Graças a uma família que sequer a conhecia, Joseane Priscila Castro Consoni, 34, pode dizer que nasceu de novo. A jovem professora passou por um transplante de coração no início do ano passado e, hoje, já praticamente recuperada, faz um apelo pela conscientização da população sobre a doação de órgãos.
Em 2008, a jovem descobriu sua patologia. Até então, ela realizava tratamento para arritmia cardíaca, mas, depois de uma perda súbita da força motora do lado direito do corpo, os médicos chegaram ao diagnóstico de miocárdio não compactado com insuficiência cardíaca congestiva, uma doença que compromete o funcionamento adequado do coração.
A solução para o problema da jovem, que já não encontrava forças para realizar tarefas do dia-a-dia, como pentear os cabelos, de acordo com os médicos, seria apenas um transplante de coração e a encaminharam para cidade de São Paulo, onde foi cadastrada na fila de espera pelo órgão.
Em 2010, em uma das suas internações na capital, foi diagnosticado mais um problema, o que a obrigou a passar por duas cirurgias de urgência, internações na UTI e várias transfusões sanguíneas.
Sua saúde piorou. Em 2011, ela precisou ficar internada em tempo integral e o problema cardíaco começou a afetar os demais órgãos do corpo como, por exemplo, os rins, obrigando-a a passar por sessões de hemodiálise.
Diante disso, ela foi inclusa na lista de prioridades para receber o transplante. Sete meses depois, graças a pessoas desconhecidas, consciente sobre a importância da doação de órgãos, a fernandopolense ganhou o direito de renascer.
“Graças a uma família que nem me conhece, hoje eu estou de vida nova. Minha vida melhorou 100%, eu já não estava conseguindo fazer mais praticamente nada. Lembro-me até hoje, de um dia que tentei fazer comida e não tinha forças para mexer as panelas. Hoje sou uma nova pessoa. Renasci”, afirmou Joseane emocionada.
Esses sete meses, segundo a irmã de Joseane, Alcione Consoni, foram muito complicados para a família, que buscou em Deus, forças para superar o momento.
“Foi um sofrimento muito grande, pois como demora, tinha horas até que acabávamos perdendo as esperanças. Enquanto esperávamos o coração, a víamos sofrendo, outros órgãos sendo comprometidos, como foi o caso dos rins, ela sendo invadida todos os dias, enfim, era horrível. Mas, ao mesmo tempo que sofríamos, desenvolvemos forças para lutar por ela e para realizar campanha para doação de órgãos”, destacou Alcione, que é enfermeira.
De acordo com a filha de Joseane, a jovem Amanda, de 16 anos, que praticamente cresceu dentro de um hospital, a força de sua mãe impulsionou a família.
“Minha mãe sempre foi a mais forte entre todos nós. Nas horas mais difíceis, quando estava todo mundo preocupado, ela olhava para gente e dizia: ‘calma, eu estou bem’. Eu a vejo como uma vencedora. Sinto muito orgulho por ela ter lutado tanto para ficar com a gente”, disse a jovem.
DOAÇÃO
Doar órgãos é um ato de amor e solidariedade. Quando um transplante é bem sucedido, como no caso de Joseane, uma vida é salva e, com ele, resgate-se também a saúde física e psicológica de toda a família envolvida com o paciente transplantado.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, há aproximadamente 70 mil pessoas aguardando por um transplante. Essas vidas dependem da autorização da família de pacientes com morte encefálica comprovada para a doação dos órgãos. Um gesto que pode transformar a dor da morte em continuidade da vida.
“É preciso conscientização. Como já disse, estou viva graças às pessoas que nem me conheciam e cederam o coração de seu familiar para doação. Se todo mundo tiver consciência de que, fazendo o que essa família fez, pode salvar uma vida, milhares de pessoas terão uma nova oportunidade, assim como eu tive”, enfatizou Joseane.
DÚVIDAS SOBRE DOAÇÃO
Como posso me tornar um doador de órgãos?
O passo principal para se tornar um doador é conversar com a sua família e deixar bem claro o seu desejo. Não é necessário deixar nada por escrito. Porém, os familiares devem se comprometer a autorizar a doação por escrito após a morte. A doação de órgãos é um ato pelo qual você manifesta a vontade de que, a partir do momento da constatação da morte encefálica, uma ou mais partes do seu corpo (órgãos ou tecidos), em condições de serem aproveitadas para transplante, possam ajudar outras pessoas.
O que é morte encefálica?
É a morte do cérebro, incluindo tronco cerebral que desempenha funções vitais como o controle da respiração. Quando isso ocorre, a parada cardíaca é inevitável. Embora ainda haja batimentos cardíacos, a pessoa com morte cerebral não pode respirar sem os aparelhos e o coração não baterá por mais de algumas poucas horas. Por isso, a morte encefálica já caracteriza a morte do indivíduo.
Todo o processo pode ser acompanhado por um médico de confiança da família do doador. É fundamental que os órgãos sejam aproveitados para a doação enquanto ainda há circulação sanguínea irrigando-os, ou seja, antes que o coração deixe de bater e os aparelhos não possam mais manter a respiração do paciente. Mas, se o coração parar, só poderão ser doadas as córneas.
Quais os requisitos para um cadáver ser considerado doador?
- Ter identificação e registro hospitalar;
- Ter a causa do coma estabelecida e conhecida;
- Não apresentar hipotermia (temperatura do corpo inferior a 35ºC), hipotensão arterial ou estar sob efeitos de drogas depressoras do Sistema Nervoso Central;
- Passar por dois exames neurológicos que avaliem o estado do tronco cerebral. Esses exames devem ser realizados por dois médicos não participantes das equipes de captação e de transplante;
- Submeter-se a exame complementar que demonstre morte encefálica, caracterizada pela ausência de fluxo sanguíneo em quantidade necessária no cérebro, além de inatividade elétrica e metabólica cerebral;
- Estar comprovada a morte encefálica. Situação bem diferente do coma, quando as células do cérebro estão vivas, respirando e se alimentando, mesmo que com dificuldade ou um pouco debilitadas. Observação: Após diagnosticada a morte encefálica, o médico do paciente, da Unidade de Terapia Intensiva ou da equipe de captação de órgãos, deve informar de forma clara e objetiva que a pessoa está morta e que, nesta situação, os órgãos podem ser doados para transplante.
Quero ser um doador de órgãos. O que posso doar?
Córneas, coração, pulmão, rins, fígado, pâncreas, ossos, medula óssea, pele e valvas cardíacas.
Quem recebe os órgãos e/ou tecidos doados?
Quando é reconhecido um doador efetivo, a central de transplantes é comunicada, pois apenas ela tem acesso aos cadastros técnicos com informações de quem está na fila esperando por um órgão. Além da ordem da lista, a escolha do receptor será definida pelos exames de compatibilidade entre o doador e o receptor. Por isso, nem sempre o primeiro da fila é o próximo a receber o órgão.