Aos 46 anos, o enfermeiro e professor José Martins Pinto Neto pode ser, e, é considerado por muitos, um dos responsáveis pela certificação da Santa Casa de Fernandópolis como Hospital de Ensino. Casado e pai de duas filhas, uma de 23 e outra de 17 anos, Zé Martins, como é conhecido, coordenou a comissão certificadora responsável pela organização de todos os trâmites técnicos necessários para a finalidade. Mesmo diante de todas as suas atribuições profissionais: professor do curso de medicina da Unicastelo, no período da manhã, de enfermagem e vários outros cursos na FEF à noite e gerente municipal de programas de saúde durante a tarde, Martins ainda encontrou um tempinho para trabalhar voluntariamente na comissão. Ele está diretamente ligado à saúde no município desde 1988, quando se formou na terceira turma do curso de enfermagem e obstetrícia da FEF. Depois disso, foi o primeiro enfermeiro da UTI na Santa Casa de Fernandópolis. Trabalhou como enfermeiro também no extinto Centro de Saúde I e, logo depois, começou a atuar como professor no curso de auxiliar de enfermagem da FEF. Em 1990, começou a ministrar aulas no curso de enfermagem e obstetrícia também na Fundação. Em 2005, assim que foi aberto o curso de medicina na Unicastelo, ingressou como professor da universidade. Seu envolvimento tanto na área de ensinamento como na prática de saúde em Fernandópolis fez com que ele encarasse esse desafio. O resultado vimos na última quarta-feira, 7, no Diário Oficial da União.
CIDADÃO: Você é foi o coordenador da comissão responsável pela certificação da Santa Casa de Fernandópolis como Hospital de Ensino. Quando foram dados os primeiros passos para essa conquista?
José Martins: Os primeiros passos antecederam a minha colaboração, mas um dia fui participar de uma reunião. Ao participar dessa reunião percebi que ainda tínhamos vários aspectos a serem trabalhados antes de recebermos com segurança a visita dos certificadores e então me elegeram o coordenador da equipe que trabalharia nisso. Reorganizei a comissão incluindo profissionais da Unicastelo, FEF e Santa Casa. Depois disso organizamos um cronograma e discutimos todos os itens da portaria interministerial 2400/2007 e a verificamos ponto a ponto no intuito de corrigir o que fosse necessário para alcançarmos esse objetivo. Como resultado desse trabalho, conseguimos cumprir todos os requisitos necessários previstos nessa portaria e no dia 25 de setembro de 2012, quando os avaliadores chegaram à Santa Casa, todos da comissão estavam na porta para recebê-los. Depois eles iniciaram uma visita in loco em todas as dependências físicas do hospital, conheceram todas as comissões existentes, todos os serviços de apoio e naquele momento tudo que os certificadores queriam foi atendido pela comissão de imediato. Naqueles dias os certificadores avaliaram nossa situação e outorgaram, por meio de seus relatórios, que atendíamos todas as solicitações necessárias sem indicar nenhum TAC – Termo de Ajuste de Conduta.
CIDADÃO: Quais foram as principais dificuldades encontradas nessa trajetória?
José Martins: Nós encontramos apenas dificuldades pontuais e elas foram sendo resolvidas a medida que nós envolvíamos cada vez mais os profissionais dentro do hospital e nisso, todos os pontos de dificuldades operacionais foram solucionados. Isso só foi possível graças à contribuição de todos os profissionais que trabalham na Santa Casa e é por isso que estamos passando em todos os setores, em todos os turnos, para agradecer um a um, pois a responsabilidade também é deles.
CIDADÃO: O que muda a partir de agora?
José Martins: Agora, além de oferecer a saúde em nível secundário de atenção, o hospital também tem o compromisso do desenvolvimento de pesquisas químicas e epidemiológicas, ou qualquer modalidade de pesquisa dentro do hospital, a Santa Casa também é responsável pela avaliação e desenvolvimento de novas tecnologias dentro do hospital, além da própria formação de profissionais da saúde. A Santa Casa agora terá um grande impulso com a publicação dessa portaria, muitos projetos serão executados lá e a população vai sentir essa diferença. Então, como eu disse aos próprios avaliadores, a Santa Casa de Fernandópolis já é um Hospital de Ensino por vocação. Ela já formou centenas de profissionais na área da saúde desde quando foi aberto o curso de enfermagem na cidade em 1984. De lá para cá, nossa Santa Casa foi o principal campo de aula prática e estágios supervisionados para formação de recursos humanos para saúde. Se nós colhemos bons frutos hoje no IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal -, que foi amplamente divulgado na mídia, devemos ao trabalho desses profissionais de saúde que, ao longo desse tempo todo, trouxeram contribuições significativas para a melhoria na qualidade de vida de nossa cidade. Hoje estamos colhendo os frutos do investimento feito em saúde e educação desde a década de 90.
CIDADÃO: Todos sabem o quanto está complicada a situação financeira da Santa Casa de Fernandópolis, bem como todas do país. Isso não atrapalhou de alguma forma o processo de certificação como Hospital de Ensino?
José Martins: As Santas Casas de todo Brasil sofrem há décadas com a defasagem da tabela do SUS, mas esse fator não atrapalhou os nossos trabalhos, até porque os certificadores conhecem a realidade das Santas Casas no país. Com essa certificação, o Governo Federal tem compromisso conosco como Hospital de Ensino na melhoria de repasse de recursos e agora também temos a condição de solicitar mais recursos de outros ministérios e estaremos fazendo projetos para conseguir recursos financeiros, para custeio, aquisição de equipamentos e de recursos humanos para o hospital. Toda sociedade deve ficar contente com essa conquista em particular, que é ter uma Santa Casa como hospital de ensino. São 6.879 hospitais em todo país e destes, apenas 171 são hospitais de ensino, por isso é importante ver a proporção desta conquista, não só para Fernandópolis, mas também para toda a região.
CIDADÃO: A informação que tínhamos é que tudo já estava pronto para a publicação desta portaria no final do ano passado, mas o processo estava parado. Como vocês conseguiram quebrar essa barreira?
José Martins: Esse processo de tramitação é um processo naturalmente burocrático. Imaginamos o quanto de trabalho não tem o Ministério da Saúde, da Educação, em um país desta dimensão com 26 estados 5565 municípios 194 milhões de habitantes. Então houve uma movimentação muito grande de todos os membros da comissão, que iam constantemente a Brasília e em especial do deputado federal Devanir Ribeiro, que procurou agilizar esse processo e deu certo.
CIDADÃO: A partir de agora a Santa Casa já é um Hospital Escola e isso trará inúmeros benefícios, não só para o hospital, como também para população. Você pode citar algumas vantagens?
José Martins: Eu poderia enumerar vários benefícios que a população terá com essa certificação, sempre lembrando que isso é um processo. Fomos certificados oficialmente ontem (quarta-feira), então todas as comissões que estão lá dentro já estão pensando na melhoria da qualidade da assistência oferecida ao munícipe. Essas comissões pensam na qualidade da assistência, na implantação das medidas de segurança do paciente, em conseguir mais recursos financeiros para aquisição de mais equipamentos. Para quem não sabe, um aparelho de respiração artificial custa mais de R$ 100 mil e com mais aportes financeiros teremos condições de adquirir mais equipamentos, o que reflete diretamente no atendimento ao paciente.
CIDADÃO: A quem o senhor atribui a conquista do Hospital de Ensino para Fernandópolis?
José Martins: O Hospital de Ensino é uma conquista de um conjunto de profissionais que trabalharam para isso. Houve o envolvimento de muita gente e eu correria um risco imenso e imperdoável de esquecer alguém se eu fosse fazer nomeações. Eu gostaria de dizer que todos os profissionais da comissão certificadora, todos os colaboradores da Santa Casa, da Unicastelo e da FEF são responsáveis pela certificação da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis como um Hospital de Ensino.