Viva vida

20 de Agosto de 2025

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Viva vida

A professora aposentada Maria Augusta de Matos Bento da Silva tem 72 anos e meio de idade, é filha do casal português Paulo Pereira Bento e Ludovina de Matos, veio de São José do rio Preto para Fernandópolis ainda muito pequena.

Quando criança, se lembra com perfeição do comércio de “secos e molhados” que seu pai mantinha na antiga avenida cinco – esquina com a Rua Brasil – onde ajudava de forma espontânea. “Eu me via sentada no chão da loja copiando os nomes dos sabonetes que existiam na época: Lifeboy, Gecy. Ajudava a entregar uma mercadoriazinha ao freguês, tudo mu
ito natural”, conta.

Estudou até a quarta série na escola JAP. Quando terminou o primário, os pais a colocaram em um internato em Rio Preto para garantir os estudos da filha. “Aqui era muito sertão. Meus pais me colocaram lá para ter uma educação diferente. Ambicionavam, naturalmente, me dar uma educação melhor”, explica.

No internato ficou dois anos. Depois estudou no Ginásio Estadual de Fernandópolis, onde hoje funciona o Batalhão da Polícia Militar, fez o Curso Normal, especialização em escola pré-primária em Campinas, fez Pedagogia, Estudos Sociais e muitos outros cursos para completar seu currículo de educadora.

E foi em Fernandópolis que se efetivou como professora e passou 19 anos na Escola Coronel Francisco Arnaldo da Silva e como eventual em outras escolas. Neste período, ensinou o bê-á-bá para muitas crianças fernandopolenses, vindo a se aposentar em 1986.

“Você não imagina os momentos agradáveis que eu tenho em reencontros com meus ex-alunos. Eles me reconhecem e é uma festa. Hoje sou atendida pelos médicos, dentistas e comerciantes que um dia foram meus alunos”, conta orgulhosa.

Apenas no prédio onde mora, tem sete ex-alunos que recebem, às vezes, um pedaço de bolo ou um docinho feito pelas suas mãos. “É uma forma de mantermos o contato, já que a vida de todos é tão corrida. É um jeitinho de adoçar a vida de todos”.

Mas, para tanto, dona Maria Augusta precisou se dedicar muito para constituir carreira e receber o carinho de seus alunos. “O Estado não fornecia nenhum material. Até mesmo o giz, na maioria das vezes, era o professor quem tinha de comprar. E nem mesmo em se tratando de locomoção. Quando lecionávamos na zona rural, tínhamos de ir à cavalo. Para construir uma lousa, teria que ser com o dinheirinho do professor. Eu quis fazer a carreira mais depressa e só se juntaria pontos para ganhar os títulos quanto mais distante e difícil fosse o acesso à escola. Então, quanto mais longe, mais pontos. Para ingressar, nos sujeitávamos a isso. Morei em casa de barro, em situações bem precárias para conseguir me firmar na carreira”, conta.

Maria Augusta se dedicou de corpo e alma à sua vida, trabalhando muito, educando os filhos, sendo companheira de seu marido. Enfrentou um câncer de mama, deu a volta por cima, militou por todas as causas que acredita. Uma de suas obras é a implantação da APAMPESP – Associação dos Professores Aposentados do Magistério Público do Estado de São Paulo – em Fernandópolis. “A intenção era levar o nome de Fernandópolis e coloca-lo em evidência entre o professorado paulista”, conta. Como ela mesma diz, aprendeu com seu pai a ser “briguenta” pelas boas causas.

Seu marido José Custódio, policial aposentado, sempre foi muito participativo na comunidade portuguesa, mesmo não sendo de descendência. Inclusive, foi o primeiro não português a assumir a presidência da Casa de Portugal, trabalhando efetivamente pelo clube e pela colônia.

Hoje, aproveitando a aposentadoria, Maria Augusta e seu marido viajam muito para visitar os filhos que moram em outras cidades. São três filhos do casal: Iramaia que é cirurgiã vascular e mora em Ariquemes – RO; Soraia que é e mora em Campo Grande – MS e Maurício que é cirurgião buco-maxilo em São Paulo – Capital. Além de cuidarem de propriedades em Minas Gerais.

“Sinto muito falta, um vazio muito grande com essa ausência. Falam para eu morar com os filhos, mas com qual deles? É impossível escolher. Continuo na minha casa e eles vêm quando podem e nós vamos sempre. Mesmo estando longe, dormimos com eles, acordamos com eles, comemos com eles. Lamento muito que a minha paixão tenha sido sempre trabalhar com crianças e eu não pude vivenciar essa fase com meus netos por estarem longe”, lamenta.

Mesmo distante dos filhos, Maria Augusta sabe que o amor é maior que qualquer quilometro rodado.