Conhecido por alguns como “rei do lixo”, por não se ater em procurar materiais para confeccionar suas obras em meio aos sacos de lixo, o fernandopolense Devacir Xisté, de 47 anos, é um dos artistas plásticos mais respeitados pelo meio artístico da cidade e região.
Sua história no contexto da arte começou logo na infância, quando devido à falta de condições para comprar brinquedos, ele mesmo dava um jeito de transformar latinhas e pedaços de madeira em carrinhos. “É muito mais legal fazer seu próprio brinquedo do que ir à loja e comprar”, brincou. A partir disso, Xisté nunca mais deixou de transformar objetos descartados em arte.
Sobre seu “relacionamento” com o lixo, não se acanha em dizer: “viajo por muitas cidades, e encontro muitas coisas no lixo de cada uma delas. As janelas da minha casa mesmo, as encontrei no lixo”.
Seu reconhecimento não se dá somente pela maneira em que constrói suas obras, mas porque durante o processo da arte, Xisté preza pelo meio ambiente, e pelo acesso das comunidades carentes da cidade à sua chácara, a “Portal de Roma”, que fica 150 metros à frente do aeroporto municipal, ao lado esquerdo para quem vai sentido “Água Viva”. É lá que seu trabalho pode ser conferido de perto.
Luminárias, cadeiras, coberturas, esculturas, quadros, lixeiras, e até mesmo telhas, são alguns dos utilitários feitos por Xisté. Tudo com material cujo destino seria não mais que o lixo. As telhas, feitas com uma pasta de celulose e argamassa, são revestidas em uma tela, formando uma cobertura resistente e econômica.
O sistema de água de sua chácara é 100% reaproveitado. Funciona da seguinte maneira: a água da chuva é canalizada e escoada para um filtro, que desce para a represa de peixes. “As tilápias tratam de deixar a água rica em matéria orgânica, e da represa, a água passa por uma bomba, que irriga toda a área verde da chácara, inclusive hortas”, explicou. O resultado é uma plantação de hortaliças e grama saudáveis e visivelmente mais bonitas do que as plantações regadas a água clorada.
SOLIDARIEDADE
Além de um ser um ótimo artesão, um cidadão que se importa com o meio ambiente, Devacir também não abre mão de ajudar quem precisa de apoio. Prova disso, é que antes do “Projeto Sonhadores” ter sua própria sede, Xisté abrigou todos em sua chácara, e foi lá que, com a ajuda do agropecuarista Dirceu Alessi, foi desenvolvida a orquestra de violinos do projeto.
Não somente a orquestra, mas o próprio projeto foi tomando forma e se regularizando legalmente, enquanto esteve agregado ao “Portal de Roma”. E a estadia dos jovens em sua casa/ateliê rendeu bons artistas. “Por aqui passaram mais de 200 crianças. Algumas delas aprenderam comigo a fazer artes plásticas”, disse.
Atualmente, jovens da Fundação Casa e do CRAS se programam para passar pelo menos um dia por semana na chácara, e Xisté não faz a mínima questão de cobrar por ceder o espaço. “O importante é ajudar esses jovens”.
Além disso, o sonho do artista é transformar, daqui certo tempo, sua chácara em uma fundação de ensino de artes plásticas à comunidade carente de Fernandópolis. “Quero dar oficinas e ensinar como reaproveitar sucatas, fazer esculturas, e várias outras coisas relacionadas a artes, tudo em harmonia com o meio ambiente”, finalizou.