Em entrevista exclusiva ao CIDADÃO, a prefeita de Fernandópolis Ana Maria Matoso Bim (PSD) comentou pela primeira vez, as recentes especulações sobre a implantação da ZPE – Zona de Processamento de Exportação - na cidade. Bim falou ainda sobre o pedido de prorrogação do prazo, da misteriosa aparição do grupo que adquiriu as ações, no dia em que técnicos do Ministério do Desenvolvimento fiscalizavam o andamento da implantação da ZPE na cidade (eles nunca haviam procurado a prefeitura neste mandato) e da necessidade de se esquecer da política e pensar em um bem comum para cidade.
Na última quinta-feira, 11, terminou o prazo da concessão assinada no decreto presidencial de 8 de julho de 2011 para a implantação de no mínimo 10% do projeto na cidade. Um pedido de prorrogação do prazo foi protocolado.
O interesse dos investidores de Barueri surgiu cerca de 15 dias antes do término do prazo. Os empresários estariam ligados ao grupo e apresentado uma proposta de compra do terreno do Grupo Arakaki num valor de R$ 15 milhões.
O súbito interesse, como tudo relacionado à ZPE até o momento, serviu mais uma vez como plataforma política. Falou-se até em uma união entre a atual gestão e o grupo do ex-prefeito Luiz Vilar de Siqueira, da emoção do ex-chefe do Executivo e de que seu grupo estaria organizando a papelada para pedir a prorrogação do prazo, pois desta vez a “coisa” iria para frente.
Segundo Ana Bim, “tudo não passou de um grande ‘disse-me-disse’”. O que de fato aconteceu, de acordo com a prefeita, foi que coincidentemente, no exato momento em que técnicos do Ministério do Desenvolvimento - responsável pela implantação das ZPEs no Brasil – visitavam o gabinete do executivo para saber em que estágio estava nossa ZPE, representantes da Dicriveli apareceram na prefeitura, pela primeira vez nessa gestão, com uma carta de intenção de compra do terreno do Grupo Arakaki.
“Tentamos contato com eles (Dicriveli) desde que assumimos a prefeitura e nunca fomos atendidos. Aí, do nada, coincidentemente no dia em que a fiscalização do Ministério veio para Fernandópolis averiguar o andamento do processo, representantes dessa empresa estiveram na prefeitura para nos procurar, pela primeira vez. Foi até meio constrangedor, pois eles queriam, a todo custo, se reunir com a gente antes que nos reuníssemos com o pessoal do Ministério, que havia chegado antes deles”, disse a prefeita.
DICRIVELI?
Neste dia, segundo ela, é que os responsáveis pela implantação das ZPEs no Brasil ouviram falar pela primeira vez sobre Dicriveli e do que o ex-prefeito havia feito ao final do seu mandato.
“Para o Ministério (do Desenvolvimento), não existe Dicriveli, pois nada dessa ‘compra e venda’ das ações passou por lá. Para eles não existe empresário A ou B, fulano ou ciclano, existe apenas a Prefeitura de Fernandópolis e nós estávamos de mãos e pés atados, pois não conseguíamos contato com a empresa que adquiriu as ações para dar prosseguimento aos trabalhos”, completou a chefe do executivo.
No mesmo dia, ainda de acordo com a prefeita, houve uma reunião entre os representantes dessa empresa e os técnicos ministeriais, onde eles (Dicriveli) apresentaram a intenção de comprar a área para instalação da ZPE através de um outro investidor.
“Eles apenas demonstraram interesse em comprar a área, nada além disso. Não tem nada assinado, nada comprado e nem vendido e mais uma vez eles estão usando esse tema, que pode mudar o rumo de Fernandópolis para fazer política e é isso que cada vez mais afasta nossa ZPE da realidade. Nem foto eles permitem tirar, inclusive a assessora de imprensa da Câmara foi convidada a se retirar da sala, pois ela foi tirar foto e eles não queriam”, frisou Ana Bim.
As palavras da prefeita foram reforçadas pelo secretário Municipal de Desenvolvimento Sustentável Claudecir dos Santos, que no último dia 5 foi à Brasília pedir a prorrogação do prazo para implantação da ZPE em Fernandópolis. Ele disse ter levado uns “puxões de orelhas lá em cima” pela forma como a ZPE tem sido tratada aqui.
“Esse termo de doação para a Dicriveli deveria ter passado pelo Ministério. Eles não sabiam de nada e eu tomei até umas “duras” do secretário e a única coisa que eu podia dizer a ele é que não podíamos ter feito nada, pois quando assumimos, eles (administração anterior) já tinham feito tudo isso. Todo esse processo, que não foi comunicado ao Ministério acaba pesando ainda mais na prorrogação do prazo, pois tudo precisaria ter sido feito de forma clara para eles e acabou sendo feito às escuras. Eles são muito técnicos. Não aceitam que a ZPE seja utilizada politicamente”, afirmou o secretário.
PRAZO
Após o protocolo do pedido de prorrogação do prazo, o CZPE – Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação – têm até 30 dias para apresentar o parecer pela prorrogação, ou não, do prazo à presidente Dilma Rousseff, que dará a palavra final.
“O que podemos fazer estamos fazendo. Reunimos toda a papelada necessária, fui sozinho para Brasília, fiquei mais de duas horas apresentando os motivos pelos quais merecemos a ZPE para pedir a prorrogação, enfim, tudo o que era necessário para que possamos continuar com o projeto”, disse Claudecir.
Para o secretário, é importante não ficar iludindo a população, pois isso envolve uma questão muito maior do que uma simples promessa política.
“O que temos que deixar claro para a população é que a ZPE não sairá do dia para noite. Depois do prazo prorrogado e da empresa ter adquirido a área destinada para a instalação, ainda teremos, no mínimo, de três a quatro anos para que a ZPE comece a ser implantada. É preciso deixar bem claro isso, para que o mesmo erro não seja repetido. Anteriormente, foi implantada a ideia na mente dos fernandopolenses que tudo aconteceria do dia para noite e o resultado disso foi um ‘boom’ imobiliário. Muita gente adquiriu terrenos e imóveis esperando a ZPE e agora estamos aí com mais de 1800 residências para serem alugadas na cidade. Não se pode fazer isso. As coisas precisam ser feitas com seriedade. Nós, como poder público, temos o dever de informar corretamente a população e não ficar brincando com ela”, concluiu o secretário.