Surpreendendo a muitos, o filme Faroeste Caboclo (2013), do estreante em longas René Sampaio, prova que é possível adaptar com qualidade um dos maiores hinos da mais cultuada banda de rock brasileira da década de 1980, a Legião Urbana, para o cinema. E ainda por cima contribuir com mais um belo filme de gênero para nossa cinematografia.
O lançamento nacional aconteceu no último dia 30 de maio e, em apenas três dias, atingiu mais de 500 mil espectadores pelas 462 salas que o longa está em cartaz. A trama é inspirada no hit homônimo contado por Renato Russo (1960-1996), que conta a história de João de Santo Cristo, jovem que sai do sertão da Bahia e muda para Brasília, onde vira traficante de drogas e se apaixona por Maria Lúcia. Outros personagens marcantes da letra são o vilão Jeremias e Pablo, descrito como “peruano que vivia na Bolívia”.
Na versão para as telas, Fabrício Boliveira e Isis Valverde se encarregam do par central, enquanto Felipe Abib interpreta o rival Jeremias. AntonioCalloni, Cesar Troncoso e Marcos Paulo também integram o elenco.
No Cine Shopping em Fernandópolis o filme já está em cartaz para público que está ansioso para conferir, como o personaltrainner José Antonio Laurindo Martins, fã da banda e apaixonado por cinema. “Eu quero muito assistir! Será interessante ver rostos e formas para a história de João de Santo Cristo”, comenta.
Quem não teve muita paciência para aguardar o cinema local, já embarcou para São José do Rio Preto e conferiu logo na primeira semana de exibição. O historiador Gilberto Abreu de Oliveira saiu de Paranaíba – MS para conferir o filme no interior paulista. “O filme apresentou um triângulo amoroso muito bem construído que possibilitou um outro olhar para a letra de Renato, até porque não foi uma filmagem da música, mas sim, inspirado nela. Acredito que isso que foi o legal: apropriar de uma história central e poder criar a partir dela um enredo que prendesse o expectador. E tem ainda algo que, ao que me parece, pelo pouco de leitura que tenho, uma herança ou característica da retomada do cinema brasileiro com um olhar realista na tela, que é proporcionado por um jogo de ‘câmera na mão’ muito bom”, ressalta.
CRÍTICA
Faroeste Caboclo é, sem dúvidas, um dos projetos mais arriscados do cinema brasileiro recente, dada a aura mítica em torno da canção em si e do legado como um todo da Legião Urbana. É um filme raro que não apenas supriu as expectativas do público como também surpreendeu.
Com uma direção de fotografia lindíssima de Gustavo Hadba, logo no prólogo são dadas boas mostras do que os olhos podem esperar, com perspectivas que dão novos horizontes para telona. Aliás, já na abertura do filme, os olhos de João de Santo Cristo aparecem em primeiríssimo plano.
O filme acompanha a intensidade da música, que exigem altos e baixos entre calmaria e violência. Um exímio retrato de uma década brasiliense, com direito a playboy, policial corrupto, negro pé-rapado que conquista a belíssima filha do senador. E tudo com pequenas – mas excelentes – doses de humor.
Para quem gosta da Legião Urbana e do rock de Brasília, há pelo menos dois momentos muito especiais que dão muito prazer de se ouvir no cinema: a primeira vez que ele chega numa festa em Brasília, quando o Aborto Elétrico está tocando “Tédio (com um “T” bem grande pra você)”, e uma outra, mais movimentada, ao som de “Até quando esperar”, da Plebe Rude. Philippe Seabra, o líder da Plebe, inclusive, é o responsável pela trilha sonora.
SOMOS TÃO JOVENS
“Faroeste Caboclo” não é o único filme atualmente em cartaz que tem relação com o líder da Legião Urbana. “Somos tão jovens”, cinebiografia de Renato Russo dirigida por Antônio Carlos da Fontoura e estrelada por Thiago Mendonça (“2 filhos de Francisco”) estreou em 3 de maio.
“Somos tão jovens” retrata uma versão adolescentesca do líder do Legião Urbana, dos 16 aos 22 anos, em Brasília, no final dos anos 1970 e início dos 80. A formação de sua primeira banda (o Aborto Elétrico), suas descobertas sentimentais e sexuais e sua trajetória musical até o primeiro convite para tocar no Rio de Janeiro, já com o Legião, são retratadas no filme.
Mostrando um Renato Russo excêntrico, performático e profundo, o filme expõe com muita delicadeza alguns aspectos da personalidade de um dos maiores críticos de uma época. Impossível não se emocionar ao saber do significado das rosas brancas sempre presentes no pedestal do cantor.
CINEMA BRASILEIRO
Junho é um mês especial para o cinema brasileiro em função de sua comemoração. O mercado brasileiro de cinema é o mais pujante entre todas as artes. Em 2011, de acordo com o Informe Anual de Acompanhamento de Mercado – Filmes e Bilheterias, da Ancine, o número total de ingressos vendidos chegou a 143,9 milhões, e a renda bruta nas bilheterias dos cinemas alcançou o valor de R$ 1,44 bilhão, estabelecendo novos recordes e colocando o Brasil entre outros mercados mais importantes do mundo.
BONUS
E para quem está louco para assistir e ainda quer um bonustrack, pode entrar no clima nesta noite, no Chalé Acústico, com o show da banda Legião Urbana Cover com o renomado Renato Quase Russo. Pela segunda vez na casa, vale a pena conferir todos os detalhes.
