Nascido em 1904, na cidade de Serra Azul (SP), Primo Angeluci foi criado em uma família trabalhadora provinda da Itália. Seus parentes trabalhavam em meeiros de grandes cafezais da região de sua cidade natal, até que, já crescido, junto de seus pais e cinco irmãos, decidiu se mudar para Novo Horizonte-SP.
Em meio à transição de uma cidade para outra, nada era fácil para a família italiana, que em período de guerra, não encontrava facilidades migratórias no Brasil, e vivia constantemente em situações delicadas.
Em 1941, Primo e um de seus irmãos, Constantino, decidem se mudar para a então Vila Pereira. O restante da família ficou em Novo Horizonte, novamente devido às dificuldades transitórias causadas pela guerra. Porém, mais tarde, a família se reuniria totalmente em Fernandópolis. Primo e seu irmão chegaram à Vila com uma quantia de 45 contos de réis (alto valor para a época), e um caminhão Ford, ano 1936. Logo, os irmãos Angeluci decidiram usar o que mais sabiam fazer se tratando de italianos: negócios.
Em 1943 o restante da família conseguiu se juntar aos dois irmãos. Com a família toda por aqui, compraram um terreno que pertencia a Saturnino Leon Arroyo, para construírem um posto de gasolina. Porém, novamente em período de guerra, a família encontrou dificuldades para firmar o negócio, e acabou não conseguindo finalizar a burocracia para construção do posto.
Não tardou para que solucionassem o problema. Em outro terreno, onde hoje é localizada a “agência Caiçara”, a família construiu, literalmente, o primeiro bar e sorveteria da Vila Pereira. O que de fato importa neste episódio é que as pessoas que habitavam a Vila na época, viram energia pela primeira vez, graças a um motor de gasogênio da família, que servia para iluminar o bar.
Infelizmente, pouco depois da inauguração do “Bar & Sorveteria Angeluci”, o pai da família Angeluci, Sabatino, faleceu. O acontecido foi essencial para que Primo tomasse a frente dos negócios da família. Foi assim que mais uma vez Primo fez valer sua fama de pioneiro, e construiu, com suas próprias mãos e ajuda dos irmãos, o primeiro Cinema de Fernandópolis. Vale lembrar que, em 1946, pouco se sabia sobre o cinema no país.
O cinema ficava ao lado do bar, onde hoje é a loja “L’acqua di Fiori”. Era necessário um motor mais potente para abastecer as sessões, e desta vez, a família adquiriu um motor diesel, que foi suficiente para iluminar não só os estabelecimentos, mas os entornos do quarteirão. O negócio rendeu, e a família de Primo decidiu expandir o cinema, comprando as salas que havia em Jales, Estrela d’ Oeste e Santa Fé do Sul. Já conhecidos por toda Fernandópolis, os irmãos conseguiram, enfim, formalizar em cartório a sociedade “Irmãos Angeluci Ltda”.
Já em 1958, a família decidiu explorar outras áreas e firmou sociedade com Antônio Salioni, proprietário da “Empresa Auto Ônibus Santa Rita”. A empresa funcionava com serviços de “circular”, e tinha linhas do Centro até a Brasilândia e Estação. Mais tarde, as linhas expandiram até outras cidades como Populina, Santa Albertina, Cardoso, São João das Duas Pontes, General Salgado, Estrela d’ Oeste, Guarani d’ Oeste, Indiaporã e Araçatuba.
Em 1960 Primo sucumbiu à concorrência, e acabou vendendo o cinema para uma companhia de São José do Rio Preto. Em 1961 saiu da sociedade com os irmãos devido a divergências. Foi então que comprou o “Posto Esso Bandeirantes”, na Rua São Paulo, onde hoje é o “Auto Posto Angeluci”, atualmente dirigido por sua neta, Gislaine Angeluci.
Em meio à rotina empresarial, Primo também agia como “político de bastidores”, e exercia certa influência sob os rumos da cidade. Seu irmão Valério, por sinal, foi vereador por duas vezes (1947 e 1956). Foi quando se dirigia a uma reunião política, em 1963, que Primo faleceu devido a um infarto.
Assim viveu um dos mais importantes inovadores de Fernandópolis. O primeiro a trazer iluminação a um quarteirão e a arte do cinema para nossa cultura.