Nascido em família tradicional católica há 33 anos, na cidade de Três Lagoas/MS, Walter Lucato Campano Junior, o padre Junior, luta diariamente contra um problema, que ele aponta como o principal fator de afastamento dos fiéis da igreja católica: o esfriamento da fé. Ainda criança ele se mudou para a cidade de Guzolandia, de onde saiu aos 23 anos para o seminário em São José do Rio Preto e estudou por sete anos. Após ser ordenado padre, veio para Fernandópolis cumprir a missão que lhe foi destinada junto aos fiéis fernandopolenses.
Quando o senhor decidiu se tornar padre?
Minha família sempre foi muito católica, meus pais e avós sempre estiveram envolvidos diretamente com a igreja e desde pequeno participava das promoções. Acredito que o chamado de Deus é um mistério, mas eu respondi, fui para o seminário e agora estou ordenado há três anos.
Do seminário o senhor veio direto para Fernandópolis?
No tempo de seminário nós fazemos uma experiência pastoral. No primeiro ano eu fui para Auriflama, depois eu fiquei dois anos em Ilha Solteira, dois anos em Jales, na Catedral. Por último, vim para Fernandópolis, onde fiquei por dois anos como seminarista e logo depois que fui ordenado padre. O bispo me conservou aqui atendendo as comunidades do Núcleo I, que são as comunidades do Ubirajara, Araguaia, Uirapuru, enfim, todo o complexo do lado de lá da rodovia (Euclides da Cunha), além de Brasitânia.
Como o senhor vê a igreja católica após a ordenação de papa Francisco, que completa sete meses amanhã?
O papa Francisco foi uma surpresa para a Igreja. Todos acompanharam desde a renúncia de Bento XVI, até a eleição do papa Francisco e ele não era citado em nenhum momento dentre os papáveis. Hoje, a Igreja passa por um momento de esperança, não que ele vá mexer com toda a estrutura eclesial, mas temos a esperança de que ele vá, com aquele jeito simples, dar alguns direcionamentos para a Igreja retomar o caminho de humildade, simplicidade, a caminho de uma Igreja mais próxima do pobre. Ele está dando alguns acenos disso, de que a Igreja precisa voltar as suas raízes, estar mais próxima do povo, estando mais atenta às suas necessidades. Quando digo povo, falo de todos: pobre, rico, homem, mulher, enfim, todos aqueles que acompanham a Igreja. Quando falamos de pobreza, não falamos somente da pobreza material, mas também de toda pobreza espiritual, que de uma maneira ou de outra afeta todas as pessoas.
Já foram promovidas algumas mudanças pelo novo papa na Igreja católica. Quais se destacam, em sua opinião?
Começou com as mudanças na estrutura interna da própria Igreja, no que se diz respeito ao Banco do Vaticano, onde ele pediu mais transparência, inclusive abrindo as contas. Tem também uma reforma na Cúria Romana, que é responsável, de certa forma, em conduzir a Igreja. Essa reforma ainda não foi feita, apenas ouve algumas mudanças de pessoas nela. Desde que assumiu ele deixou claro que a Cúria deve estar a serviço da Igreja pelo bem comum. Outra mudança feita foi a nomeação de um grupo de cardeais como conselheiros do papa. Essas mudanças e outras que ainda devem vir nos enche de esperança de uma Igreja que é por essência missionária e que não pode perder essa característica.
Essas mudanças já promovidas e o jeito de ser do papa Francisco pode fortalecer a fé do povo católico evitando a perda de fiéis?
Aquele acontecimento no Rio de Janeiro não foi por acaso, 3,7 milhões de pessoas foram vê-lo na Jornada Mundial da Juventude. Nós percebemos que ele é um papa que está conquistando o povo e ele quer que nós, enquanto padres, bispos e até nossas lideranças da igreja façam isso também, pelo jeito de ser, de agir, de conduzir as obras da Igreja. Ele está sendo uma grande luz para nós e espero que o Papa Francisco consiga nos ensinar um jeito novo de ser Igreja, um jeito que, na verdade, não é tão novo assim, mas precisa ser resgatado de alguma maneira. A vinda dele ao Brasil foi um novo impulso para o catolicismo no país e ele já prometeu voltar em 2017, para os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Três ônibus lotados de jovens saíram de Fernandópolis ao encontro da Jornada da Juventude. Como o senhor avalia a participação dos jovens nesse novo momento da igreja católica?
Foram três aqui de Fernandópolis e seis de toda Diocese. Fiquei muito feliz e orgulhoso em saber que nossa juventude quis participar daquele momento. Deus não faz nada por acaso. Foi um momento de despertar na juventude muitas coisas boas. Depois, colhendo o testemunho de quem esteve lá, que apesar do cansaço, não se viu estresse, mas sim muita solidariedade, onde um compartilhava com o outro o que não tinha. Foi um aprendizado para eles. Para a juventude foi um sinal de que a Igreja olha por eles. Em Fernandópolis, graças a Deus, temos muitos jovens engajados na missão de Deus. Aqui na região da Matriz nós temos o EJOCRI, nos bairros temos o EJC, o EJUS, PJSB, os Vicentinos, enfim, nós não podemos dizer que os jovens não estão na igreja, porque estão. Isso tudo nos leva a despertar que não podemos nos esquecer deles. Estão aqui e precisamos fazer alguma coisa com eles e por eles. Isso foi um impulso para o trabalho com a juventude.
Comenta-se que um dos motivos da perda de fiéis pela Igreja Católica é decorrência das missas serem muito longas. O senhor acha que a missa é longa, ou a fé que é curta?
Nem a missa e nem a fé. Acho que o povo acaba dando algumas desculpas que não são reais. Hoje uma missa dura em média uma hora, uma hora e quinze. Acho que a diminuição de católicos nem tanto se deu por conta disso. Se formos a qualquer outra igreja o culto religioso leva também em média uma hora e outras se estendem até mais do que as missas. Acho que não é questão de tempo, mas sim do esfriamento da fé. Perguntaram ao papa de quem era a culpa e ele disse que não conhecia a realidade do Brasil ainda, mas afirmou que a Igreja não poderia deixar de ser mãe. Se ela deixasse de acolher, abraçar o seu povo e se comunicar com ele de maneira menos afetiva a Igreja perderia os fiéis. Acredito que isso pode ter acontecido no Brasil, que ainda é o país com o maior número de fiéis, mas perdemos muitos. No entanto, não acredito que isso tenha acontecido por conta dos cultos e celebrações, mas sim pelo esfriamento da fé, ou descuido dos pastores e quando digo pastores estou me referindo não somente aos padres e bispos, mas de todos que estão ligados à comunidade paroquial.
Já veio alguma recomendação do Vaticano de como fazer para trazer mais fiéis para o catolicismo?
Ao contrário do que alguns pensam, a igreja não está preocupada com quantidade fiéis, mas sim com a qualidade da fé de nosso povo. O papa Francisco veio com um novo ardor missionário, não de buscar pessoas em outras religiões, mas fortalecer a fé de quem já está no catolicismo e levar o evangelho para quem ainda não o conhece. Uma das orientações especificas sobre a missão da Igreja, que é o que a sustenta, é não deixar de ser missionária, estar no meio do povo e aproximar mais da igreja aqueles que são católicos, mas não são praticantes.
Nesses três anos em Fernandópolis, qual é a sua impressão sobre a comunidade católica local?
A comunidade católica de Fernandópolis é muito ativa. Temos aqui três paróquias, a Santa Rita, São Luiz Gonzaga na Brasilândia e senhor Bom Jesus em Brasitânia. Essas três paróquias são compostas por 28 comunidades e todas são muito ativas, tanto na missão, na catequese, na evangelização, no trabalho das pastorais, como na promoção humana. A Igreja em Fernandópolis vem sendo um sinal muito forte da presença de Deus. Da para melhorar? Com certeza, mas temos lutado e visto a luta de nossos fiéis na busca pelo fortalecimento de nossa missão.
Qual a mensagem de fortalecimento da fé que o padre Junior deixa para a população de Fernandópolis?
Temos que nos inspirar naquilo que nosso papa vem fazendo. Sendo simples, humildes e sempre olhando para os mais necessitados, pois, a medida que perdemos isso de foco, se perde a essência da Igreja. Jesus veio a terra para fazer o bem. Se fizermos um pouco daquilo que Jesus fez e assumirmos em nós a bondade de Deus, tudo fica melhor, mas isso depende da fé.