O profissional em psicologia vem ganhando cada vez mais notoriedade e valorização dentro da sociedade. Na última quarta-feira, 27, foi comemorado nacionalmente do Dia do Psicólogo e para saber um pouco mais sobre estes profissionais que ajudam pessoas a encontrar os caminhos para a solução de seus problemas que elas por si mesmas não conseguem enxergar sozinhas, motivando-as e ajudando no convívio social harmonioso, nós entrevistamos uma das mais conceituadas e experientes psicólogas de Fernandópolis para responder as mais variadas questões relacionadas ao comportamento e aos processos mentais.
Em Fernandópolis desde 2005, a sorocabana Vilma Betariz Teixeira Croco de Oliveira é graduada em Psicologia tanto em Formação de Psicólogos, como em Licenciatura em Psicologia. Vilma possui pós-graduação em Didática e Metodologia do Ensino Superior e mestrado em Psicologia na Universidade Católica Dom Bosco, em Campo Grande – MS na área de concentração: Saúde Mental e Sociedade.
Vilma Beatriz veio a Fernandópolis para coordenar o curso de Psicologia da FEF cargo que ocupou por cinco anos. Nesta entrevista ela fala sobre a importância deste profissional na sociedade, valorização da classe, campo de atuação, stress e ainda assuntos contemporâneos envolvendo a auto-promoção por meio das redes sociais.
Na última quinta-feira, foi comemorado o Dia do Psicólogo. Qual a importância de uma data como essa para estes profissionais?
Nessa mesma data, em 1964 a nossa profissão foi regulamentada, através da Lei 4.119/64. Creio que esta comemoração foi criada para reforçar em nós profissionais, a necessidade de estarmos sempre atentos às responsabilidades que nossa atividade apresenta.
À época, qual o motivo que a levou a ingressar num curso de Psicologia?
A princípio, imaginei que cursando Psicologia eu iria me entender melhor e poderia assim, auxiliar os demais. Mera ilusão, pois conforme avançamos nos estudos do curso, começamos a nos deparar com nossos fantasmas, sombras, fragilidades. Vem a certeza de que é preciso passar pelo processo psicoterapêutico, para que realmente possamos nos entender, nos conhecer e nos libertarmos de fato. Somente assim é que nos tornamos mais aptos a auxiliar o outro.
Qual julga ser a principal luta da classe? Falta valorização?
A Psicologia busca a melhora da qualidade de vida do ser humano consigo, na família, sociedade e trabalho. São tantas as batalhas travadas diariamente pela nossa classe, que chega a ser difícil levantar uma bandeira. Apresento algumas delas: direitos da mulher, luta antimanicomial, relações étnico-raciais, a não revitimização de crianças e adolescentes, construção e exercício da cidadania, atuação dos profissionais junto à rede pública etc. Percebo que o que falta hoje é o conhecimento acerca do papel e possibilidades de ação de um psicólogo. Ainda há preconceito, muito menor hoje em dia, em se procurar ajuda desse profissional. No entanto, há plena valorização daqueles que contam e já contaram direta ou indiretamente com a colaboração dos mesmos.
Como vê a importância do psicólogo na sociedade?
Importância plena. Além dos consultórios, há presença de psicólogos atuando em políticas de habitação, mobilidade urbana e defesa civil, propaganda, marketing, além de educação, saúde e trabalho. Auxiliando o ser humano, estamos ajudando os sujeitos das transformações no mundo.
Você já coordenou o curso de Psicologia da FEF. Considera Fernandópolis um bom campo para atuar na profissão? O mercado está aquecido?
Acredito que Fernandópolis tem um número adequado de profissionais em clínicas, atuando como psicoterapeutas. Um bom profissional sempre terá reconhecimento onde estiver trabalhando e sempre encontrará espaço para mostrar seu trabalho, no entanto creio ser muito otimista se disser que Fernandópolis está sedenta por mais profissionais. É preciso estar atento ao fato de que muitos recém-formados, na ânsia de abrir seu consultório e atender clientes, acabam cobrando quase nada por seus atendimentos, sem perceber que estão se auto-desvalorizando e ao cobrarem “barato”, não geram o excedente necessário para que possam custear supervisões de seus atendimentos, estudar e se especializar mais.
O número de empresas que passaram a contratar um psicólogo para atender os funcionários aumentou consideravelmente. Existe uma legislação que obrigue isso ou os líderes estão se conscientizando da importância do profissional?
Não há lei que nos ofereça esse respaldo. Na verdade, tem havido uma maior compreensão do papel dos psicólogos organizacionais. Estes passam a atuar como facilitadores das gestões de mudança, relações interpessoais, administração de conflitos, processos de motivação entre outros.
Qual a principal causa do stress, que afeta diretamente a qualidade de vida do ser humano?
Tudo na vida causa stress. Sempre que você sai de sua zona de conforto significa que está sob stress. O problema vem com o stress negativo, chamado “distress”, que é aquele que desencadeia inclusive sintomas físicos em nossos organismos. Com certeza, a causa principal é não ter um bom e variado repertório de respostas, mediante as situações estressantes da vida. Ou seja, costuma-se dizer que “eu sou assim mesmo”, “esse é meu jeito” ou “em casa todo mundo é assim”. É preciso estar sempre pronto a mudar, reconsiderar posturas, escolhas, opiniões.
Trabalho ou relacionamento afetivo? Qual pode ser considerado o mais preponderante neste caso?
É difícil afirmar. Cada um tem suas fragilidades. Mas, de forma geral parece que o trabalho tem estressado negativamente as pessoas. Em especial nos maiores centros urbanos, o sistema capitalista carrega consigo o fantasma do desemprego, a dificuldade de recolocação no mercado, a alta competitividade, tudo isso exige muita energia adaptativa do ser. Os relacionamentos afetivos tendem a estressar positivamente, despertando desejos, prazeres, vontades e intenções. No entanto, quando mal conduzido ou não correspondido também será fonte geradora de sofrimento.
O número de pessoas que utilizam redes sociais aumenta a cada dia sem distinção de faixa etária. O uso exacerbado das redes sociais pode ser um causador de stress? E por falar em redes sociais, a autopromoção virtual está relacionada à necessidade de atenção de algumas pessoas? Isso é passível de acompanhamento psicológico?
Garanto que é um gerador de stress permanente. Tanto o “bom” quanto o “mau” stress, pois a vontade de saber como é visto, percebido, recebido pelo outro causa uma inquietação tão intensa, que se deixa o ser humano real sentado à sua frente falando sozinho, para acompanhar quantas curtidas virtuais suas postagens receberam. Importa aumentar o número de visualizações virtuais, ainda que alguns passem a se fechar em suas casas, preparando-se para postar a foto perfeita, com a roupa perfeita, a maquiagem ou a pose perfeita. Dificilmente se consegue mostrar a essência do ser nas redes sociais e é esta essência, a única capaz de manter as relações da vida real, estáveis e compensadoras. Merece um acompanhamento psicológico, quando a pessoa ou aqueles que a cercam, perceberem que se passa mais horas à frente de um computador ou celular conversando e se relacionando com outros, do que “ao vivo e em cores”. Isso pode chegar ao ponto de atrapalhar a rotina diária, provocando até o desinteresse crescente pelos contatos sociais, diminuição gradual de diálogo com familiares e amigos.
Até que ponto jogar um balde de água gelada na cabeça sem a intenção de participar de uma campanha pode ser necessidade de autopromoção?
Houve um aumento assustador nas doações, há que se reconhecer isso. Quem pretende fazer a doação da campanha nem deve receber o balde de água gelada, esse é o desafio. Mas, neste mundo de tantas aparências e modismos, entende-se que o adequado é aparecer, mostrar-se, assim participar da “brincadeira” e imediatamente postar seu vídeo acaba sendo a parte mais importante. Distorção do real? Divertido, sim eu concordo, mas a intenção era livrar-se do desafio fazendo a doação do dinheiro à entidade. A inversão disso para mim é autopromoção.
Como identificar o stress e saber que é a hora de buscar o atendimento psicológico?
Sempre se deve procurar ajuda ao perceber qualquer sinal de desconforto físico e/ou emocional. Principais sinais e sintomas do stress são: mudança nos hábitos de sono ou alimentares, doenças recorrentes, dores generalizadas pelo corpo, irritabilidade excessiva, vontade de chorar sem motivo conhecido, perda do sentido da vida, desinteresse por coisas que antes traziam prazer, etc.
Muitos ainda atribuem ao alto custo de uma consulta o fato de não procurarem ajuda. Isso procede?
Essa é a desculpa para não buscar ajuda. Pois há profissionais habilitados na rede pública, nas instituições de ensino que oferecem a graduação em Psicologia (Fernandópolis, Votuporanga, Santa Fé, Jales, etc.) e mais, busque um profissional de sua inteira confiança e converse sobre suas possibilidades financeiras. Tenho a certeza de que sempre é possível a co-criação de um valor adequado para ambas as partes (essa é uma possibilidade prevista em nosso Código de Ética).
Você se considera uma profissional realizada no que faz?
Plena e imensamente satisfeita. Não me vejo exercendo nenhuma outra profissão que não seja a de psicóloga. É inexplicável o prazer de acompanhar nossos clientes em suas caminhadas, e ver o brilho voltando a seus olhos, suas dúvidas se dissipando, sua coragem ressurgindo e as vidas se tornando mais “gostosas” de serem experienciadas.
Qual o conselho àqueles que pretendem ingressar em uma graduação em psicologia?
Antes de qualquer coisa, converse com um psicólogo sobre suas expectativas, sonhos, desejos referentes ao curso e vida profissional. Tire suas dúvidas com ele, peça explicações, mate sua curiosidade. Se decidir realmente cursar Psicologia, conheça a pontuação da Instituição e curso junto ao MEC (nunca inferior a 3 seria o ideal); informe-se sobre frentes de estágio oferecidos. E lembre-se: escolha um bom curso e pense que sua formação não se esgotará com o diploma, é importante que você realize novos cursos e desenvolva mais conhecimentos depois da graduação.