As rádios AMs se transformarão em FMs. E agora?

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

As rádios AMs se transformarão em FMs. E agora?

Nosso entrevistado de hoje sempre esteve ligado no meio radiofônico. Foi técnico de som, locutor, gerente de rádio e hoje responde pela manutenção técnica de várias emissoras da região e repetidores de canais de televisão. Teotônio de Oliveira formou-se em ciências físicas e biológicas pela UNIFEV de Votuporanga e curso técnico em eletrotécnica pela FEF. Casado com Julia, tem três filhos e uma neta. Tem muitas histórias para contar desde os tempos de Cardoso, passando por Jales e, atualmente, residindo em Fernandópolis. Nosso assunto é a assinatura do decreto pela presidente Dilma Rousseff, no dia 7 de novembro, que vai dar novo alento às emissoras de rádio que operam na faixa de “onda média”.  Confira.

 

A presidente Dilma Rousseff assinou no dia 7 de novembro, o decreto que permite às emissoras de rádio que operam na faixa de AM (Amplitude Modulada) para a faixa FM (Frequência Modulada). Você acreditava que isso viesse a acontecer um dia ?

Não da maneira como foi feito. Esperava que quem tivesse outorga de AM teria direito de operar também em FM, só no horário noturno. Certa vez, um estudo comprovou que a AM estava tendo sua audiência noturna prejudicada. Então, foi montado um projeto em que um transmissor de FM seria colocado para transmitir à noite a programação de AM. No entanto, essa ideia acabou não indo para frente.

Hoje no país temos 1.785 rádios AM que, então, vão se juntar às 2.664 FMs. Haverá espaço no dial para todas?

 Hoje não, mas quando os canais 5 e 6 de televisão forem desocupados de vez, aí sim dará para acomodar todas as rádios AM.

Como se dará essa migração, tecnicamente falando?

O Ministério das Comunicações terá que determinar qual faixa cada emissora terá no dial.  Nós somos de uma região privilegiada, que tem espaço para colocar algumas emissoras nas frequências já existentes, sem ter que utilizar os canais 5 e 6. Se o Ministério determinar para nossa região dentro desse espectro de faixa que tem, será fácil essa migração. Basta comprar o equipamento e colocar no ar.

Quanto tempo levará para a mudança?

No Brasil todo com certeza vai demorar muito. Se pegarmos, por exemplo, de Araraquara até divisa com o Rio de Janeiro, não tem mais espaço no espectro para se colocar mais FMs, então as que forem migrar terão de esperar a liberação dos canais 5 e 6. A partir de janeiro de 2014 quem tiver interesse pode entrar com o pedido de migração. Encaminha-se uma solicitação ao Ministério das Comunicações e se eles tiverem o canal vago e autorizar é questão de comprar os equipamentos, e por para funcionar. É simples de tudo.

Quais os benefícios para o radiodifusor e para o ouvinte?

Para o radiodifusor será bom, pois terá som com melhor qualidade sem interferências,os equipamentos são mais em conta e de fácil manutenção. Agora para o ouvinte, além do som com qualidade de fácil sintonia tem diversos aparelhos com a faixa de FM. 

Que porcentual de ouvintes tem rádio com faixa de FM?

De 15 anos para cá praticamente todos os rádios receptores que saíram das fábricas já vieram com a faixa de FM. Então, pode-se dizer que no máximo 10 % das pessoas que tem rádio em casa não possuem a faixa de FM em seus aparelhos.       

O AM deixará de existir?

Não. Quem tem o seu radinho só com AM não precisa jogar ele fora. O AM nunca vai deixar de existir. Poucas emissoras continuarão operando em AM, as mais tradicionais deverão continuar. 

Os fabricantes de transmissores estão preparados para atender a demanda?

Os fabricantes de transmissores já esperavam por isso. O interessante é que eles foram melhorando a qualidade. Hoje temos várias fábricas de transmissores de primeira linha, que vendem seus produtos até para outros países. 

Vai pesar muito no bolso do radiodifusor essa migração?

Vai. Ele terá de comprar todos os equipamentos, pois para ter uma boa qualidade de som precisa renovar tudo, pois a transmissão em FM possibilita transmitir em estéreo em dois canais de áudio, enquanto em AM os aparelhos de som são mono, só um canal. Portanto, se quiser ter qualidade de som terá que trocar tudo.

 Qual será a destinação dos equipamentos de AM?

Serão apenas peças de museu. Quem tem esses aparelhos só irá utilizá-los como relíquias.     

Sua opinião sobre as comunitárias e educativas que viraram rádios comerciais? 

Essa é uma questão muito polêmica. Elas foram criadas com o intuito de ajudar as comunidades e para sobreviverem, precisam de apoios publicitários tanto as educativas e as comunitárias. É difícil manter uma emissora hoje. É preciso pagar funcionários, Ecad, Fistel, energia, tudo que as demais emissoras também pagam, o que as obrigam a ter uma fonte de renda. Eles não podem divulgar uma propaganda como as outras emissoras têm, mas apoio publicitário pode sim, até o próprio Governo aprovou  distribuição de verbas federais, para rádios comunitárias e educativas. 

O senhor acredita que as rádios comunitárias e educativas vão “morrer” com a migração das AMs?

Não acredito, pois tem espaço para todos. Elas podem sentir um pouco o baque, quando as AMs entrarem com som de qualidade. Geralmente as pessoas ouvem as comunitárias porque ligam o radinho e elas estão pegando bem e, quando ela passa para AM ouve toda aquela interferência, então ele acaba deixando na comunitária mesmo.

Tem muitas rádios piratas na região?

 Não. Já teve bastante. A Polícia Federal está batendo em cima. O pessoal começou a pegar um pouco de medo, pois hoje qualquer cidadão brasileiro pode denunciar e a partir da denúncia a Anatel tem 48 horas para apurá-la e a pessoa que for pega operando uma emissora pirata, nunca mais poderá se envolver com radiodifusão, além de estar sujeito à prisão também. 

A internet ameaça o rádio e a televisão?

O rádio eu acredito que não. A televisão sim. O rádio é uma fábrica de fantasia, o ouvinte que está do outro lado está dirigindo, trabalhando, cozinhando, pescando, descansando etc. Ele está atento no que o locutor está falando ou na música que está tocando. Já a internet a pessoa precisa ficar olhando, vendo alguma imagem ou escrevendo. Ela pode prejudicar a TV. Hoje em dia há pessoas que nem assistem mais a novela no seu horário comum, pois ele sabe que no dia seguinte ela vai estar na internet e poderá assisti-la com calma, sem comerciais, parando-a quando quiser e o mesmo acontece com os telejornais que antigamente eram campeões de audiência, hoje tem gente que prefere ver as noticias pela internet.

Qual será o maior desafio do radiodifusor nessa migração?

O desafio dele será encarar a grande concorrência na área. Para se superar no mercado ele terá que inovar, ou seja, criar novas atrações. As rádios antigamente promoviam, faziam eventos, shows, levavam o povo para as ruas, isso era fantástico e infelizmente agora não acontece mais. O grande desafio do radiodifusor será acabar com esse desânimo que se instalou nos últimos tempos. O rádio tem que voltar a ser alegre como era alguns anos atrás. 

O senhor acredita que essa queda no faturamento veio por causa do desânimo, ou o desânimo veio por causa da queda do faturamento?

Os faturamentos das emissoras caíram assustadoramente porque hoje existem muitas mídias. O comércio não aguenta mais. Ele tem que distribuir a sua verba publicitária em revistas, jornais, folhetos, rádios, sites e outros meios. Uma emissora para promover um evento ela tem que ter respaldo do comércio, quando não encontra este respaldo surge o desânimo e quem estava disposto a promover o evento acaba desistindo. Aí vem a pergunta: o desânimo é por causa da queda de faturamento ou faltou ânimo para aumentar o faturamento?