“Baguá”: o nadador que sempre defendeu o rodeio

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

“Baguá”: o nadador que sempre defendeu o rodeio

Natação e rodeio. Dois esportes sem muitas semelhanças aparentemente. No entanto, um fernandopolense conseguiu mudar esse paradigma. Rogério Cesar Gomes de Rezende, o “Baguá” chegou a ficar entre os 20 nadadores mais rápidos do mundo quando tinha apenas 17 anos. Além de acumular vários títulos e ter atravessado os Rio Paraná e Paranapanema a nado, Rogério, hoje empresário, sempre foi um amante do rodeio e defensor do esporte. Desde de maio ele está de volta à sua terra natal, com a esposa Emanuele e as duas filhas Júlia e Joana, onde possui forte ligação com as montarias.

“Baguá” também é pai Tiago e Mateus Passarini Rezende, instrutor e piloto de avião e administrador de uma exportadora de peças de avião, respectivamente.

Formado em Educação Física pela ESEFIC - Escola Superior de Educação Fisica e Desportos, Catanduva, Rezende é um dos únicos profissionais da área especializados em natação para deficientes, natação para bebês e gestantes e com formação acadêmica na Amphitheater High School, na cidade de Tucson, Arizona, EUA. Ele também já foi administrador, formador de nadadores em uma das 10 melhores academias do Brasil, dono de abatedouro, tropeiro e, inclusive dono de boiada para rodeio feminino com touros mansos e mochos (sem chifres).

Atualmente Rogério Rezende é o responsável pelo Recinto Percy Waldir Semeghini onde mantém um Centro de Equitação e o Bar Soberano’s.

Você ficou um tempo fora de Fernandópolis. O que te fez voltar e qual o sentimento de retornar a sua terra?

 Em dezembro passado fiquei entre a vida e a morte por causa de uma doença que ficou quase dois meses se instalando em meu organismo. E olha, que nunca fumei e bebi e sempre fui atleta . Quando ela se manifestou estava por um ‘fio’. Era a tal da doença do rato – Leptospirose. Longe da família e amigos, fiquei num leito de hospital por 17 dias entre a vida e morte e só pedia a Deus para que me desse uma nova oportunidade para que eu saisse dessa. Quando me avisaram que eu iria para UTI eu disse: ‘não vou morrer lá não, com ar condicionado três graus abaixo de zero, cinco cobertores em cima e com os pés de fora e longe da minha esposa que é meu esteio, que me cuidava dia e noite sem interrupção, o que eu devo fazer doutor?’. Ele disse para tomar muita água, pois meus órgãos estavam quase paralisados, principalmente os rins. Aí foi quando eu pedi para junta médica em Cuiabá um tambor de 200 litros e um canudinho que eu iria viver. E deu certo.

Quais as aulas oferecidas pelo centro de equitação de Fernandópolis, estabelecido no recinto Percy Waldir Semeghini?

Com a nossa chegada em maio e acertado a devida parceria com a GM Sisto focamos muito nas aulas de Três Tambores , Laço em Dupla (Team Roping), estadia para cavalos e doma racional. Mas já está tendo a procura do Team Penning, Work Penning, Laço em Bezerro, Ranch Sorting e Bulldog, com o qual devemos fazer algo mensal através de eventos.

Considera a equitação uma das mais valiosas ferramentas para a reabilitação? Qual você considera o ponto mais positivo deste esporte?

O cavalo, posso afirmar, que é o melhor amigo do homem como o cachorro também é, mas ele te ensina o que pode e deve ser feito com ele, ou seja, ele dita as regras e se você as cumpre. Você ganha um aliado para o resto da sua vida.

Muitos te conhecem pelo rodeio, mas você já foi um dos nomes mais importantes da natação brasileira. Como foi essa experiência e por que abandonou o esporte?

Como atleta nadador profissional fui recordista do campeonato paulista nos 50 metros nado livre, campeão paulista nos 50 e 100 metros nado costas, finalista no campeonato brasileiro por várias vezes, 5º colocado nos 50 metros costas e 6º colocado nos 50 metros nado livre no Campeonato Sul-americano de Natação, campeão várias vezes dos Jogos Regionais do Interior e finalista entre os melhores dos Jogos Abertos do Interior, campeão nos 50 metros nado livre e 100 metros nado costas do Junior National Olympic Championship, em Phoenix, capital do Arizona,EUA, que me deu um título na época que me classificou entre os 20 melhores nadadores mais rápidos no 50 metros livre do mundo, com apenas 17 anos na categoria. Ah, como foi bom!

Mas fui criado sempre lidando com o mundo sertanejo principalmente pela tradição da minha mãe, a “tia Elza”. Está no sangue.

O que leva um nadador a ser tropeiro e professor de equitação?

Paixão pelos cavalos e por touros. Isso vem de infância quando na fazenda, em Macedônia, eu entrava com o cavalo na represa ao lado da fazenda da tia Carmita e ficava nadando com eles e pulando na água.

Hoje em dia é só joguinho na internet e no tal do ‘zap zap’ (Whats app) as crianças de hoje talvez desconheçam o que é andar à pelo (sem arreio ou cela).

Você já se aventurou atravessando alguns rios a nado. Quais você julga serem as experiências mais arriscadas?

Atravessei o Rio Paraná em Ilha Solteira que deu aproximadamente 9 km, mas foi tranquilo, aquele dia as ondas estavam quase dando dois metros. Foi emocionante, mas a que mais pegou mesmo foi o Rio Paranapanema, na divisa, pois foi somente 4 km de pura correnteza. Enquanto eu nadava ficava de olho para trás no meu irmão caçula. Quando eu não o via eu parava no meio do rio. Acabei passando do ponto de chegada e custou voltar nadando contra correnteza. Não foi mole, tem de ser ‘Baguá’ mesmo .

Alguns dos seus filhos estão seguindo os passos do pai, seja nadando ou no lombo de um cavalo?

Meus filhos Tiago, 26, e Mateus, 22, moram nos Estados Unidos, em Denver, Colorado, há 10 anos. Bem dizer foram para estudar e nadar e são campeões também por lá com vários títulos e recorde paulista também. Já a Júlia, 10, e a Joaninha, 5, são cavaleiras ganhadoras de prêmios por onde passam. Tem o sangue da mãe Manu que com 36 anos ainda compete provas oficiais. Têm a quem puxar.

Boa parcela de Fernandópolis conhece sua ligação com o rodeio, que já foi motivo de polêmica na cidade. É favor de importar o circuito?

Fui tropeiro até o ano 2000 e se passou muito de lá para cá, mas Fernandópolis tem de aceitar que hoje, 2014, nós fernandopolenses não temos boiada e nem tropa de cavalo no município, ou seja, temos de trazer de fora.  Mas temos ótimos locutores em nível nacional, peões e cavaleiros do mais alto gabarito, os melhores profissionais em som e iluminação do Brasil, juízes competentes e filhos da terra, o CEF - Centro de Equitação de Fernandópolis que nos trará a tranquilidade das provas equestres e de velocidade. Estamos, por enquanto, entre as cinco melhores festas do Brasil e podemos melhorar. Agora, indiscutivelmente temos hoje, se não for a melhor é sem dúvida a mais bonita e confortável arena do Brasil - Arena Crystal. Vários empresários apoiam a festa e essa privatização, que a meu ver foi o melhor para a exposição do município e para Prefeitura, pois até então em algumas festas eram somente aparências e cargos sem ‘know-how’, isso não funciona. Agora com a privatização o carro de boi anda e “sem chorar”.

As provas dos Três Tambores, Work Penning, Tean Roping e afins merecem mais espaço no rodeio? O que fazer para que tenham a mesma atenção que as modalidades em Touro e Cavalo?

Pelo que vi e participei em Mato Grosso e aqui em São Paulo ficou a desejar. Tive a oportunidade de ver minha filha Joaninha na época com três anos ser aplaudida de pé por 15 mil pessoas na festa em Nova Mutum -MT e isso emociona e mexe com o público. Se não igual é até mais do que um touro pulando. Por que não organizar melhor os horários e datas a serem exploradas para estas provas? E sem deixar o brilho que o rodeio em touros e cavalos nos apresenta. Isso chama, a meu ver: ‘organização’, sendo que logo após o rodeio começa o show.  Isso é tranquilo.

Qual sua opinião a respeito dos movimentos para a extinção do rodeio? Acredita que há maus tratos dos animais ou não se pode generalizar?

Sou eu quem perguntaria para os defensores dos animais. Quantas vezes os senhores tomam vermífugo por ano? Vão ao dentista fazer exames odontológicos? Há nutricionista em sua alimentação diária? Essa alimentação é sempre no mesmo horário ou às vezes escorrega um dia só no salgadinho? Fazem as unhas dos pés e calos regularmente? Fazem exames de sangue  frequentemente a cada 60 dias? Os senhores se transportam em carros em baixa velocidade, almofadados por dentro e com o máximo de cuidado nas freadas, curvas e lombadas?  Recebem visita de um médico periodicamente para fazer ao menos um exame clínico? Fazem exercícios diariamente para manter a forma de atleta?

Falta informação para quem critica?

Por que os defensores dos animais não se interessam em paralisar os grandes latifundiários e fazendeiros que ainda transportam suas boiadas de 1 mil ou mais cabeças de gado acompanhadas das tropas por 30 ou até 60 dias em estradas sem o que comer, sem água limpa, muitas vezes passando dor, mancando e atravessando rios a nado,vacas apartando dos seus bezerros recém nascidos ou até mesmo parindo no caminho, causando até mesmo acidentes nas estradas e com vítimas?  Querem seus nomes, fazendas ,CNPJ e CPF? Conheço vários lá em Goiás e Mato Grosso, vão lá.

Crê no fim do rodeio?

Se não houver mais rodeio por causa dos tais defensores dos animais o que será do hospital de câncer de Barretos, onde milhares de pessoas são atendidas sem custo algum? E os leilões beneficentes? E a arrecadação que tivemos aqui na festa para AVCC? Os almoços? E shows? Eles poderiam se unir ao SUS, aí sim veremos quem é quem.

Qual seria o maior prejuízo caso isso ocorresse?

As entidades beneficentes.  Todos nós sabemos que grande parte é movida pela arrecadação de rodeios, shows de artistas que doam seus cachês, leilões... enfim, nas festas de peão.  Nós brasileiros temos de saber exatamente em quem votar. Saco vazio não para em pé e isso tem de ter fim. São vários anos de ‘encheção de saco’ e não entra nem um ‘Baguazão’ da vida para que isso acabe.

Eles que procurem outro emprego, isso sim, e quem sabe eles não são todos parentes, nepotismo, ou farinha do mesmo saco.

Por fim, o que mais lhe proporciona prazer nessa vida recheada de histórias: a natação ou o rodeio?

A natação é minha formação, e graças a ela estou vivo hoje depois da doença, pois proporciona um físico bem avantajado. Estou prestes a completar meio século de histórias e felizmente nas minhas raízes e origens meus dois avôs eram do meio rural e tenho isso na veia. Nunca tive um carrinho de controle remoto, mas tenho um touro mecânico e por aí vai. Além disso, já fiz uma criança com deficiência física e mental andar dentro da piscina e ensinei a nadar. Isso foi gratificante.