Moradores de áreas de risco também receberão casas

20 de Agosto de 2025

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Moradores de áreas de risco também receberão casas

Depois que o CIDADÃO denunciou, em uma reportagem sobre o abandono da obra do Velório Municipal e do Cemitério da Consolação, que José Grigório da Silva dorme há meses em frente ao velório, a prefeitura de Fernandópolis informou que o morador de rua é um dos beneficiados pelo Programa Minha Casa Minha Vida, com uma casa no Residencial São Francisco.

Segundo a prefeitura, José Grigóriorecebe atendimento no CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social -, localizado no Jardim América. Mesmo sendo oferecida por diversas vezes pela equipe do CREAS a opção de frequentar o Parque São Vicente de Paulo onde poderia comer, tomar banho e dormir enquanto aguarda a entrega de sua casa, José não aceita.

Segundo a Monitora de População de rua, Neusa Vieira, já foram feitas diversas tentativas tanto para levá-lo até o CREAS, quanto para o asilo, mas houve recusa. A última tentativa aconteceu na manhã do último dia 8.

Seu José e mais três moradores de rua foram contemplados através da Portaria 610 de 26 de dezembro de 2011, que dispõe sobre os Parâmetros de Priorização e o Processo de Seleção dos beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida, para as famílias residentes em áreas de risco, insalubres ou desabrigadas. Isto é, pessoas que se enquadram nesses requisitos não passam pelo cadastro e sorteio, são incluídas diretamente no programa.

Mas há ressalvas. Segundo Luciano Casale, escriturário responsável pelo setor de habitação e gestão do CadÚnico da prefeitura, é realizada uma triagem pela Secretaria Municipal da Assistência Social, em parceria com a Secretaria de Obras e a Defesa Civil, onde são averiguadas as condições de moradia das pessoas que residem em área de risco. Já em parceria com Caixa Econômica Federal, são conferidos todos os dados vinculados ao CPF da pessoa, como renda, se já teve imóveis etc. Neste amparo especial, serão 23 casas.

 

São Francisco

O Residencial São Francisco está sendo aguardado desde dezembro 2011, quando a prefeitura abriu as inscrições para a aquisição da casa. Todas as pessoas que têm renda familiar de até R$ 1,6 mil e não foram beneficiadas com nenhum programa habitacional estavam aptas a fazer as inscrições. O sorteio foi realizado em 12 de maio de 2012.

O Jardim São Francisco está localizado às margens da Rodovia Euclides da Cunha, depois do Trevo da Água Vermelha, próximo ao Parque Paulistano. Segundo Casale, a última estimativa da empreiteira responsável pela obra foi passada há três semanas, registrando 93% da obra concluída, todavia, não há uma data exata para a entrega das casas por causa das intensas chuvas que caíram em Fernandópolis nas últimas semanas.

São 577 famílias no aguardo pela tão sonhada casa própria. As prestações do financiamento são de R$ 50 a R$ 150, de acordo com a renda de cada família, inclusive as amparadas pela Portaria 610. 

A família de Jenifer

Jenifer Érica Augusto da Silva, 27 anos, atualmente mora no Jardim Uirapuru e é uma das que aguardam o término da construção das casas. Sua casa feita de placas de madeirite não tinha rede de esgoto até pouco tempo atrás e a energia elétrica é emprestada pela vizinha. O chão é de terra e o que ela levará para a casa nova? Os quatro filhos, o marido, a dignidade restaurada e... a geladeira! O “resto” ficará no barraco mesmo, que foi cedido pelo sogro que já faleceu.

Seu marido, Rogério Leite dos Santos, 30, é pedreiro – a única fonte de renda da casa. E fonte insegura, pois Rogério tem sérios problemas no olho esquerdo, o que o impossibilita de trabalhar às vezes. “Quando tem serviço, temos comida. O dia que não tem, fica difícil”, conta Jenifer. Com a alimentação das crianças, Vitor Hugo, 10, Guilherme Henrique, 5, Kaio Leandro, 3, e Heloise Vitória 1, Jenifer não se preocupa tanto porque elas se alimentam na escola municipal onde estudam. O dinheiro que recebe do Bolsa Família também ajuda muito, além da contribuição valiosa das professoras e das funcionárias do PSF do bairro. “As professoras dos meninos e as meninas do postinho me ajudam muito. A Kele, a enfermeira, sempre me ajudou. Uma pena que foi transferida daqui”, lamenta.

Morar em situação tão complicada trouxe problemas de saúde às crianças. Segundo Jenifer, Guilherme já foi internado mais de 20 vezes com problemas respiratórios. Vitor Hugo tem problemas de fala e faz tratamento com fonoaudióloga duas vezes na semana. “Assim fica difícil trabalhar fora. Já até tentei, mas que patroa quer liberar a funcionária duas vezes na semana para levar o filho para um tratamento? Nós dependemos do SUS, onde tudo é muito demorado. Ainda bem que o meu filho tem tratamento. Não posso abrir mão disso”, ressalta.

As esperanças e os sonhos só aumentam com a chegada cada vez mais próxima da casa. Jenifer sonha o piso, a energia elétrica, a limpeza. “Meu sonho é poder sentar no sofá com as minhas crianças e assistir TV em paz, principalmente nos dias de chuva”, conta emocionada. Sim, quando chove a água entra por todos os lados. “Chove mais aqui dentro do que lá fora”, explica.

Para a casa nova, a família já ganhou vários presentes. As professoras das crianças doaram as camas e o fogão. A enfermeira, o sofá. Só receberão quando se mudarem para a casa nova. “Aqui não tem onde colocar e é perigoso estragar”.

Com a casa nova e sono tranquilo, Jenifer só pensa na educação dos filhos. “Quero que eles tenham uma boa educação para garantir um futuro melhor para eles. Eles precisam ter oportunidades melhores do que as que eu tive”, finaliza.