A força do professor jovem na educação

20 de Agosto de 2025

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A força do professor jovem na educação

Pedro Henrique de Andrade, de 29 anos, antes de ser professor, já era filho de Luci e Aristides de Andrade Neto e irmão de Priscila. Embarcou para a Universidade Estadual de Londrina, onde se formou em Ciências Sociais e concluiu mestrado na mesma área. Atualmente trabalha em quatro instituições escolares: na Unicastelo – Universidade Camilo Castelo Branco, onde ministra aulas voltadas para a sociologia e áreas humanas para os cursos de Medicina, Serviço Social e Química.

Ainda ministra aulas de sociologia na Escola Estadual Líbero de Almeida Silvares ena escola SESI. Como se não bastasse, está iniciando um projeto sobre atualidades na escola Em Bom Português, com a professora Eliane Jacob.

Nesta edição, Pedro fala sobre os desafios da educação em Fernandópolis e no Brasil, além de contar um pouco sobre sua paixão por ensinar. 

CIDADÃO:Você é muito novo e teve uma formação mais atualizada. Como você junta tudo isso na hora de ensinar?

Pedro: Bem, minha formação foi muito boa, tive muitos bons professores ao longo dos anos, desde os tempos de ensino fundamental e o ensino médio no Colégio Coopere, até na Universidade Estadual de Londrina onde realizei minha graduação e pós-graduação. Para lecionar, me inspiro nos professores que eu mais gostava e sempre idealizo qual seria a melhor forma de ensinar e de que forma eu gostaria de aprender. Acredito em uma educação humanizada na qual o conteúdo e o ser humano estão em primeiro lugar. A sala de aula é meu escritório de trabalho, onde quero estar bem e que todos os envolvidos nesse processo estejam bem. É dessa forma que busco elaborar e lecionar minhas aulas. 

CIDADÃO:Como você vê a diferença entre Estado e privado?

Pedro:Pela minha experiência em termos de ensino médio, existem algumas diferenças entre o ensino no Estado e o privado; a primeira delas é em termos de conteúdo. O ensino privado é voltado para conteúdo, quanto mais conteúdo transmitir e maior a preparação para o vestibular,melhor é. O Estado encontra um projeto que é um pouco contraditório, que é a preparação dos estudantes para a vida e, ao mesmo tempo, a preparação para as provas e avaliações institucionais. A clientela atendida é muito diferente também. O ensino privado seleciona os estudantes por questões financeiras, o ensino no Estado não, o que torna o perfil dos dois, de uma forma geral, diferentes. Gosto de trabalhar nos dois lugares, gosto muito de adolescentes sem distinções de classes sociais, trabalhar com a educação é um grande desafio e no Brasil, tanto no público como no privado,é necessário investir mais na educação de forma inteligente e nos profissionais que trabalham com o futuro da nação. 

CIDADÃO:Você é afrodescendente. Qual a sua opinião sobre a atual política de cotas nas universidades?

Pedro:Estudei o sistema de cotas na graduação e foi tema da minha dissertação de mestrado, acompanhei de perto os efeitos que surgiram na Universidade Estadual de Londrina e pude acompanhar estudantes que foram beneficiados pelas cotas na universidade. Posso lhe dizer que sou favorável ao sistema de cotas, que esse sistema tem democratizado as nossas universidades brasileiras que sempre foram marcadas pelo elitismo.Vejo que as cotas, ao longo desses dez anos, aumentaram a inclusão nas universidades e os cotistas(estudantes beneficiados pelo sistema de cotas) tem aproveitado e valorizado mais ainda a educação no ensino superior no Brasil. Énecessário lutar pela uma igualdade real, em condições reais, e o sistema de cotas tem buscado equalizar essa luta.

 

CIDADÃO:Qual seria a melhor vertente educacional para o Brasil?

Pedro:Gosto muito da vertente construtivista e também das vertentes inspiradas na concepção de Paulo Freire sobre a educação. Não sei se é melhor para o Brasil, mas acredito que a educação de hoje em dia tem que trabalhar com problemas reais da sociedade, discutir, propor soluções, buscar engajamento social. Para mim, essa é uma educação ideal. A classe de professores anda muito desunida, individualizada, é necessário agir mais e lutar mais, enquanto classe, para buscar melhorias no sistema educacional; melhorias nas condições de trabalho e melhorias no desenvolver do trabalho diretamente com os estudantes, também responsáveis por esse processo.

 

CIDADÃO:Em Fernandópolis existe uma discussão muito grande acerca do que é de responsabilidade dos pais, da escola e do poder público. Diante do quadro atual, quais seriam as melhores medidas para resolver o índice de criminalidade envolvendo jovens?

Pedro:Acredito que existe um grande dilema atualmente. Muitas vezes vejo os pais empurrar os problemas das crianças e dos adolescentes para a escola, e a escola empurrar os problemas para os pais, o poder público ainda aparece muito omisso, com pouco alcance de ações reais. A questão é que todos nós somos responsáveis pelos problemas enfrentados; cada instituição tem seu campo de ação, que muitas vezes não é bem desenvolvido. A criminalidade, que aumentado principalmente com tráfico de drogas, tem que ser discutida em todos os campos no sentido de reprimir essas ações e, além disso, possibilitar aos jovens outras perspectivas de vida. Essa segunda questão é muito pouco explorada. O que vejo acontecer é uma opressão muito pouco eficiente, e pior, o problema sendo ignorado por várias instituições.

 

CIDADÃO: Conte um pouco de sua relação com a sala de aula e o ato de ensinar. Qual a representatividade em sua vida?

Pedro:Adoro ensinar, estar na sala de aula é algo muito motivador para mim. Os jovens são, de fato, surpreendentes e para lidar com a rotina escolar, eu procuro usar toda criatividade no ato de ensinar. Ser professor é um grande desafio que exige muita paciência, consciência dos seus limites pessoais e compreensão do próximo, que é seu aluno. Além do mais, tem que enfrentar uma imensa desvalorização do poder público e da sociedade. Nada fácil, mas eu gosto de desafios.