Citricultores não têm muito que comemorar em seu dia

20 de Agosto de 2025

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Citricultores não têm muito que comemorar em seu dia

Neste sábado comemorou-se em todo Brasil o Dia do Citricultor. Porém, os que atuam na área em nossa região não andam tendo muito que comemorar porque o setor sofre uma das maiores crises da história, onde há aumento no custo da produção e queda no valor de revenda da fruta.

Somente entre 2011 e 2012, 2.225 propriedades deixaram de cultivar citros no Estado de São Paulo, uma redução de 12%, conforme dados da CDA - Coordenadoria de Defesa Agropecuária. A erradicação das plantas é motivada pela baixa rentabilidade, como é o caso do citricultor Fernandopolense Antonio Feltrin, produtor há mais de 20 anos.

“O preço de revenda da nossa laranja está acabando com os citricultores do estado. O custo na produção aumenta a cada dia, enquanto isso, o valor de revenda só cai. Hoje recebi a oferta de R$ 6 por uma caixa de laranja com 40 quilos (R$ 0,15 por quilo). Nesta época de entressafra, era para estarmos vendendo a, no mínimo, R$ 15. Já diminui minha produção quase que pela metade e se continuar desse jeito, a tendência é diminuir ainda mais”, afirmou o agricultor.

A maior parte das áreas que estão deixando de ter pomares está sendo destinada à cana-de-açúcar e a alteração de cultura tem efeitos socioeconômicos nessas regiões. O arrendamento para usinas diminuiu o número de funcionários fixos nas propriedades e também a compra de insumos locais. Assim, os municípios acabam tendo perda significativa da geração de empregos e renda.

CAUSAS DA CRISE

Em 2012, a citricultura paulista viveu um de seus piores anos ocasionado por fatores conjunturais e estruturais.

Os conjunturais estão relacionados com o excesso de oferta de suco na indústria. A produção, em duas safras consecutivas (2011 e 2012), foi superior ao potencial de consumo da Europa e Estados Unidos, fazendo com que os estoques das indústrias se ampliassem e os preços pagos aos citricultores caíssem.

Muitos produtores não conseguiram cobrir os custos e sequer escoaram parte da safra. Estima-se que cerca de 35 milhões de caixas foram perdidas na última temporada devido à falta de compradores.

Já os estruturais refletem a alta concentração da produção citrícola, representada tanto pela expansão dos pomares das indústrias, quanto de grandes grupos. Essa concentração tem levado à assimetria de condições oferecidas pela indústria aos diferentes grupos de produtores, com desvantagem aos pequenos citricultores “independentes”, que não possuem contratos de longo prazo (negociam para uma safra), como é o caso de Antonio.

“Existem duas grandes indústrias no mercado de sucos de laranja. Cada uma possui sua própria plantação que praticamente já cobre as necessidades de suas indústrias. Assim, elas quase não necessitam da gente (pequenos produtores) e quando precisam, jogam o preço lá embaixo. Isso acaba afetando, também, o preço de mercado, que cai junto com o da indústria”, explica Feltrin.

Citricultores como Antonio Feltrin precisam negociar ano a ano e acabam expostos a um risco maior da conjuntura de mercado do que os produtores com contratos de longo prazo.

Com as próprias plantações da indústria, como relatou o produtor fernandopolense, em situações de excedente de oferta, como em 2012, as processadoras dão preferência ao esmagamento da fruta própria, o que causa perdas para os produtores.