Aparecido Junior: o “pai” do Powerlifting

20 de Agosto de 2025

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Aparecido Junior: o “pai” do Powerlifting

Com o esporte Powerlifting (Levantamento de Peso) ganhando cada vez mais notoriedade principalmente em Fernandópolis pela participação de dois atletas no campeonato mundial que será realizado em Las Vegas, Nevada, EUA, no mês de novembro, buscamos as origens do esporte na cidade. O pioneirismo e o incentivo à modalidade em Fernandópolis têm nome: Aparecido de Oliveira Junior, ou simplesmente Juninho da Academia Movimento. Fernandopolense de coração, o empresário e personal trainner comprou sua primeira academia em 1993, a Boa Forma que mais tarde se fundiria com a Academia Movimento, da proprietária Roseli Alcântara Augusto Rodriguez. A parceria profissional acabou em casamento, o que fortaleceu o nome do empreendimento e possibilitou o surgimento do esporte que teve participação do amigo e fiel companheiro professor Herivan Ximenes. Alvo de brincadeiras, poucos sabem que Aparecido Junior já foi ajudante de alfaiate costurando barras de calças, fretista com o pai, serralheiro, servente de pedreiro, modelo, goleiro, fisiculturista, cortador de arroz, mecânico consertando radiodores e ajudante em uma loja de móveis. Juninho é técnico em musculação pela FPP – Federação Paulista de Levantamento de Peso e pela CBLB – Confederação Brasileira de Levantamentos Básicos, além de possuir registro junto ao CREF – Conselho Regional de Educação Física.

 

 

Você veio para Fernandópolis aos 5 anos, mas nasceu em Votuporanga. Se considera mais fernandopolense do que votuporanguense?

Sou fernandopolense. Se pudesse trocar o registro mudaria.

Antigamente era maior o preconceito com praticantes de musculação?

O preconceito sempre existiu. Hoje existe, mas é pouco. Se a população vê um cara forte na rua diz que é anabolizado. Se olharum forte com uma camiseta é homosexual. Antigamente era pior, mas sempre teve.

Como vê o uso de anabolizantes daquela época em comparação com os dias de hoje? Qual sua orientação?

Sempre existiu. As pessoas buscam o uso de anabolizantes porque quer sempre um caminho mais fácil e mais rápido. Eles acham que o caminho é fácil, mas se torna difícil também. Sempre terá essa procura, infelizmente, apesar de hoje ser maior, a procura e o uso. Tem dois banners na academia há 15 anos que tem os seguintes dizeres: não comercializamos, não incentivamos o uso de anabolizantes. Hoje em dia, a maioria já nem me procura, pois corto logo na raiz para evitar conversas. Minha postura é de 100% contra o uso dessas substâncias.

Como foi sua iniciação no esporte Powerlifting?

Participei de um campeonato em Votuporanga em 1998 e fui campeão. E de lá para cá nunca mais parei, ganhando vários títulos e até hoje tentando me aperfeiçoar mais.

Quais suas principais conquistas nesse esporte? Dá para elencar os principais nesse extenso currículo?

Os mais prazerosos para mim são o Campeonato Paulista, Brasileiro e Mundial, sem dúvida. Após uma lesão que sofri no cotovelo, em 2008 voltei a competir e conquistei quatro títulos mundiais, Etapa Brasil, quatro vezes campeão brasileiro e quatro vezes campeão paulista, nas modalidades Levantamento Terra e Supino. A maioria deles no Supino.

Pode se afirmar que você é o “pai do Powerlifting em Fernandópolis”?

Com toda certeza. Quando começamos não existia o esporte na cidade. Na época quem começou fomos eu e o professor Herivan Ximenes, que treinava comigo. Chegamos a ir para campeonatos sozinhos. Era só eu e ele.

Quais são as modalidades do Levantamento de Peso e como é cada uma delas?

No Levantamento Terra o peso fica no chão o juiz dá a ordem, você sobe a barra até a linha de cintura com os braços esticados, encaixa os ombros para traz, mantém a postura ereta e aguarda ele dar o “ok”, aí você desce o peso novamente. No Supino uma pessoa te ajuda a tirar o peso do cavalete, porque as vezes é muito pesado, espera o árbitro autorizar descer o peso no peito, sem alavanco, sem soco, sem mexer os pés ou a cabeça e sobe novamente a barra até esticar o braço. Isso tudo deitado. Já o Agachamento, você tira a barra do suporte com a barra na nuca entre os ombros e o trapézio, dá um passo para trás, aguarda ordem do árbitro para agachar, agacha até praticamente encostar as pernas alinhadas no glúteo e sobe novamente. Parece simples, mas com peso não é.

O que mais lhe agrada: Powerlifting, Fisiculturismo ou Futebol?

Powerlifting. O levantamento de peso é mais prazeroso.

O fato de você gostar mais desse esporte é o que faz Fernandópolis ter tantos competidores e com tamanha qualidade?

Com certeza, pois a gente faz isso com amor, com carinho e sem pensar em dinheiro.

Como identificar um talento para o levantamento de peso e posteriormente incentivá-lo à prática do esporte?

A maioria das vezes parte da gente. Você nota que o aluno é diferenciado, você percebe quando ele tem algo a mais, tem um brilho na hora de levantar o peso. Ele levanta o peso dando risada.

Quanto aos jovens Renan Moreno e Alex Miqueloni, que representarão o Brasil no Mundial. Ambos têm uma extensa lista de títulos. O que você enxergou neles para apoiá-los?

Quando o Renan entrou na academia, era moleque ainda, baixinho gordinho e aos poucos percebemos que tinha força, determinação, sempre procurou aprender, sempre queria mais e aconteceu. É brilho dele, brilho da academia, ou seja, um incentivou o outro. Nesse esporte nosso você nota o biótipo da pessoa. O Renan, por exemplo, tem biótipo para o supino. É baixinho, gordinho, com braços curtos, peito alto, caixa torácica maior, o movimento é mais curto. A envergadura fica melhor, é mais fácil para ele. Já o Alex é um cara alto, muito forte. Eu bato o olho e já noto.

O Renan te surpreendeu ao ser campeão mundial no ano passado?

Não. A vitória dele era certa. Hoje, na categoria dele, ele é o número 1, é o melhor. E o Alex está trilhando o mesmo caminho. Será o número 1 em pouco tempo.

Ficou satisfeito com a conquista do auxílio financeiro da Prefeitura para eles participarem do Mundial?

Sinceramente não acho justo. A Prefeitura concedeu R$ 12 mil para os dois viajarem e representar o Brasil, mas essa quantia poderia ser destinada à equipe e supino de Fernandópolis. Já cansei de tirar dinheiro do bolso para pagar inscrição para atletas que não tinham condições. Muitos não tinham dinheiro nem para comer e sempre pagávamos. Então não é justo dois atletas ganharem R$ 6 mil cada para representar Fernandópolis nos Estados Unidos. Eles têm os méritos deles, mas esse dinheiro poderia ser destinado aos 20 atletas.

Em suma, o que falta é uma valorização contínua na equipe?

Sim. Ao invés de dois poderíamos ter 15 atletas convocados para a seleção brasileira. Se hoje tivesse 10 convocados eles não iriam bancá-los. E depois que participarem do mundial? E a continuidade do trabalho? Até quando vamos bancar isso. As vezes atraso meu aluguel, a conta de água, energia, para pagar inscrição e levar essa molecada para competir. Já disseram que não vou atrás de apoio, mas já tentei várias vezes, tentei ônibus, mas me disseram que a administração passada deixou a frota toda quebrada. Sempre que você vai à Prefeitura eles batem a porta na sua cara.

Essa desvalorização é geral, ou você culpa apenas as prefeituras de não incentivar o esporte?

É geral. Não é só Prefeitura, apesar de que se quiserem dão conta de ajudar, nem que seja com o veículo apenas. Na outra gestão eu consegui o ônibus, mas eu que abasteci por duas vezes. Mas para pegar o ônibus e abastecer eu vou com meu carro. Vou ficar até quando ouvindo “não”.

Somos em 20 atletas e nenhum paga mensalidade. É um forma que tenho de contribuir o amor que tenho ao esporte. Não quero que acabe algo que comecei. É algo que está aqui dentro. Penso que se eu não fizer quem vai? Se eu não tivesse começado lá atrás não existiria Renan Moreno, nem Alex nem Duzão (Eduardo Saraiva, personal)... Mas no que depender de nós o Powerlifiting nunca vai acabar. Nós plantamos isso e ainda vai longe.

Vendo o Brasil sendo o país do futebol, te deixa triste saber que os levantadores de peso competem por amor ao esporte? Acredita que vá ter a valorização que merece um dia?

Não vai. Infelizmente não. Bem que eu queria. Primeiro porque não é um esporte olímpico, outra que é um esporte ridicularizado pela maioria. Quando você vê um cara do powerlifting você já julga que ele usa anabolizantes. Não sabe que ele leva uma vida regrada, segura a “noitada”, a “cervejada” para se preparar para uma competição. Ninguém vê isso. É complicado. Não será reconhecido nunca. E muitos que julgam, afetam mais o fígado com cerveja do que o cara que toma anabolizantes. É mais fácil falar do que toma anabolizante porque o corpo dele atrapalha a visão do outro.

Você está entre os três melhores do Brasil em sua categoria e certamente será convocado para o mundial do ano que vem. Você irá representar o Brasil no EUA? Vai tentar o mesmo auxílio na Prefeitura?

Fui tetra campeão mundial de supino Etapa Brasil no último dia 6 levantando 200kg da categoria Master I (40 a 50 anos). Tudo indica que serei convocado para representar o Brasil nos Estados Unidos em 2015, mas trocaria qualquer patrocínio pela equipe. Vou pedir o auxílio, mas se conseguir não vou viajar, vou destinar ao grupo. É mais justo.

A equipe da cidade é um expoente no estado?

De Catanduva para cá, não tem equipe melhor que a nossa. Apenas o presidente da Federação Paulista já foi para os Estados Unidos competir o mundial, e de lá para cá somente o Renan Moreno. Para ver a importância nossa. Rio Preto não tem atleta, Jales não tem atleta, Votuporanga também não. Duas vezes fomos a melhor equipe do Brasil. Três vezes melhor equipe do estado de São Paulo. Tire a conclusão. Não é à toa. É treino e dedicação.

Qual conselho para aqueles que querem competir?

Força todos têm. Na hora do desespero você percebe a força que tem. Precisa faze r uma adaptação, ter uma boa dieta e o atleta mesmo vai descobrir. Sempre alguém percebe se é bom. Vai descobrir no dia a dia.

Fica feliz a cada novo competidor que surge por ser mais um a perpetuar o esporte?

Fico feliz porque é mais um treinando, mais uma pessoa saudável, mais um longe das drogas e mais um irmão ao nosso lado.

Ficou surpreso com a morte de um competidor da sua equipe em 2012?

Achei que não me perguntaria isso. Foi um choque. A pior competição que fiz na minha vida foi logo após a morte dele (Renato Barbosa). Queimei as três batidas com o peso que eu levantava tranquilo na academia. Entrei em desespero. Chorei muito. Quase entrei em depressão. Ele só fala coisa positiva, jamais reclamou da vida. Foi muito triste. Até hoje quando disputamos sempre sinto que falta alguém.