A dramática e incrível história de Milton Terra Verdi

20 de Agosto de 2025

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A dramática e incrível história de Milton Terra Verdi
 

O responsável por dar nome a “Avenida Seis” foi protagonista de uma das histórias mais dramáticas dos anos 60, que chocou o mundo todo

Se estivesse vivo, Milton Terra Verdi teria hoje  80 anos de idade. Filho de “Neca” Terra Verdi e Mariana Sodré, o jovem garoto ajudava os pais, que tinham fazenda em São José do Rio Preto, cidade onde nasceu.

Com propriedades rurais também Fernandópolis, a família resolveu se mudar para cá, pouco antes dos anos 50.

A maior paixão do garoto eram os aviões. Sempre gostou das engenhosas invenções dos irmãos Wright de Santos Dumont. O jovem tinha um CESSNA 140, um modelo simples com dois assentos – e foram neles que Milton e seu cunhado se acomodaram para levantar voo rumo à La Paz, capital boliviana.

O pequeno CESSNA não tinha um tanque grande o suficiente para fazer a viagem de uma vez. Era necessário parar para abastecer. O ponto de descida para abastecimento era um ponto curvo de uma ferrovia, na região de Santa Cruz de La Sierra.

No entanto, houve um desvio de rota, tanto do trajeto, quanto do destino das duas vidas a bordo, responsável por obrigá-los a fazer um pouso forçado, em uma clareira localizada em uma floresta muito densa, na mesma cidade de Santa Cruz de La Sierra.

Já ilhados, a situação era muito delicada. Como o espaço para levantar um possível voo era muito pequeno tiveram que arriscar uma ideia: o avião seria amarrado por uma corda em um tronco de uma árvore, e no momento em que o motor chegasse a seu máximo nível de rotação, a corda seria cortada, fazendo com que o monomotor pudesse levantar voo em um pequeno perímetro. A ideia foi feita e, enquanto Milton decolava da clareira em busca de reencontrar o ponto de abastecimento, Antônio ficou sozinho, esperando o cunhado.

Durante o voo, a ferrovia não foi encontrada. Já próximo do desespero, Milton decidiu voltar, antes que o combustível acabasse de vez, para dar a notícia para o cunhado: eles teriam que aguardar o resgate.

Não tardou para que o desaparecimento de ambos fosse notícia na imprensa local. E aos poucos, o caso de “Milton Verdi” ia tomando conta da região, e cada vez mais mistério e perguntas eram lançados ao ar, ao ponto que o desaparecimento dos dois também era noticiado em países vizinhos, e logo, no mundo todo.

Neca, pai de Milton, tentava desesperadamente contar com a ajuda da FAB, que devido a impasses burocráticos, não pôde fazer muita coisa.

Cerca de uma semana após ilhados, o cunhado de Milton, Antônio Augusto Gonçalves, não resistiu aos delírios devidos a sede extrema e bebeu gasolina, o que o levou a morte em poucos instantes.

Milton resistiu por 70 dias, sobrevivendo com a água canalizada por algumas curtas chuvas, e comendo jabutis, até morrer de inanição.

Certo dia, enquanto um avião da FAB fazia buscas de outro avião da Força Aérea, que havia caído no Peru, passaram por cima da clareira, e localizaram o pequeno CESSNA. Imediatamente desceram, e localizaram os restos mortais de Milton Terra Verdi, e de seu cunhado Antônio. Tristemente, fazia dez dias que Milton não fazia nenhum tipo de registro em uma espécie de mapa, que ele fazia de diário.

Hoje, o avião de Milton está no “Museu da Aviação da TAM”, localizado em São Carlos, interior de SP. E o corpo de Milton está enterrado no cemitério da Consolação, em São José do Rio Preto, sua cidade natal.

Um fato incrível, é que, devido a inúmeras queixas de sede em seu “diário”, a população fazia peregrinações que terminavam em seu túmulo, onde deixavam centenas de copos de água ao redor e em cima.

No ano seguinte a todo o ocorrido, Walter Dias, tio de Milton, resolveu documentar os registros em forma de livro, que até 2010 teve duas edições esgotadas.

Abaixo, um forte trecho de um registro de Milton, alguns dias após estar ilhado:

“Como se acabam as ilusões de um homem. Hoje para mim, um litro d'água que é a coisa mais barata que nós temos, vale mais que todo o dinheiro do mundo e um prato de arroz com feijão não tem dinheiro que pague. Se Deus nos der nova chance, temos planos de ser os homens mais humildes do mundo, querendo apenas ter nossa comida, água em abundância e o carinho das esposas, filhos e familiares. Minha querida esposa e dedicada mãe de meus filhos, primeiramente, peço que me perdoe pelos maus momentos que te fiz passar, vejo agora que tudo não passa de ilusão, o que vale mais no mundo é a água, a comida de todo dia e o carinho da nossa querida esposa e filhos. Saiba que você foi o único amor da minha vida, não duvides porque é um moribundo quem está falando. Nunca deixes ninguém passar sede, pois é a pior coisa do mundo. Eu também prefiro um estilo de vida simples, sem muito luxo, cuidando da saúde física e mental para durar muitos anos. Pergunte a um desempregado o que é importante para ele. Pergunte a um doente crônico o que é importante para ele. Pergunte a um solitário o que é importante para ele. As pessoas que se apegam muito a coisas e são ingratas com tudo em sua volta, estas não quero perto de mim por muito tempo. Já vi e convivi com muitos deste tipo na escola e na universidade. Com a certeza de que não acrescentam em nada na minha vida”.