Dando continuidade ao assunto mais comentado na última semana – as propostas apresentadas pelo juiz Evandro Pelarin na Câmara -, o CIDADÃO abrirá, a partir desta semana, um espaço para a população, que é contrária as propostas apresentadas por ele no último dia 5, para que apresente sugestões para a segurança pública de Fernandópolis.
Na edição passada, levamos as propostas do juiz à população. Conversamos com empresários da noite, proprietários de conveniências, pessoas que trabalham na noite e cidadãos comuns, sem nenhum vínculo comercial ou empregatício no setor (todos os lados envolvidos no assunto).
Todos, até mesmo os que deram a opinião, mas preferiram não se pronunciar oficialmente, fizeram questão de ressaltar a admiração pelo trabalho de Pelarin na cidade.
No entanto, de acordo com eles, as propostas apresentadas na Câmara não “seriam a melhor opção para solucionar o problema” e apresentaram os motivos que os levaram a essa conclusão.
Esta semana abrimos espaço para as sugestões do radialista Miguel Angelo Tomaz e da professora Laís Midori:
Miguel Tomaz
“O Dr. Evandro tem uma preocupação com os menores que chega a ser invejável. Muitos outros juízes de muitas outras comarcas deveriam ter a mesma preocupação. Porém, as últimas medidas propostas pelo juiz são, ao meu ver, um tanto arbitrárias demais. É claro que é mais fácil "cortar o mal pela raiz" e fechar as conveniências, proibindo o comerciante da noite de trabalhar e gerar impostos para a cidade do que fiscalizar de forma mais rígida tais estabelecimentos. É uma “mão na roda”! O que deve ser feito é um trabalho direcionado à educação, à formação de cidadãos, acima de tudo. Trabalhos com as famílias também seriam ótimos aliados aos que querem ver os jovens longe do "perigo". A maioria daqueles jovens convivem com uma realidade totalmente fragmentada, famílias desestruturadas que permitem que "brechas" sejam abertas para o delito. O tal adolescente de 15 anos do "Tio... Ninguém pede documento" é, certamente, filho de uma família desestruturada. As meninas de 14 ou 15 anos que fazem daquela avenida um palco de exibição ao demônio, também são filhas de famílias desestruturadas. Cabe não só à polícia e ao Dr. Evandro cuidar desta realidade, mas todos os grupos, políticos, empresários, todos. Todos estes devem se unir para “formar” o cidadão, e não apenas “punir” o delinquente, resvalando naqueles que não têm nada a ver com a situação, que são as pessoas de bem, que desejam, ao menos, alguns instantes de diversão e paz, tomando suas cervejas onde bem entenderem”.
Laís Midori
“Eu acredito que nenhum problema será solucionado se a base familiar e a educação não forem vistas de uma maneira diferente. Temos um problema social estrutural. As medidas apontadas e propostas pelo Dr. Evandro, certamente poderão surtir efeitos na diminuição de um problema "visual", no número de incidentes, mas infelizmente os "menores em situação de risco" apenas irão migrar de um local para outro. Sei que qualquer medida para tentar amenizar o problema é viável, mas é preciso ir além das medidas enérgicas, é necessário curar o mal pela raiz! Eu ainda acredito que a educação é a cura para grande parte desses males, talvez porque é a minha área de atuação, talvez porque eu seja um tanto utópica! Sou a favor de uma maior fiscalização nos estabelecimentos, de uma maior punição àqueles que não cumprirem a lei, mas não acho que as pessoas de bem (em maior número) devam ter seu lazer limitado”
PELARIN
O juiz Evandro Pelarin também foi procurado pelo CIDADÃO e em uma entrevista rápida, respondeu a questões relevantes ao assunto.
CIDADÃO: O senhor deve ter acompanhado o jornal e constatado as contra-razões apresentadas pelas pessoas contrárias à suas propostas. Concorda com o que foi dito?
Pelarin: Discordo delas e de outras que li pelas redes sociais. Publico em seu jornal e nos demais, sob o título "Achismo", um texto com as razões pelas quais não concordo com as objeções até agora apresentadas às nossas propostas. Portanto, esta pergunta esta respondida no referido texto, que peço aos leitores daqui que o leiam.
CIDADÃO: A maioria dos entrevistados afirmou que a solução seria o aumento na fiscalização. Essa não seria a melhor saída?
Pelarin: Fiscalizar sempre é uma saída, mas nem sempre é a única e nem sempre é a melhor saída. No caso, para a dimensão do problema que vivenciados, entendemos que, além da fiscalização, diga-se de passagem, em grande margem a cargo de órgãos do Poder Executivo e não do Judiciário e das polícias, necessitamos de uma legislação que nos ajude a enfrentar o grave risco a que estão submetidos crianças e adolescentes em nossa cidade, principalmente, pela baderna que se transformou a principal avenida da cidade. Vale dizer ainda que é para isso que o Legislativo existe: criar leis para proteger as pessoas. O Legislativo não é um Poder estanque, figurativo, feito apenas para homenagear cidadãos. O Legislativo deve acompanhar os novos processos sociais e decidir sobre os problemas que lhes são apresentados, todos, sem distinção. Sem agir assim, como ouvi recentemente de um grande parlamentar, o Legislativo se apequena. E acredito que demos ao Legislativo local uma grande oportunidade para que se engrandeça ainda mais diante da nossa comunidade.
CIDADÃO: Além das estatísticas levantadas pela polícia militar e sua vivência como juiz da Vara da Infância e Juventude, quem mais participou da elaboração das sugestões?
Pelarin: Ninguém. Formalmente, apenas a Polícia Militar e eu. Informalmente, e no mesmo sentido, a Polícia Civil também.
CIDADÃO: O senhor acha que não seria mais viável levantar as questões abordadas em audiências públicas com uma maior participação da população?
Pelarin: Abrimos o que foi a primeira audiência pública, na Câmara Municipal, que é a casa do povo, com a mais ampla publicidade. Não há audiência pública, numa cidade, maior que essa. Aliás, pela competência intrínseca da matéria, não há lugar mais apropriado para uma audiência pública que o parlamento municipal. Nela, lançamos nossas sugestões. Se os Vereadores derem andamento às nossas propostas, creio que abrirão discussões públicas, o que seria salutar, essencial.