Não tem como falar de Jiu Jitsu sem falar o que há por trás dele. Existe muita história para ser contada até chegarmos a uma das lutas mais presentes no MMA que conhecemos hoje. Dentre tantas teorias, a mais aceita pelos atuais lutadores da arte é que o JuJutsu (nome correto antigo) começou com os monges budistas, entre Índia e Japão. Por não portarem armas e preservarem a paz, os budistas criaram uma maneira de se defender dos ladrões que os interceptavam durante suas caminhadas, pois eram peregrinos. A tática de defesa não era contra atacá-los, mas sim imobilizá-los, de forma a deixar os ladrões desarmados. Tudo isso junto a uma série de técnicas e velocidade.
A técnica foi compartilhada apenas com os samurais, e era cada vez mais eficiente na defesa de seres mal intencionados e inimigos. Tudo isso até acontecer a Primeira Guerra Mundial, onde ocorreu uma invasão europeia nos países orientais. Os japoneses, pequenos e franzinos, chamaram a atenção dos europeus por serem tão eficientes na luta, e foram pressionados a ensinarem seu conhecimento de luta corporal para algumas nações ocidentais. No entanto, ensinar a luta era considerado um crime contra a pátria, e o JuJutsu original, rápido e 100% eficiente, ficou guardado, nasceu e morreu em suas origens, com os monges e samurais. O que foi ensinado aos europeus, foi uma segmentação, outra forma de se lutar. Foi aí que começou a ser ensinado o Judô, o Karatê-Do, Kendô, e uma modalidade alternativa do JuJutsu, além de algumas outras artes marciais.
COMO ISSO CHEGOU AO BRASIL?
O Sensei Jigoro Kano, citado na série anterior como o criador do Judô, ordenou que vários lutadores se espalhassem pelo mundo, com a intenção de semear a filosofia e a disciplina do Judô no mundo, e foi assim que Mitsuyo Maeda chegou ao Brasil, no Belem do Pará, logo após a Primeira Guerra Mundial. Acontece que Maeda foi deserdado por seu mestre, por estar ensinando a filosofia aqui no Brasil em troca de dinheiro, e foi assim que ele, num ato de “rebeldia”, começou a ensinar o JuJutsu antigo.
Maeda foi “adotado” pela família Gracie, hoje conhecida como responsável pelo Jiu Jitsu ter se disseminado no Brasil. Carlos e Helio Gracie, filhos de Gastão, o pai da família, eram os principais alunos de Maeda. Helio era asmático, franzino, tinha vários problemas de saúde, mas assistia às aulas com máxima atenção.
Após o falecimento de Mitsuyo Maeda, em 1941, a família Gracie resolve se mudar para o Rio de Janeiro, onde continuaram a lutar em uma academia, e começaram a dar aulas para alguns alunos. Certo dia Carlos Gracie se atrasar para dar aula aos alunos, e para que os mesmos não fossem embora desanimados com a falta de compromisso do professor, Helio Gracie, que mesmo doente, sabia todos os movimentos de tanto prestar atenção nas aulas, se superou e deu aula aos alunos. Por conta de suas dificuldades corporais e de saúde, ele desenvolveu técnicas pessoais, deixando o JuJutsu mais flexível e mais suave nas quedas.
Os cariocas, devido sua pronúncia “estranha” das palavras, transformaram o JuJutsu, em Jiu Jitsu, como é conhecida a arte marcial até hoje.
EM FERNANDÓPOLIS
André Luis começou a fazer Judô por recomendação médica, devido sua hiperatividade, com o Sensei Mazinho, protagonista da série da edição anterior. Durante sua caminhada como Judoca, André conheceu os irmãos Maurício e Mauro Gomes, que vinham de Campinas para dar aulas de capoeira contemporânea. A surpresa foi que os irmãos traziam na bagagem um denso conhecimento de Jiu Jitsu, que até então não era conhecido em Fernandópolis. André que já tinha uma ótima base de chão com o Judô, começou sua caminhada no “Jiu”.
Na época, sem tatame, as aulas eram aplicadas no chão, mas com o tempo a técnica foi ganhando força e alunos. Até que por volta de 2008, os irmãos Gomes voltaram para Campinas devido a compromissos familiares, “sobrando” ao aluno mais graduado, André - que em 2009 conquistou a faixa preta - o dever de continuar com as aulas de Jiu Jitsu em Fernandópolis. “Hoje eu colho os frutos que foram plantados pelo Maurício e pelo Mauro”, disse, em tom de reconhecimento.
Hoje, depois de alguns anos sem ter uma academia definida, o Jiu Jitsu de Fernandópolis é ministrado por André com academia própria (Avenida Aldo Livoratti, 2338), cujos equipamentos internos foram adquiridos pela união dos alunos. “Um aluno deu o tatame, outros deram ventiladores, outros o bebedouro, e foi assim. A filosofia da união que fez isso aqui acontecer”.
Além dali, André ministra um projeto social em parceria com o Pastor Flávio Morilha, na Igreja Projeto Amar. O “Cristo Jitsu”, onde cerca de 40 crianças recebem aulas gratuitamente, em ambiente confortável, com ar condicionado e lanche ao final. “O que me chama atenção no Flávio é ele apenas querer fazer o bem. Eu mesmo venho de outra base religiosa, mas ele me aceita muito bem na Igreja dele”.
Um dos motivos de orgulho de André é o fato da família das crianças passarem a ir à academia acompanharem os treinos dos filhos, e mais que isso, treinarem também. “Hoje tenho famílias inteiras que fazem aula comigo”, ressaltou. E realmente, durante uma de suas aulas, um de seus alunos, que é especializado em “Clown” (curso para palhaços), fez uma apresentação descontraída para as crianças, com ênfase na importância de ter Jesus no coração, que contou com a presença de muitos pais, que aplaudiram bastante.
De fato, as artes marciais provam que o mais fácil é lutar. Ela vai muito além disso. Ensina a ter disciplina e educação de um modo natural, sem um tipo de intervenção forçada. A consciência começa a surgir naturalmente. A academia de Jiu Jitsu de Fernandópolis está aberta a quem quiser conhecer, e André afirma com todas as letras que um dos objetivos da academia é receber bem quem entrar pela porta dela. Com objetivos à vista, como a formação de uma associação para futuro apoio da prefeitura, é importante que cada vez mais pessoas se tornem adeptas ao Jiu Jitsu. Ao entrar nele, você só tem a ganhar.