Em entrevista ao CIDADÃO, o psicólogo fernandopolense Vitor Antenore confirmou o que várias pesquisas têm demonstrado sobre o comportamento suicida. Pessoas que já tiveram casos de familiares que se mataram, estão mais propícios a cometer o suicídio.
Segundo Anterone, isso se dá devido ao sentimento de culpa que se instala na mente familiar por indagarem se poderiam ter feito algo para evitar, se a pessoa que cometeu o suicídio não a amava suficiente, etc.
“O suicídio é um comportamento provindo de transtornos depressivos, na maioria das vezes. A partir do momento em que uma pessoa comete o suicídio, ela deixa um rastro de dúvidas nas pessoas que ficaram. A mãe se mata, por exemplo, e o filho fica pensando se poderia ter evitado e esse pensamento começa a ficar obsessivo. A partir do momento em que a pessoa encontrar obstáculos na vida, o suicídio começa a surgir como opção para mente”, explicou o psicólogo.
Vitor disse ainda que pessoas que ameaçam cometer suicídio geralmente fazem isso apenas para chamar atenção e não tendem a cometer o ato.
“Chamamos isso de comportamento histriônico, que é uma tentativa de chamar atenção para si com ameaças do tipo. A pessoa quando quer cometer o suicídio, escolhe a hora para fazer. O histriônico sabe a hora que a mãe ou marido vai chegar, monta toda a situação dez minutos antes e, quando o familiar chega, ela acabou de ingerir uma grande quantidade de medicação, ou acabou de passar uma corda ao pescoço, pois sabe que vai dar tempo de ser socorrido. Pessoas que ameaçam muito tendem a cometer menos suicídios dos que ficam em silêncio”, completou Anterone.
O psicólogo lembrou também do perigo dessa busca pela atenção. Segundo ele, é comum maridos ou esposas, no momento da separação, atentarem contra a própria vida para tentar reatar o relacionamento, numa espécie de sentimento de pena, mas acabam por ceifar a própria vida.
“Muitas vezes, esse ato de chamar atenção acaba se transformando em suicídio, pois a pessoa pode atrasar e não chegar a tempo para lhe salvar como planejado”, disse.
IMPRENSA
Completando a entrevista, Anterone falou sobre o trabalho da imprensa em relação ao noticiar um suicídio. Segundo ele, é preciso ter a consciência de que esse suicídio deixou pessoas vivas que estão sofrendo com a atitude do familiar.
“A pessoa que ficou já está se perguntando sobre um monte de coisas: o que eu poderia ter feito? Por que eu deixei aquele remédio fora da gaveta? Aí, vai um jornalista ou uma pessoa qualquer e fica perguntando a ela os motivos que levaram a pessoa a cometer aquele ato. Ou então, quando não se perguntam diretamente à família, se lança direto no veículo de comunicação como uma notícia qualquer, sem pensar que a pessoa que se matou é mãe, filho ou esposa de alguém e essa família já está desestruturada. Hoje, a maioria dos sites de notícias tem um espaço reservado para comentários e lá, um monte de pessoas fica comentando ‘foi tarde’, ‘que idiota’, etc. Isso fere ainda mais as pessoas que já estão sofrendo com a situação”, completou.
TRATAMENTO
De acordo com o psicólogo, assim que determinada pessoa apresentar os primeiros sinais de ruptura com a família (dizer que vai fugir, se afastar), ou apresentar quadros depressivos, é necessário que a família o encaminhe para o tratamento. Isso pode salvar a vida dele.
“Ninguém está bem num dia e no outro resolve se matar. A não ser que ela tenha sofrido alguma ruptura (saída de um relacionamento, o flagrante de uma traição ou a falência), nesses casos não há muito que fazer. Já as pessoas que possuem algum transtorno de humor, é importante lembrar que isso não é frescura. Se existe um transtorno, é preciso ser tratado”, concluiu Anterone.