A professora e empresária Péta de Matos abriu uma pequena parcela do baú de memórias de seu pai, o saudoso comerciante Mário de Matos, que encabeçou, juntamente com tantos outros portugueses, a fundação da Casa de Portugal.
Peta conta que um dos apoios externos mais importantes que a Casa de Portugal recebeu foi da empresa aérea TAP – Transportes Aéreos Portugueses. Eles estavam sempre presentes nas festas do Vinho e nas Noites Portuguesas, com brindes e sorteios de viagens para a terrinha. “Todo trabalho desenvolvido no clube, meu pai fazia questão de relatar, anexar fotos, reportagens jornalísticas e enviar para os jornais portugueses “Voz de Portugal”, “Jornal de Portugal”, “Mundo Português”, que o publicava. Se não o fizessem, ele cobrava através de correspondência. Revendo seus documentos, é interessante que ele fazia questão não só de divulgar o clube, mas também, seus associados e os eventos de nossa cidade”, conta Péta.
Sr. Mário mantinha, através do Clube, contato direto com o Cônsul de Portugal em São Paulo, o Cônsul Honorário de Portugal em Rio Preto; com as Casas de Portugal de Rio Preto, de Ribeirão Preto, Bauru, de Maringá (PR) e outras; com os ranchos folclóricos; com as Beneficências Portuguesas; com a Federação das Associações Portuguesas e Luso Brasileira, com sede no Rio de Janeiro e com a TAP. “Meu pai foi sempre o articulador da colônia portuguesa na região, segundo Dr. Lorca (cardiologista em Rio Preto), mantendo contato direto com outras colônias portuguesas, autoridades, com as Beneficências Portuguesas e os jornais da cidade, da região e de Portugal”, conta.
Além das Festas do Vinho com apresentação de ranchos folclóricos, dos Bailes da Saudade com o cantor Francisco Petrônio e sua orquestra, Sr. Mário ajudava na realização dos bailes de réveillon, das debutantes, de aniversário da cidade, juninos, da Aleluia (Páscoa), do Hawaí, da Semana da Pátria, dos jantares dançantes, das festas e casamentos. “E não podemos esquecer dos grandes carnavais, que nos anos 70 e 80, ali eram realizados, como escreveu meu pai “o maior carnaval da região e do interior do estado”. Eram quatro noites e duas matinês, com a presença de muitos foliões e admiradores que tomavam por completo os salões e áreas do clube”, ressalta.
Nos anos 90, a Casa de Portugal participava da Festa das Nações comandando a barraca Portuguesa, onde eram servidos bolinhos de bacalhau, sardinhas assadas na brasa, linguiça portuguesa com molho de tomate e pão, caldo verde (a noite) e bacalhau a Gomes de Sá (no almoço). Os ranchos folclóricos portugueses eram presenças constantes.
“Remexendo o baú”, Péta constatou que no início a bacalhoada era servida em setembro, quando o clube realizava a Noite Portuguesa. Essa noite se iniciava com um jantar, seguido da apresentação de cantores portugueses com seus guitarristas e terminava com o baile abrilhantado sempre por um conjunto musical. “Era assim que meu pai descrevia a festa, como o fez no dia 6 de outubro de 1989 para o jornal Voz de Portugal”.
O artigo enviado por Mário de Matos dizia o seguinte:
“Depois do grande sucesso na Noite Portuguesa onde a cozinha portuguesa era destaque e muito bem preparada pelas senhoras portuguesas: o belo bacalhau a Gomes de Sá e o apreciável caldo verde, acompanhados ao bom vinho branco e tinto; casa lotada, a fina sociedade fernandopolense e região se fizeram presentes.
Quando todos saboreavam o delicioso jantar, entraram no palco desta casa a grande atração da noite cantando para todos Sebastião Manoel e Terezinha Alves com seus guitarristas, recebendo de todos muitos aplausos; depois dos comes e bebes, muitos foram para a pista dançando e aproveitando a boa música do conjunto musical ‘Música & Arte’. Também se fizeram presentes ao grande acontecimento distribuindo diversos brindes, representantes da nossa TAP - Transportes Aéreos Portugueses...”
Todos esses eventos só se concretizavam graças ao trabalho de uma diretoria dinâmica e unida. “Uma das qualidades do clube é que a diretoria sempre foi composta por portugueses e brasileiros, por determinação dos próprios portugueses. Meu pai sempre enfatizava que o trabalho ideal de toda a diretoria da Casa de Portugal era de união, entrosamento e, acima de tudo, de equipe”, conta Péta.
Esta é apenas uma pequena parcela de um valioso acervo que Péta guarda com muito carinho, do homem que viu em suas raízes a oportunidade de reunir pessoas com os mesmos interesses e fundar um clube que os deixassem mais perto de Portugal. Copilando alguns trechos, ela já garante: “Meu desejo é que esse trabalho continue. Pretendo escrever sobre a origem da bacalhoada feita pela colônia portuguesa em nossa cidade”.
Sr. Mário de Matos faleceu em dezembro de 2006, mas deixou obras importantíssimas para a cidade. A história fernandopolense agradece.