Escassez eleva preço de areia em quase 50%

20 de Agosto de 2025

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Escassez eleva preço de areia em quase 50%

A areia, que parece algo simples e abundante, está em estado de alerta. Essencial para a construção civil assim como pedra, água e cimento, a escassez de areia em detrimento da falta de chuvas tem causado impacto econômico no setor da construção civil. O material mineral que tinha o metro comercializado, até o início do ano, a R$ 55 já sofreu aumento nas distribuidoras em 45%.

Com queda na retirada de areia algumas mineradoras já não suportam a demanda e as distribuidoras de areia na cidade têm de buscar o material em mineradoras mais distantes, inflacionando o preço do frete. Assim, atualmente o metro da areia tem sido comercializado a R$ 80.

“O problema não é nem ter que pagar mais caro, é de realmente não ter areia para dar conta da demanda. O consumo não aumentou, o produto é que diminuiu”, contou o empresário Paulo Rodrigues Donato, da Compar, distribuidora de pedra e areia em Fernandópolis, responsável pela distribuição de 1000m³ mensalmente.

Paulo disse ainda que nesta semana os atrasos ocorreram praticamente todos os dias tendo que se deslocar a outros portos para conseguir comprar o material. “Eles (mineradoras) tem as normas a seguir e limites para a extração. E por isso, quando uma mineradora não tem para fornecer temos que buscar outras mais distantes daqui. Geralmente buscamos em Mira Estrela, mas já estamos buscando algumas viagens de caminhão até Santa Clara d’Oeste, Populina, Rubineia e Cardoso. Liguei até em Araçatuba, mas o que eles têm já não é suficiente nem para a região deles. Até lojas de materiais para construção de Rio Preto nos procuraram, mas não temos nem para o que precisamos na cidade”, explicou o empresário.

Além das mineradoras da região sofrerem com escassez de chuvas, uma delas, estabelecida entre os municípios de Mira Estrela e São João do Marinheiro, encontra-se sem estoque algum de areia, porém, em virtude do acidente com uma das dragas que tirou a vida de um funcionário no dia 30 de agosto. A empresa Porto Dourados era uma das alternativas buscada pela Compar, que agora se esbarra em mais este empecilho na busca pela areia.

Embora enfrentando problemas com a logística, Paulo Donato não teme a paralisação de obras na cidade. “Parar não para não. Se não tem em um lugar a gente tenta em outro e assim vai tocando o barco”, disse ele que crê na volta das chuvas em abundância.

Quem também não acredita na paralisação das obras, boato que surgiu no início do mês, é o empresário André Lemes Martins, da São Pedro Materiais para Construção que está no ramo há nove anos e vende de 80 a 100m de areia por mês. “Ainda não há falta de fato, mas já começaram os atrasos e algo que nunca foi problema passou a ser. Na sexta-feira, 19, precisei de areia cedo e o caminhão só chegou à tarde. Foi preciso aguardar e buscar no porto de Santa Clara d’Oeste. Os rios estão secos e se não chover aí sim irá parar”, contou André.

André explicou que o prejuízo vai além do aumento no preço do material em escassez. “O problema está afetando não só a venda de areia, mas também de cimento, tijolo e outros itens que fazem parte da construção civil, fora que se falta areia o pedreiro fica parado esperando”, lembrou Martins.

Em contato com o secretário de Obras de Fernandópolis Carlos Eduardo Medrado, para saber se a escassez de areia poderia afetar as obras públicas como a construção da UPA, conjuntos habitacionais e reformas de unidades básicas de saúde, ele explicou que existe cerca de 15 obras em andamento no município, porém todas em estágio mais avançados que já não requer o uso de areia e que nenhuma construtora informou o problema.

No mês de julho, o Diário da Região veiculou uma matéria já alertando os problemas da seca e citou a dificuldade na extração de areia. “No Porto de Areia de Água Vermelha, a seca obrigou os funcionários a duplicar o alcance da captação para conseguirem  ligar a balsa, posicionada no leito do rio, até o local de depósito da areia. Foram necessários 10 metros a mais de tubo de ferro e 10 metros de mangueiras para abastecimento das máquinas”, informou a matéria.

A reportagem do CIDADÃO também entrou em contato com o Sindareia – Sindicato das Indústrias de Extração de Areia do Estado de São Paulo, mas não obtivemos resposta até o fechamento da edição. Também em contato com o Porto Areia Saara LTDA, mineradora instalada em Mira Estrela, principal fornecedor de Fernandópolis e que pertence à Demop Construções LTDA de Votuporanga, ninguém comentou o assunto.

SECA

Embora o princípio de um temporal tenha sido responsável por mais uma chuva na região nesta semana, a terceira do mês de setembro, a falta de chuvas continua sendo o fator determinante na diminuição do comércio de areia pela inviabilidade de retiradas. Neste ano a escassez tem sido tema de pesquisas e debates sobre racionamento de água, que já vem ocorrendo no país. De acordo com estudos do Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos do governo paulista, a grande seca que assola o Estado de São Paulo é a pior dos últimos 85 anos.

Já o IAG - Instituto de Astronomia e Geofísica, da USP - Universidade de São Paulo, aponta que esta foi a temporada com menos chuvas desde 1969. É o 13º ano mais seco desde que as medições começaram, em 1934.

Em Fernandópolis, por exemplo, foram registrados em 2014, 586 mm de chuva, 87 mm a menos em relação ao mesmo período do ano passado (janeiro a setembro). A última chuva em Fernandópolis foi registrada na última quarta-feira, dia 24, quando os pluviômetros captaram 35 mm. Este mês, ainda foram registradas chuvas no dia 3 (10mm) e no dia 22 (26mm). Em 2014, o mês mais chuvoso foi o de março com 195 mm.

De acordo com meteorologistas do Climatempo, a Primavera, que começou na última segunda-feira, 22, deve ser caracterizada por temperaturas um pouco acima do normal para a estação e por chuvas dentro do normal na maior parte do país. Apesar disso, as chuvas não devem ser suficientes para resolver o problema de falta d’água nos reservatórios.

Na Usina Hidrelétrica José Ermírio de Moraes, a Usina da Água Vermelha, os reservatórios estão com 19,35 de sua capacidade total. Como a medição feita corresponde ao volume útil que pode ser utilizado na geração de energia, mesmo que chegue a 0% o rio não chega a ficar seco.