Rolezinhos: Qual é o problema em dar um “rolê”?

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Rolezinhos: Qual é o problema em dar um “rolê”?

Todo mundo sai à noite para se divertir, paquerar, conhecer gente nova, enfim, dar um “rolê”. No entanto, os rolezinhos estão dando o que falar nas últimas semanas. Tumultos, protestos e furtos são apenas alguns dos acontecimentos relatados pela mídia que chamaram a atenção da sociedade. 

De acordo com o psicólogo Oswaldo Longo Junior, docente na FEF e na Unicastelo de Fernandópolis, este passeio é bem comum entre os adolescentes, o problema foi a grande quantidade de pessoas e a infiltração de algumas no grupo com outras intenções, além de se divertir.

“Acredito que a intenção inicial era apenas encontrar pessoas, fazer parte de um meio social, trocar contatos e fotos”, diz. “Mas a quantidade de pessoas que participaram foi surpreendente e isso levou a notícias na mídia. As notícias trouxeram a popularidade e, a partir de então, não para mais.” 

Os rolezinhos existem há muito tempo. Quem não ia ao shopping para passear durante a sua adolescência? Porém, a partir de 2012, com o poder das redes sociais, cantores de funk passaram a organizar eventos para fazer protestos contra uma lei que proibia bailes do gênero nas ruas de São Paulo.

Apesar disso, os grupos que ganharam a atenção da mídia não tinham qualquer intenção política e, sim, marcar encontros para conhecer seus ídolos – pessoas com popularidade nas redes sociais – para tirar fotos, conversar e conhecer gente nova. 

O primeiro evento a ter repercussão na mídia aconteceu no dia 7 de dezembro do ano passado, no qual estiveram presentes cerca de 6 mil jovens no Shopping Metrô Itaquera, Zona Leste da capital. A quantidade de pessoas assustou os comerciantes que fecharam as portas de suas lojas. Não terminou bem. 

A polícia foi acionada e houve tumulto, além de reclamações sobre furtos que haviam ocorrido no dia. “O poder das redes sociais ajuda a fazer milhares de contatos em questão de horas, mas não é possível colocar um filtro nos convites. Assim, todos podem participar, inclusive aqueles que querem fazer o mal”, explica Longo Junior.  

Com a série de eventos que foram acontecendo e outros já marcados para os próximos dias, shoppings das capitais e das cidades maiores passaram a se organizar para evitar os problemas. Em alguns casos, foram expedidas liminares para impedir que os jovens dos rolezinhos entrassem no shopping e reforçada a segurança.

A partir de então, os jovens, revoltados com algumas medidas tomadas pelos estabelecimentos, estão aproveitando os eventos para protestar, acusar a discriminação e reivindicar ações das autoridades. 

Embora a ideia inicial seja apenas se divertir, Longo Junior explica que, dependendo do conceito que se usa, é possível considerar o movimento como político.

“Todo ato de busca por sociabilização é um ato participativo e, assim, político”, afirma. “É político, porque envolve uma atitude de massa e busca expressão. O que não necessariamente tenha um controle ou seja planejado. Mas não é político no sentido de que um partido político estivesse organizando.” 

O psicólogo ainda completa que a mídia tem o poder de levar a uma mobilização social, como protestos e ressalta que o tema só veio à tona por ser o assunto mais comentado pela maioria das pessoas.

“Qualquer forma que leva a questionamentos pode levar à quebra de regras e acaba atrapalhando outros”, diz. “Caso isso aconteça, chamando atenção ainda mais da mídia, pode ser um meio a mais para aproveitar e protestar como já está acontecendo. Isso pode ainda estar começando e outras formas semelhantes de encontros ser presentes em função destes acontecimentos.” 

O ROLEZINHO EM FERNANDÓPOLIS 

Em Fernandópolis, segundo a assessoria de imprensa do Shopping, não houve nenhum incidente como os relatados pela mídia e garante que o local tem a segurança reforçada nos finais de semana por conta do grande público que recebe e não por causa dos jovens. “Creio que não teremos nenhum problema aqui, já que, tradicionalmente, os jovens de toda a cidade frequentam o nosso shopping nos finais de semana”, comenta Jorge Fernandes, assessor de imprensa do Shopping Center Fernandópolis. 

Para Longo Junior, a probabilidade de tais eventos acontecerem em Fernandópolis é mínima. “Isso fica mais associado a grandes centros”, afirma. “Aqui não temos espaços e nem tantas pessoas que possam gerar esses encontros e os problemas associados. Mas acredito que precisamos apresentar propostas para essas pessoas e eles têm o direito de se divertir.” 

Entretanto, para um vendedor de uma loja no shopping de Fernandópolis que não quer ser identificado, os passeios causam problemas. Segundo ele, os jovens atrapalham as vendas e entram nas lojas para fazer bagunça. “São poucos que vão para gastar ou que se interessam pelos produtos”, conta. “Entram na loja, pegam as coisas, ficam dando risada. Sem falar que entram uns dez de uma vez. Então tenho que ficar de olho na molecada e, às vezes, acabo perdendo vendas.”

Na opinião do vendedor, deveria haver mais autoridades para intimidar as pessoas que vão ao shopping causar problemas. “Acho que já ia ajudar bastante”, diz. 

GERAÇÃO ROLEZINHO

Os jovens que participam dos rolezinhos cresceram com as novas tecnologias que influenciaram (e influenciam) o comportamento e modo de pensar deles. Longo Junior comenta que estes adolescentes são produtos de uma mídia que os convida a formar personagens e, com isso, uma nova forma de viver.

“Ainda estudam, tem seus dias em que não querem saber de nada, escutam vários tipos de músicas e têm contato com o mundo”, afirma. Apesar do contato com o mundo e da possibilidade de ter conhecimento a respeito de tudo, segundo o psicólogo, pouco pode ser realmente vivido.

Esta situação gera mais sofrimento, pois o jovem observa o que existe e não tem contato com quase nada. “Tudo faz parte de um mundo virtual. O real é simples e sem graça. Não há interesse em estudar em escolas com seus métodos falidos há décadas”, explica. “Estudar é banal para muitos, trabalhar passou a ser mais fácil e sobram vagas para muitos empregos. Estar na mídia, fazer parte de algo e interagir com o tudo e todos causa uma grande onda de prazer. É o barato do momento.”

De acordo com Longo Junior, a influência das mídias na vida das pessoas pode ser positiva e, ao mesmo tempo, negativa. O psicólogo explica que o cérebro humano gosta de novidades e o modo instantâneo que chega a consequência de cada ato. “Tudo é na hora, no minuto, no segundo”, diz.

O resultado de tamanha facilidade e agilidade na transmissão de informações afeta os relacionamentos. “Dentre outras consequências, há um aumento assustador na quantidade de possibilidades de novas formas de relacionamentos e na quantidade de pessoas que estão se envolvendo”, comenta. “Em trinta anos, as formas de relacionamentos mudaram de duas fases – solteiro e casado – para sete fases – ‘catar’, ‘ficante aleatório’, ‘ficante fixo’, ‘namoro inicial’, ‘namoro sério’, noivado e casamento.”Outra influência das novas tecnologias nos relacionamentos é que eles estão sendo mediados pelo espaço virtual, não só nos relacionamentos íntimos, mas em todas as formas de contato. “Podemos, ao mesmo tempo, participar e nos aproximar das pessoas e saber de tudo que acontece em segundos”, conclui o psicólogo.