A modernização do ensino

20 de Agosto de 2025

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A modernização do ensino

Apesar de pouca idade, Fábio Augusto Papa Vizelli é um velho conhecido dos alunos. Formado e pós-graduado em Letras pela Fundação Educacional de Fernandópolis, ele ministra, desde 2002, aulas de Redação, Gramática e Literatura para várias séries do Ensino Médio. Atualmente, Fábio é sócio do colégio Objetivo de Fernandópolis, coordenador do Ensino Médio e professor na área de Humanas. Três anos depois de ter assumido a direção do colégio com mais nove professores, ele conta, em entrevista, as perspectivas de uma instituição de ensino gerida por professores e o desafio de levantar a bandeira do  ensino de qualidade em um país que não se preparou para a questão.

Em 2010, a antiga FEF Teen se transformou em Colégio Objetivo e passou a ser administrada por um grupo de 10 professores, dentre eles estava você. Como e porque foi tomada essa decisão?

Na verdade, o Colégio Objetivo existe na cidade há mais de 20 anos. Durante um tempo, incluindo a administração da FEF, houve a adoção de outros nomes (como FEF Teen). O que fizemos, ao assumir a escola, foi retomar o nome de origem do colégio.

No final de 2010, a Fundação começou o processo de reestruturação de seus campus. Um deles era a FEF Teen. Quando soubemos que a FEF não tinha mais interesse em continuar com a escola, fomos procurar o Dr. Paulo Nascimento. Não tínhamos noção de como era administrar uma empresa, ainda mais do tamanho do colégio. A princípio, foi uma decisão movida pelo instinto. Afinal, éramos em dezenas de funcionários (entre docentes e administrativos) e não queríamos que uma história tão rica terminasse daquele jeito. Reunimos alguns colegas de profissão (todos com um bom tempo de Objetivo) e formamos a sociedade que hoje gera o colégio.

O que mudou?

Aos poucos o colégio se profissionalizou. No começo, achávamos que só boa vontade era suficiente para administrar os diversos setores de uma empresa. Com o tempo, aprendemos que ter boa vontade é importante, mas é preciso buscar pessoas experientes e qualificadas para otimizar tais departamentos. Hoje, nossa parte é pedagógica (aquilo que a gente sabe e de que gosta). Com isso, o colégio ganhou, e muito. E não só o colégio, mas todos aqueles que participam do cotidiano dele (professores, funcionários, alunos, pais).

A escola ainda é administrada pelo mesmo grupo?

A base do grupo é a mesma. Porém alguns dos sócios originais decidiram seguir um caminho diferente. Foram buscar novas experiências. Alguns se mudaram, outros continuam fazendo parte da “família Objetivo” como professores.

Recentemente foi realizada a competição “Soletrando” na escola. Além desta, quais foram as inovações implantadas por vocês?

Uma das nossas maiores preocupações é modernização do ensino. A escola precisa acompanhar as novas tendências e dialogar com esse novo alunado (mais moderno) o tempo todo. Por isso, é frequente a elaboração e a realização de diversos projetos sociais, culturais, acadêmicos. O Soletrando é uma dessas ideias. O aluno, ao participar, se vê dentro de um jogo (tem a apreensão, o nervosismo, a competitividade), mas nunca deixamos ele esquecer que há um objetivo atrás disso tudo, o aprofundamento do seu conhecimento, no caso, a Língua Portuguesa.

Mas o Soletrando é apenas parte dessas propostas de inovação. No colégio, as ideias brotam aos montes, é preciso selecioná-las constantemente. Dessa forma surgiram: o “FICO” (festival de música), o “Jovens Escritores” (concurso de redação), o “Objetivo Folia” (o carnaval no salão), o JICO (campeonato esportivo), o “Encontro Cultural”, a “Festa das Nações”, entre outros. São tantos que, a partir de 2013, adotamos o sistema “bienal”, ou seja, alguns eventos passam a acontecer de dois em dois anos.

Como foi a receptividade por parte dos pais e alunos?

A família é parte fundamental do processo educacional. Por isso, acreditamos e incentivamos a participação dos pais nos eventos do colégio. Infelizmente, sabemos que hoje o dia é muito corrido. Cada vez mais, pais e mães trabalham fora. Mas percebemos que eles querem fazer parte da vida escolar dos filhos. Assim, sempre que possível, tentamos diversificar os horários com esse intuito.

Um projeto para o ano que vem é estreitar ainda mais essa relação. Recentemente, adquirimos o acervo de uma antiga livraria da cidade. Estamos transformando nossa biblioteca numa verdadeira livraria. A proposta é dividir esse espaço não só com os alunos, mas com os pais também.

O Objetivo Fernandópolis insere todos os anos dezenas de jovens nas mais conceituadas universidades do país. Como isso é possível?

O sistema Objetivo é o mais completo do país. Assim, os alunos têm inúmeras ferramentas a seu dispor: provas semanais, simulados, aulas diversificadas, professores qualificados, ambiente acolhedor, material de qualidade. Além disso, conseguimos criar uma identidade como escola. O nosso aluno já sabe como funciona o colégio, sabe que ele é parte essencial desse processo. Ao se tornar consciente disso, dinamiza-se o trabalho e, por isso, colhemos os louros desse sucesso conjunto. Como no ano passado, quando 80% dos anos alunos foram aprovados em Universidades publicas sem a necessidade de cursinhos.

Voltando para o lado pessoal. Como foi encarar esse desafio para você?

Nunca tive medo de desafios. Quando assumimos o colégio, tinha 30 anos. Sempre me arrisquei, se a ideia for boa eu a compro e luto por ela até o fim. Pra muitos eu sou teimoso, eu me acho persistente (risadas).

Como foi o respaldo de sua família?

Sou filho único. Então dizem que sou mimado o tempo todo. É claro que meus pais tiveram ressalvas quando souberam da ideia da compra da escola. Acredito que sejam temores naturais de quem quer o seu bem. Mas como bons descendentes de italianos, meus familiares (meus pais, minha madrinha, tios, primos, avós) sempre ficaram do meu lado não importando qual fosse a minha decisão. 

Como professor de uma escola particular, qual seu conceito da expressão “ensino de qualidade”?

Hoje se discute muito a “qualidade de ensino”. Acredito que ela esteja atrelada a vários fatores, mas todos eles passam pela escola, pelos alunos e pela família. Quando todos falam a mesma língua e há confiança mútua nesse processo, os resultados são alcançados com mais rapidez.

Se pudesse opinar aos governantes, qual seria sua sugestão para transformar a educação do Brasil e levá-la com igualdade para todas as crianças do país?

Infelizmente, não temos um passado de preocupação verdadeira com a educação do país. Na maior parte das vezes, o governo toma decisões imediatistas para tapar buracos superficialmente. É preciso se organizar e planejar a médio e longo prazo. Não é começando pelo ensino superior que resolveremos o problema.  O alicerce é o ensino básico. A escola precisa ser atrativa ao aluno, precisa refletir o cotidiano das crianças e adolescentes. Quanto mais distante dos alunos ficarmos, mais lenta será a reestruturação do nosso sistema educacional.