A nova geração de educadores

20 de Agosto de 2025

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A nova geração de educadores

Aos 33 anos de idade, Adalberto Alves Pimenta, diretor da EMEF João Garcia Andreo é um dos representantes da nova geração de educadores, que têm pela frente o árduo trabalho de “substituir”, gradativamente, os professores da cidade, que marcaram significativamente a vida dos estudantes que passaram por suas salas de aulas. Uma tarefa difícil diante de grandes figuras como Wandalice Renesto, Rosinha Costa e companhia. Adalberto morou no Distrito da Brasitânia, em uma chácara, com os pais e uma irmã. E foi graças ao seu empenho e a cobrança incessante  de seu pai, que trabalhava na roça e jamais deixou faltar material de estudo, que Pimenta se formou no CEFAM no ano de  1998;  Letras, em 2005; Pedagogia, em 2009 e se pós-graduou em Gestão e Organização de Escola. Atualmente,  ele carrega a responsabilidade de comandar vários professores e fala, em entrevista,  dentre outros assuntos,  sobre as dificuldades em oferecer uma educação de qualidade em um país onde os professores são tão desvalorizados.

 

Porque decidiu trabalhar na área de educação?

Eu não decidi trabalhar na área da educação; a educação que decidiu por mim. Apesar de ter feito CEFAM e já ministrar aulas, meu primeiro vestibular foi para sistemas de informação, cursei durante três meses, mas desisti, porque sempre quis fazer letras, mas como estava trabalhando com o EJA à noite e eu queria fazer uma faculdade, fui fazer sistemas. Não gostei. Foi aí que eu vi que a educação realmente era minha área. Meu gosto por Letras se iniciou porque eu tive uma excelente professora na quinta série, que foi a dona Marli Leão. Até hoje e acredito que sempre, a terei como modelo de profissional, pois era essa mulher que colocava limites e ao mesmo tempo se igualava aos alunos confidenciando sua relação familiar, mostrando que era tão humana quanto os alunos, sem deixar que perdessem o respeito por ela. Mas, além de todos os exemplos, a decisão de ser um educador atualmente é por acreditar que posso fazer a diferença, proporcionando a visão de um futuro melhor para crianças que talvez não tenham quem as incentive.

Como chegou à direção de uma escola tão jovem? O que isso representa em sua carreira?

Apesar da maioria dos diretores de escola ser mais velhos, eu não acredito que sou tão jovem, pois já tenho  15 anos de experiência na área da educação e 33 anos de idade. Mas acredito que todo profissional que faz com dedicação o seu trabalho, uma hora ou outra ele é reconhecido, acho que foi isso que aconteceu.

Como encarou esse desafio?

Como todos os outros desafios da minha vida. É claro que quando nos deparamos com algo novo, nos causa desequilíbrio, um medo, mas é natural. Acredito que tudo na vida é um desafio. A partir do momento que somos concebidos estamos expostos a desafios, pois caso contrário, morreríamos no útero de nossas mães, pois o próprio ato de nascer é um desafio. Mas em relação à direção da escola, quando estamos dispostos a aprender e temos humildade, os problemas tornam-se mais amenos. Quando há humildade conquistamos as pessoas que nos cercam e essas se tornam parceiras no nosso trabalho.

Sua jovialidade atrapalha no comando de profissionais da educação com mais experiência?

Não, jamais. Em qualquer lugar onde há respeito e as pessoas são capazes de se colocarem no lugar das outras, dando a devida importância para o trabalho que a outra desempenha não há porque ter dificuldades para se relacionar, independente da idade e da experiência profissional, porque a maioria dos trabalhos se executa com sabedoria e não somente com inteligência. Sabedoria não depende de idade e nem de experiência profissional.

O fato de ser jovem pode ser considerado como um tema recorrente entre a maneira pouco mais inovadora de gerir uma escola aos olhos de tantos profissionais que atuam na área há mais tempo?

Eu não sei se a minha maneira de gerir é um pouco mais inovadora, pode ser que sim, mas eu acredito que tudo que fazemos é fruto de experiências anteriores, então o que eu faço é colocar em prática aquilo que considero que deu certo durante a minha atuação como docente e associo aos conhecimentos teóricos que recebi em minha formação. Paralelamente, acredito que somente com o “trabalho de equipe” conseguimos alcançar resultados satisfatórios e isso, para mim, é de relevante importância nos desafios do dia a dia.

O que significa a educação para o senhor?

Para mim, educação no sentido formal, é todo o processo contínuo de formação e ensino-aprendizagem, onde se prepara o cidadão para a vida em todos os contextos de vivência, buscando uma formação para o exercício pleno da cidadania.

É possível oferecer uma educação de qualidade em um país onde o profissional da educação é tão desvalorizado?

Quando se diz que há profissionais desvalorizados não se tem educação com cem por cento de qualidade. Porque educação de qualidade é quando todos os envolvidos estão plenamente satisfeitos com o que fazem e com o reflexo que o trabalho deles proporciona. O que é possível e o que se tem nos dias atuais são profissionais que, apesar de desvalorizados, lutam por uma educação de qualidade, se preocupando com uma formação continuada para o exercício pleno da cidadania, buscando sempre seus direitos como profissionais.

Muitas questões giram em torno das novas formas de ensinar crianças e adolescentes em um mundo cada vez mais dinâmico. Seu olhar mais novo perante o assunto consegue identificar os novos caminhos que a educação brasileira deverá seguir nos próximos anos?

Acredito que toda escola de valor deve estar sempre aberta às mudanças que ocorrem no mundo. Assim procedendo, faz seu caminho, caminhando, pois segundo um grande educador: “Não, não existe caminho novo. O que existe de novo é o jeito de caminhar....”  

O “Andreo” irá participar da Mostra estudantil de teatro 2013 com uma peça infantil dirigida pelo senhor. Qual é a importância de incentivar a cultura principalmente em crianças da rede pública de ensino?

O incentivo à cultura às crianças da rede pública é essencial, não somente da rede pública, mas a todas as crianças, assim como o incentivo ao esporte. Através da cultura a aprendizagem torna-se mais significativa e agradável. O teatro, por exemplo,  apresenta  a junção de muitas habilidades, quando a criança se interessa pelo teatro ela desenvolve a  concentração, a expressão corporal, trabalha os sentimentos, interação em grupo, etc.

Como é sua relação com os pais de seus alunos?

Educação não se faz sozinho! A participação dos pais no trabalho de uma escola é fundamental. Para isso procuro trazer os pais para a escola através de eventos, comemorações e reuniões, pois uma gestão democrática se faz ouvindo as ideias de todos os envolvidos na comunidade escolar. Mas, o grande o problema da educação nos dias atuais é a falta do acompanhamento da vida escolar dos filhos, existem sim pais muito preocupados e que acompanham o estudo dos filhos, pais que colocam limites e ao mesmo tempo são carinhosos.