Atleta paraolímpico de maior destaque internacional, Alan Fonteles, 21, vive, em 2013, um período de sonhos. Com três medalhas de ouro, nos 100, 200 e 400m rasos, e uma de prata, na prova do revezamento 4x100, Alan foi um dos grandes destaques do Mundial de Atletismo Paraolímpico, disputado em Lyon, na França. Nascido em Marabá, no Pará, o atleta teve uma infecção geral no organismo aos 21 dias de vida, o que provocou a amputação de suas duas pernas na altura do joelho. Mesmo com as limitações, o menino não se deixou abater e, aos oito anos, entrou para um projeto de iniciação esportiva. No início, a dificuldade de conseguir próteses adequadas atrapalhou seu rendimento, mas com muita garra e força de vontade, Alan trilhou seu caminho até o alto do pódio. Tudo para conquistar reconhecimento mundial. E conseguiu. Nesta quarta-feira, 23, o ídolo nacional veio a Fernandópolis para oferecer uma espécie de palestra aos fernandopolenses. Uma injeção de ânimo para os que desistem na primeira dificuldade.
Quando e por que decidiu iniciar os treinamentos em atletismo?
Eu assistia de casa alguns vizinhos praticando atletismo e na TV observava o Robson Caetano. Com isso disse para os meus pais que queria fazer atletismo para ser igual a ele um dia e desde então comecei a treinar em Belém/PA na Escola Superior de Educação Física. Depois de alguns anos comecei a treinar no estádio Olímpico Mangueirão. Participei do projeto Papo Cabeça, onde conheci minha ex-técnica Suzete Montalvão, que deu início a minha trajetória.
Houve resistência de sua família quando você decidiu seguir essa trajetória?
Não, pelo contrário. Eles me levavam aos treinamentos e apoiaram a minha decisão.
Encontrou muitas dificuldades no início?
Sim. Dificuldades todos os atletas encontram no começo, principalmente em relação ao incentivo, patrocínio, ainda mais na região norte, que não se tem muito. Isso prejudicou um pouco. Tá certo que já conquistei muita coisa na carreira e ainda sou muito novo, mas se tivesse recebido incentivos antes, talvez eu tivesse estourado mais cedo.
Quem é seu ídolo no esporte?
Tive uma forte influência do Robson Caetano no início da carreira. E depois comecei a observar muito o Oscar Pistorius. Ele é um atleta que antes mesmo de ir para Pequim, em 2008, eu já conhecia a história dele, sabia quem ele era e seguia os passos dele como um ídolo.
E na vida, quem é seu maior ídolo?
Na vida, com certeza meus pais. Eles sempre me incentivaram bastante para que eu pudesse estar hoje onde eu estou. Agradeço muito a eles, mas principalmente a Deus por ter me dado essa força, essa vontade de querer correr.
Você atingiu o status de principal atleta de sua categoria no atletismo paraolímpico. Para quem você dedica sua carreira?
A todos que me ajudaram de forma direta e indireta e aos que ainda ajudam e apoiam, como minha família, meus amigos, minha esposa, patrocinadores, enfim, todos que me ajudaram e ajudam até hoje. Não posso esquecer também de meu técnico e de todo o comitê paraolímpico brasileiro.
Trocaria tudo que conquistou como atleta paraolímpico por duas pernas comuns?
De forma alguma. Nem se me dessem dinheiro ou qualquer outra coisa eu trocaria.
Quais seus planos para o futuro?
Pretendo vencer o próximo campeonato Mundial que será em 2015. Eu ainda não tenho o título de campeão Parapan-americano, tenho apenas um bronze e uma prata em 2011 e eu ainda pretendo conquistar esse título. Logo em seguida tem o Mundial, que eu espero defender os meus títulos mundiais e quem sabe quebrar novos recordes. Já em 2016, têm as Paraolimpíadas aqui no Brasil onde pretendo representar bem o país.
Você é um atleta jovem e a maior parte de seu tempo passa treinando. Porque, ao invés de ir para baladas ou se divertir como fazem os jovens de sua idade, você dedica horas de seu dia para realizar palestras como a que realizou em Fernandópolis?
Para mim isso é muito importante. Poder mostrar a minha trajetória, a minha história. Eu acredito que ajude a mudar a vida de algumas pessoas. Claro que eu não vou mudar todo mundo, mas, pelo menos alguns, ao verem que eu consegui chegar até aqui mesmo com essa deficiência, mudam seu jeito de pensar e acreditam mais em si mesmos.
Qual a mensagem que você deixa as pessoas que querem iniciar uma carreira no esporte?
Busquem na secretaria de Esporte os projetos em aberto para que possam dar início no caminho, qual seja o esporte que desejem seguir. É preciso ter vontade. É difícil, você não vai chegar ao ápice de uma hora para outra, são necessários anos de treinamento e trabalho.
E para os que desistiram quando encontraram a primeira dificuldade?
Tente de novo. Não desista. As dificuldades vão sempre existir. Até hoje eu encontro algumas dificuldades. Se eu fosse parar em todas as dificuldades que encontrei ou nas vezes que disseram que eu não poderia, não teria chegado até aqui. Então, para você que desistiu por algum motivo, volte e diga: eu posso, eu vou atrás.
Se você não tivesse essa impossibilidade, acredita que você seria um atleta com a mesma força de vontade?
Não. Acredito que estaria trabalhando na fazenda junto com meus pais.
Como você recebeu a crítica vinda de um de seus ídolos, Oscar Pistorius, de que você teria se beneficiado de suas próteses?
Com naturalidade. Deixei passar, era um momento que ele estava estressado, pois fazia sete anos que ele não perdia a prova. Ele simplesmente não soube perder. Eu fiquei sim muito triste com as declarações dele, pois sempre ouvi de sua boca que as próteses não davam vantagem e as minhas próteses são as mesmas das dele, o mesmo modelo, o mesmo fabricante. Ele disse que as minhas estariam dando vantagem e não foi. Eu treinei muito, batalhei para conseguir ganhar aquela prova.