Retribuindo o aprendizado

20 de Agosto de 2025

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Retribuindo o aprendizado

Quando foi “guardinha”, de 1987 a 1989, o advogado fernandopolense Daniel Trídico Arroio, olhava as fotos dos ex-presidentes da entidade, hoje denominada como CAEFA – Centro de Apoio a Educação e Formação do Adolescente - e pensava em um dia também assumir essa função, para fazer por outros jovens o que um dia fizeram por ele. Para Daniel, a antiga Guarda Mirim tem grande parcela na formação do homem que ele é hoje. Formado em direito pela UNIRP - Centro Universitário de Rio Preto, Trídico começou sua carreira profissional dentro da própria instituição, onde trabalhou na secretaria. De lá, foi encaminhado ao Escritório Fernandópolis, para trabalhar como assistente de departamento pessoal. Posteriormente foi para as empresas Verdiesel e  Escritório Cruzeiro. Por fim,  se mudou para São José do Rio Preto para estudar e trabalhar na empresa Ullian Portas e Janelas de Aço onde exerceu a função de gerente de recursos humanos por oito anos. Hoje, o marido de Rosecler e pai de Diego é presidente da instituição que um dia ajudou em sua formação e agora é ele um dos principais responsáveis pela inserção de jovens fernandopolenses no mercado de trabalho.  

 

Desde quando o senhor assumiu a diretoria do CAEFA? Sua ligação com a instituição é antiga?

Assumi a diretoria do CAEFA em Julho deste ano e estarei a frente da entidade até julho de 2015, ou seja, por dois anos. Sim, minha ligação com a entidade é antiga, como fui guarda mirim no período de 1987 a 1989 e por ter trabalhando dentro da secretária por todo esse período, estive envolvido diretamente com a entidade, sabendo das dificuldades, dos problemas sociais dos jovens da época, o esforço que a diretoria juntamente com os rotarianos  faziam para mantê-la funcionando, isso tudo fez com que eu criasse uma identidade muito grande com a entidade. Desde a época que fui guardinha eu olhava as fotos dos ex presidentes e pensava em um dia também assumir essa função e esse sonho sempre esteve comigo e após ser convidado para entrar no Rotary Club de Fernandópolis vi que ali estava a chance de realizar o meu sonho, já que todo presidente do CAEFA faz parte do Rotary Clube Fernandópolis,  que é o mantenedor da entidade.

Quais motivos o fazem acreditar na precoce formação dos jovens para inseri-los no mercado de trabalho?

Infelizmente nem todo jovem tem estrutura familiar ou financeira para crescer pensando no futuro, que deve se preparar para arrumar um bom emprego, estudar, buscar qualificação profissional. Se esse jovem tiver a oportunidade de ter alguém que faça isso por ele, ou seja, que mostre o caminho que ele terá quer percorrer, que prepare o jovem para o primeiro emprego, com certeza ele vai ter uma condição diferenciada e tem tudo para ser um ótimo profissional. E é esse o papel do CAEFA. 

Atualmente, muitos partidos políticos têm citado, em programas eleitorais, a importância dos jovens aprendizes. Em sua opinião, o que os fez despertar para essa questão?

Com a mudança da legislação o jovem aprendiz passou a ser dos 14 aos 24 anos e se analisarmos bem, vamos ver que existe aí um grande número de eleitores. Acredito que esteja aí o interesse. Na realidade o que deveria ser feito é que algum político, deputado, senador, voltasse os olhos para o que vem acontecendo no Brasil com relação ao jovem. Hoje, a dificuldade de colocá-los no mercado de trabalho é enorme, pois mesmo que a legislação obrigue algumas empresas contratarem Jovem Aprendiz, por outro lado essa mesma legislação não da nenhum beneficio ao empresário. Em resumo, impõem uma obrigação sem uma contrapartida. É difícil de acreditar que para um jovem ou adolescente querer trabalhar, muitas vezes, é preciso  pedir autorização judicial, como acontece aqui mesmo em nossa cidade. Diante disso, faço a seguinte pergunta: será que já não passou da hora de se fazer uma nova legislação? Uma legislação moderna e que realmente busque atender tanto o interesse dos jovens como dos empresários, que seja feita sem nenhum interesse político e sim voltada ao desenvolvimento social e econômico. Talvez esteja aí a solução.

Ao contratar um Jovem Aprendiz, o que o empresário tem a ganhar?

Hoje a dificuldade em se encontrar um profissional qualificado é enorme, por incrível que pareça isso acontece. E ainda ocorre do empresário querer um profissional que atenda suas necessidades, que trabalhe da forma que ele goste. E aí está um dos diferenciais. Quando o empresário contrata um Jovem Aprendiz do CAEFA  ele vai ter um jovem que foi orientado dentro da entidade, teve vários cursos e ainda vai ter a oportunidade de “lapidar” esse jovem para que ele execute suas funções da forma que o empresário quer. É muito gratificante para um empresário saber que dentro do quadro de funcionários de sua empresa existe alguém que ocupe algum cargo de destaque e que esse funcionário está ali desde guardinha (hoje Jovem Aprendiz) e que foi ele quem deu a primeira oportunidade. Temos vários exemplos disso em Fernandópolis.

Como acontecem as preparações para esse jovem entrar no mercado de trabalho com o mínimo de capacitação?

O CAEFA, toda sexta-feira, recebe inscrições de jovens interessados em entrar na entidade. Sempre que vamos formar uma nova turma é feito uma triagem nas fichas de inscrição, buscando sempre por jovens em situações mais vulneráveis, ou seja, que realmente necessitem de um emprego devido a situação financeira, familiar, etc. Os jovens escolhidos passam por um treinamento onde é explicado o que pode ser feito por eles na empresa. Depois desse primeiro treinamento encaminhamos os jovens para as empresas fazerem as entrevistas e escolherem aqueles que mais se adéquam as suas necessidades. Após ser escolhida, a nova turma de jovens já possui uma empresa para trabalhar. Depois disso,  vamos preparar esses jovens para iniciar suas atividades, ministrando durante duas semanas cursos preparatórios, que na maioria, são voltados a função que exercerão. Depois de duas semanas o Jovem finalmente inicia suas atividades na empresa que o contratou, lembrando que mesmo durante o período que já estará desenvolvendo suas atividades, ele  continuará toda semana e até o final de seu contrato de trabalho passando por diversos cursos dentro do CAEFA.

Qual diferencial ele poderá levar para a empresa?

O diferencial está na preparação do jovem. Ele tem desde o início até o término do contrato de aprendizagem vários cursos voltados ao cargo que vai exercer dentro da empresa. Além disso, a empresa faz avaliações deste jovem e encaminha ao Caefa, onde será avaliado se ele vem ou não desempenhando de forma satisfatória suas funções na empresa.  A aprendizagem teórica inclui atividades internas (sala de aula) e atividades externas (visitas às empresas, órgãos, universidades e entidades sociais) e as atividades da aprendizagem prática são realizadas exclusivamente no ambiente empresarial. Ainda temos que destacar que caso seja necessário,  a entidade fornece todo suporte psicológico ao jovem, pois temos lá dentro psicólogo e assistente social que ficam à disposição, tanto do jovem como do empresário.

Atualmente, como anda o programa Jovem Aprendiz em Fernandópolis. Qual a sua estrutura, quantos jovens estão à disposição dos empresários e quantos estão no mercado de trabalho?  

Comprometida com o a formação profissional dos adolescentes e jovens a entidade buscou o registro e validação dos cursos junto ao Ministério do Trabalho e, de acordo com as prerrogativas estabelecidas pelo ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente -, temos hoje as seguintes funções: assistente administrativo, embalador a mão, almoxarife, vendedor do comércio varejista e repositor de mercadorias. Temos cerca de 90 adolescentes e jovens trabalhando. Estrutura suficiente para colocar mais de 200 adolecentes no mercado de trabalho. Existe a previsão de iniciarmos uma nova turma em dezembro e deixo aqui o convite para que os empresários entrem em contato como CAEFA. Eles darão uma oportunidade ao adolescente ou jovem para que ele possa desenvolver alguma das funções acima mencionadas dentro de sua empresa. É muito importante que o empresário tenha em mente que ele não vai somente cumprir o que determinada a legislação, mas sim, estará dando a oportunidade a um adolescente que em muitos casos nem mesmo tinha alguma perspectiva de ser alguém na vida. Essa é a função social que esperamos buscar.

Geralmente, qual é a condição de vida desses meninos. O que esse trabalho interfere na formação material e moral desses jovens? 

Há 43 anos em Fernandópolis, o CAEFA é uma entidade que tem como objetivo realizar capacitação profissional e integrar adolescentes e jovens no mercado de trabalho, contribuindo para seu desenvolvimento pessoal e profissional, tornando-os cidadãos participativos e atuantes. A busca sempre é voltada aos adolescentes e jovens de famílias carentes e que e vão poder ajudar de alguma forma, até mesmo na parte financeira, dentro de suas casas. Temos em nosso histórico o registro de mais de 13 mil adolescentes e jovens que já passaram pela entidade e hoje muitos são destaques nas empresas, contribuindo para o progresso do município e realizando seus sonhos.

 Uma das principais fontes de renda do CAEFA é o estacionamento da Expô. Como a instituição está conseguindo “se virar” sem essa renda?

Realmente uma das principais fontes de renda do CAEFA sempre foi o estacionamento da  Expô e não tivemos esse ano e, tudo leva a crer, que também não teremos no ano que vem. Hoje, a grande maiorias das entidades passam por dificuldades financeiras e sobrevivem de ajuda da sociedade, através de doações, eventos, etc. Com o CAEFA não é diferente, também passamos por dificuldades financeiras, ainda mais sem a renda do estacionamento. Esse ano, por exemplo, tivemos somente o tradicional almoço do CAEFA que foi realizado no mês passado, como forma de buscar alguma renda.

O que ajuda muito é o grande apoio que os rotarianos dão para a entidade. No almoço realizado, todos os itens são doados por eles, além de disponibilizarem durante cerca de dez dias seu tempo para ajudarem no preparo de toda comida, trabalhando todos os dias durante à noite na entidade. Aproveitando a oportunidade, gostaria de agradecer ao Rotary Club de Fernandópolis pelo total apoio e a todos os empresários que de alguma forma nos ajudaram neste evento. Enfim, a entidade somente poderá continuar a existir se tiver o total apoio de empresas parceiras,  que é fundamental, e claro com o apoio de todos na realização de eventos beneficentes.

Como ficará a situação, já que o  projeto de terceirização do recinto foi aprovado? Isso foi conversado antes com a Câmara?

Bom, esse projeto foi aprovado recentemente. Pelo menos nós não fomos procurados para discutir sobre esse assunto, o que acredito que deveria ter acontecido, pois não podemos esquecer que a exposição sempre rendeu verbas para várias entidades, como o CAEFA, APAE. Quero acreditar que com a privatização da festa as entidades continuem tendo seus espaços como antigamente. Estamos aguardando para ver se alguém vai nos procurar e buscar alguma solução para o próximo ano, caso isso não ocorra, infelizmente, seremos obrigados a achar outra forma de manter a entidade aberta. É  uma pena, já que tudo isso poderia ser resolvido antes do projeto ser aprovado.