. Ninguém é obrigado a seguir a mesma linha política do outro, mas entender o que é melhor para o bem estar de uma cidade é preciso. Não custa nada às pessoas sentarem e conversarem. Diante disso eu acho que fiz parte sim, me esforcei demais. Tiveram alguns momentos até bastante tensos para que pudéssemos fazer isso, mas junto de grandes amigos que tenho lá e muitas pessoas de Fernandópolis também, Cardoso, Nhandeara, a gente conseguiu levar um pouco a frente esse tipo de pensamento.
A maioria dos grupos de Votuporanga aderiu a esse pensamento, mas e os descontentes, a chamada oposição, o que aconteceu com ela?
Quando se tem o diálogo de todos os lados acredito que já não existe mais oposição. Cada um pensa de um jeito, mas no final das contas todos se perguntam: o que é bom para cidade? Para região? Se é bom, todos se unem e ajudam a empurrar esse “caminhãozinho” para cima, porque se não a coisa desaba.
Votuporanga também teve as suas brigas, afinal, em todo lugar há disputa por poder. O senhor se lembra de quando que foi plantada essa “sementinha da paz”? Qual foi o motivo?
Quando chegou o capitão Almeida, que foi prefeito nos anos 50. Esse homem veio com um espírito mais de apaziguador, procurava se entender mais com as pessoas. Não estou dizendo nada do antecessor dele que foi o João Leite, jamais, mas havia ainda aquelas políticas antigas do estado de São Paulo, do Brasil. Já o Almeida veio mais aberto, tranquilo. Logo em seguida veio o senhor Nabuco, depois vocês nos emprestaram o Dalvo Guedes. O Almeida e o Dalvo, mesmo adversários, conseguiram implantar essa política de paz e com isso a cidade ganhou muito.
E nos dias de hoje,qual é o grande projeto de Votuporanga?
Não sei. Não estou na administração. Sou um grande amigo deles todos, mas para eu ir à prefeitura levo às vezes dois meses para tomar um café com o Juninho (Junior Marão). Não sou de ficar enchouriçando a vida dos outros. Ele que foi eleito então que vá trabalhar porque eu quero é tomar cerveja (risos). É assim que devemos pensar. Mas veja bem, Votuporanga já está hoje com seus 90 mil habitantes. Há pouco tempo foi alguém daqui lá para conversar comigo e fez quase a mesma pergunta. Eu disse a ele o que direi agora para você: Fernandópolis já tem quase 70 mil habitantes. Qual a diferença daqui para lá? Talvez a idade, alguma coisa ou outra, mas queira Deus que aqui seja uma grande cidade e que Votuporanga também seja uma grande cidade, afinal, são apenas 30 quilômetros de distância. Eu vim de lá aqui em 20 minutos. Dá muito bem para convivermos. O que não tem aqui, vamos buscar lá o que não tiver lá, que busquemos aqui. Acho que o projeto de lá é bom, assim como o de vocês também é. A nossa região é uma das melhores do estado de São Paulo. Está faltando chuva, tudo bem, mas quantas usinas elétricas nós temos aqui na região? Nós não temos morros aqui que atrapalhem a nossa agricultura, temos tudo àquilo que uma região precisa para ter desenvolvimento. O que precisamos entender é que de Rio Preto para cá nós somos uma região fantástica.
O senhor tem uma boa ligação com o deputado estadual Carlos Pignatari, assim como é amigo do deputado federal João Dado. Como a cidade recebeu a não reeleição de Dado?
Vou lá, ajudo, fui à rua com o Juninho (Marão) pedir votos para o Dado, porque nós achamos importante que a região tivesse um deputado federal. O Dado teve uma votação espetacular em Votuporanga e eu tive uma satisfação enorme em ver numa reunião lá em Votuporanga o Fausto Pinato, o menino que foi eleito aqui em Fernandópolis. Quero dizer, se o Dado não teve oportunidade dessa vez, o que foi uma tristeza muito grande para a cidade, agora nós temos outro deputado da região e que está perto de nós aqui em Fernandópolis. Nós temos que entender isso aqui como uma região. Você falou do Carlão e ele tem entendido perfeitamente isso. Assim como o Pinato tem que entender assim, os de Rio Preto, a mesma coisa e o Itamar Borges tem que fazer um esforço pela região.
Calando-te sempre, darás lugar à injustiça (Publio Siro). Essa frase reflete bem o que o senhor pensa como articulista. Estou certo?
Como disse, agora pouco, todos temos que nos entender democraticamente e educadamente. Se você pensa de uma forma e eu de outra, isso não tem importância. Vamos discutir, vamos conviver e principalmente saber progredir em cima disso. É preciso tirar dos seus pensamentos, e dos meus, o que é melhor e levar para frente. Agora se eu não conto isso para ninguém e você não conta para ninguém, as coisas acontecem na cidade, no estado, no país e a gente não fala, de certa forma, estamos permitindo que os que estão errados assumam certas situações que não deveriam assumir e quem se prejudica com isso é o povo.