Na semana em que não se fala de outra coisa na TV, senão dos cuidados que os pais devem tomar para evitar acidentes dentro e fora de casa, principalmente em piscinas, em decorrência das trágicas mortes dos pequenos Kauã, de apenas 7 anos, Mariana, de 8 anos, e Naysla de 11, que foram sugados por ralos em diferentes piscinas de pontos distintos do país, o CIDADÃO, procurou um especialista no assunto, e fomos atrás dos primeiros a serem chamados quando acontece algo nesse sentido, o Corpo de Bombeiros. Em entrevista, o novo comandante do Posto de Bombeiros de Fernandópolis, o 1º Tenente Gustavo Domingos Soares da Silva, 34 anos, dá dicas de segurança aos pais fernandopolenses, dentre vários outros assuntos. Domingos é Formado em Educação Física pela Unesp e Direito pela Unisul, pós-graduado em Engenharia de Combate ao Incêndio e possui vários cursos do Corpo de Bombeiros, como de mergulho, resgate e condições adversas em situação de emergência. Além do currículo, sua experiência frente a diversas unidades de todo o estado o qualificam para falar sobre o assunto.
Acompanhamos na TV, durante toda a semana, o caso das crianças que foram sugadas por ralos de piscinas distintas em pontos diversos do país. Desde que chegou à região, houve algum caso semelhante por aqui?
Aqui na região, desde que eu vim para cá, não. Não tivemos nenhum caso registrado com esse tipo de acidente.
Quais os cuidados que as pessoas que possuem piscina em casa, ou vão a clubes, têm que tomar para evitar esse tipo de acidente?
A gente orienta alguns cuidados. Primeiro e mais importante: a criança deve estar sempre vigiada. Os pais devem estar sempre observando as crianças e nunca deixá-las sozinhas. Sempre verificar essas situações. Não deixar, principalmente, que elas mergulhem de qualquer jeito. Existem casos registrados de várias lesões cervicais que atrapalham a pessoa pelo resto da vida. Ela pode quebrar a cervical, ao bater a cabeça no fundo da piscina, e ficar paraplégica, tetraplégica ou até morrer, se não tiver ninguém para tirá-la da água. Nunca deixar a criança sozinha. Cuidar também, se ela for nadar, de procurar uma escola especializada em natação. É importante que todos saibam nadar. Não sabemos o que vamos enfrentar na nossa vida. Além de ser um esporte muito prazeroso, fazendo muito bem para a vida das pessoas, aprender a nadar é essencial. Ao utilizar a piscina, existem algumas normas que devem ser seguidas: não correr em volta da piscina. A pessoa pode escorregar, cair, bater a cabeça; não ficar empurrando o outro na água. Cuidado com alguns tipos de brincadeira; e de onde tudo isso vem? Isso vai cair na supervisão de um adulto. Então a pessoa deve ensinar a criança como ela deve se comportar. Assim como a gente ensina como sobe na escada, a gente tem que ensinar as pessoas a aprender a brincar – por incrível que pareça. A gente tem que ensinar a criança a ter padrões de segurança para que ela saiba do risco que corre ao utilizar um determinado ambiente. Porque todo o ambiente tem risco. Às vezes, a pessoa deixa a criança na piscina sozinha. Ela não deixa a criança na casa dela sozinha, mas deixa a criança na piscina sozinha. Na casa dela o que pode acontecer? A criança pode ingerir algum produto químico, pode riscar um fósforo e por fogo na casa dela. É um ambiente, teoricamente, mais tranquilo que a piscina e, mesmo assim, não se pode deixar a criança sozinha. E, muitas vezes, os pais se esquecem disso e deixam. Na piscina, que é uma água controlada, já tem um problema de afogamento muito grande e, principalmente, em mares, rios e represas. Não existe isso. Os pais não deixam as crianças sozinhas em casa em hipótese alguma, mas as deixam sozinhas na água para ir conversar, tomar uma cervejinha. Não pode. Existem também algumas limitações para estabelecer as normas de comportamento. Ensinar as crianças para não ficarem perto do ralo. A bomba pode entrar em funcionamento automaticamente e pode realmente puxar, principalmente crianças que tenham a massa corporal menor. Elas não têm força para sair dali. E sair também das zonas de expedição da água - tanto as de sucção, quanto as de inspeção que podem causar também algumas lesões.
Os clubes precisam ter salva-vidas? Qual a norma que rege isso?
Tem uma lei de 1981, no estado de São Paulo, que fala que as piscinas de uso público devem ter salva-vidas. Essa lei é vaga no caso de condomínios. Eles não falam, pois consideram o condomínio como uso particular. Mas, a princípio, o ideal era que todas as piscinas públicas tivessem um salva-vidas.
E no caso de prainhas e rios? Temos muitas prainhas de utilidade pública em nossa região.
A maioria desses municípios está providenciando, ou já providenciou, esses salva-vidas. Muitas vezes, essas pessoas movimentam a economia da cidade. Às vezes, o município depende daquele turismo. Então, ele providencia os salva-vidas para trabalharem ali. Porém, as pessoas devem obedecer o salva-vidas. É uma questão de cultura. A pessoa tem que ouvir aquela pessoa que está lá. Ela conhece a região. Ela não está querendo chamar a atenção da pessoa. Não está querendo ser chata. Não quer estragar a festa dela. Na verdade, ela quer evitar que alguém se arrisque e estrague a festa dos parentes. Então, é importante observar as orientações. Essas pessoas conhecem as correntezas, correntes, onde tem buraco e onde não tem, principalmente em águas não controladas. A maioria das ocorrências que a gente tem de afogamentos é nos rios aqui da região que a pessoa: ou ela está caminhando no raso, cai num buraco e afunda; ou ela está nos barcos e, por algum acidente que ocorra no barco, ela cai, está sem colete e afunda.
Falando em uso de colete, recentemente tivemos uma morte por afogamento em Indiaporã. Foram vários dias de busca para encontrar o corpo. Essa pessoa estava sem colete?
Sim. Parece que ele teve uma síncope, um problema cardíaco, alguma coisa e veio a cair na água. E, depois, como ninguém tinha referência, os mergulhadores fizeram os trabalhos, mas eles só localizaram o corpo depois de dois ou três dias. É complicado, pois traz essa agonia para família. Além do trauma da morte, essa agonia: será que vai achar o corpo? Será que não vai? Num rio, do tamanho do Rio Grande, é difícil a gente falar: vamos achar. A gente vai fazer o máximo de esforço possível, só que, se a gente não tiver uma referência, assim como não tínhamos, fica difícil. São quilômetros de rio e de profundidades adversas. Se ele tivesse com o colete, às vezes só tivesse passado mal, não teria acontecido nada. Se infelizmente viesse a óbito, o corpo seria encontrado facilmente.
Outra morte que tivemos recentemente e que demandou grande trabalho de vocês (Corpo de Bombeiros) foi daquele jovem de 15 anos que morreu soterrado em um córrego. É correto escolher um local como aquele para nadar?
Não, com certeza não. Quais seriam os melhores locais para a prática de natação? Piscinas. Não temos piscinas, vamos para os rios. Nas prainhas há supervisão ou o ambiente é melhor controlado. Vamos dizer assim: as prefeituras destinam verbas para tentar melhorar aquele local. Deixar com menos buracos, menos perigos. Geralmente não acontecem acidentes nestes locais. Qualquer um que tiver bom senso, fala para não entrar ali. Só de você observar, você fala: ali vai acontecer alguma coisa. É possível que aconteça alguma coisa. Ali é propriedade particular. Não pode entrar ali. Além de eles invadirem uma propriedade, estão se colocando em risco. Então, o local não era apropriado para isso. Em locais como aquele, a possibilidade de acidente multiplica potencialmente - dez, cem, mil vezes. Então, não se deve usar esses locais. Onde está o público? Onde tem público é porque, teoricamente, é onde tem mais segurança. Então, eu tenho um lugar que ninguém vai. Por que ninguém vai? Se ninguém está indo, é porque algum risco tem.
O senhor citou logo no início da entrevista o risco de saltos dentro da piscina. Pular de ponta é um risco?
Até pular de pé, dependendo da altura. Inclusive voltando a esse caso do córrego, o pessoal pulava de uma altura de seis, sete metros de altura num poço, numa profundidade de, no máximo, dois metros. Então, mesmo pulando de pé, se bater o pé no solo, não vai ter quantidade de água o suficiente para amortecer a queda, o que pode gerar uma lesão na coluna. E, dependendo, pode nunca mais andar ou vir a óbito.
Saindo da piscina para dentro de casa. Quais são os cuidados que os pais devem ter com as crianças dentro de casa, principalmente nesse período de férias?
Supervisão. É sempre a supervisão. Quais são os cuidados: produtos de limpeza que, geralmente, têm cores chamativas para as crianças. Nunca deixar esses produtos embaixo da pia. Não é indicado, porque é onde a criança acessa. Embora tenha supervisão, dois ou três minutos que a pessoa esquece a criança sozinha é suficiente para qualquer acidente acontecer. Portas fechadas da casa, senão a criança sai para a rua e pode sofrer um atropelamento. Cuidado com os animais também. Dependendo do tamanho do cachorro, é melhor o deixar separado da criança. A criança não tem noção. Ela tende a explorar todos os ambientes. Então, produtos de limpeza na parte de baixo não combina. Deixa na parte de cima. No caso do fogão, as panelas nunca com o cabo virado para fora. Tentar usar as bocas do fogão que estão próximas da parede para que a criança não alcance e os cabos das panelas virados para dentro. Portas fechadas e supervisão. Sempre atento à criança. Um caso que passou na TV, de uma criança que caiu no aeroporto, foi dois ou três minutos que o pai a deixou solta ali. Ela foi do lado da escada rolante, tinha um vão muito pequeno e ela acabou caindo. É uma fatalidade. Então, se a gente pegar a nossa evolução histórica. As construções que existem hoje são seguras? 100% seguras, se ela atender a nossa norma? Não, não existe nada 100% seguro. Então, se pegarmos o exemplo do Titanic, quando foi construído, ele era seguro, só que, por algum descuido, ele afundou. Então, a próxima tecnologia que veio, falou: não. Vamos fazer diferente para não acontecer isso de novo. No caso das Torres Gêmeas, contruíram os prédios mais fortes da época. Fizeram pensando numa situação, mas aconteceu uma situação adversa que veio a cair. Então, tudo que existe hoje que a gente fala que é seguro, pode ser que amanhã não seja.