O “Precoce” laureado... Seis vezes!

20 de Agosto de 2025

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O “Precoce” laureado... Seis vezes!

José Belúcio Neto tem apenas 23 anos e já está formado em Medicina pela USP. Filho de Fernandópolis, entrou na faculdade aos 17 anos – saiu do ensino médio diretamente a um dos cursos mais concorridos do país. Sua formatura aconteceu em 28 de janeiro deste ano e, durante a colação de grau, foi condecorado com seis láureas acadêmicas – uma das melhores formas de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido durante o curso.

 

 

CIDADÃO: Vamos começar pelo seu apelido acadêmico "Precoce". Como foi entrar para um curso tão concorrido aos 17 anos? Entrar tão jovem na faculdade implicou em dificuldades?

Neto:Foi uma ótima surpresa ter passado no vestibular rápido. Trouxe um alívio por ter garantido o meu futuro no curso que eu queria, e também a vantagem de poder programar meu futuro acadêmico com alguma tranquilidade, sem me preocupar, por exemplo, em concluir rapidamente a residência médica (especialização). Por outro lado, há um lado negativo que eu senti principalmente no início da faculdade, envolvendo tanto situações simples (por exemplo, não poder ter carro no primeiro ano ou ser barrado na entrada dos lugares por ser menor de idade),quanto dificuldades que realmente me incomodaram, como ter de conciliar toda a responsabilidade de morar sozinho com as atividades curriculares e também a necessidade de participar de outras atividades ligadas ou não à faculdade. Acredito que quem já morava fora antes de começar o curso já estava mais habituado com essa situação; já eu tive que amadurecer “na marra” ao longo do primeiro ano.

 

CIDADÃO:O curso era tudo o que você sonhava?

Neto:Como meu pai também é médico, eu já sabia mais ou menos o que ia encontrar: dificuldades e dúvidas no início do curso, um foco cada vez maior na atuação médica conforme os anos vão avançando, até que os dois últimos anos são só de prática, realizando tudo o que um médico generalista deve saber fazer, tudo isso regado a muito estudo em todas as etapas. Nunca idealizei o curso nem a vida de médico, sabia das noites maldormidas e das limitações técnicas e burocráticas que às vezes nos decepcionam. Talvez o que tenha me surpreendido negativamente é a desvalorização que a classe médica vem sofrendo, não só em termos financeiros, mas principalmente por alguns gestores (do setor público e privado) e por grande parte dos pacientes. Porém, fui percebendo que mesmo os momentos de dificuldade, como os cansativos plantões e os estágios mais exigentes, eram fontes de grande aprendizado e prazer durante a minha formação. Por isso, digo que o curso na verdade superou minhas expectativas, me fez gostar cada vez mais da Medicina.

 

CIDADÃO:Nestes anos se dedicando a sua formação, quais foram as principais lições?

Neto:Foram tantas que é difícil resumir. Percebi que a vida acadêmica-profissional não está tão dissociada da vida pessoal quanto parece; em ambas, saber conviver em grupo e tomar decisões amparado por outras pessoas, bem como ensinar e aprender com elas, é muito mais efetivo do que viver na individualidade. Também aprendi a ser otimista e a manter o ânimo e o entusiasmo, não só no meu dia-a-dia particular como também ao exercer a minha profissão. Também é essencial ser verdadeiramente interessado e disposto a crescer naquilo que se faz, e cercar-se de pessoas que compartilhem desse interesse (grande parte da minha família e dos meus amigos, e também minha namorada, estão envolvidos na área médica, e temos prazer em conversar sobre Medicina mesmo nas horas de folga, o que torna a profissão ainda mais prazerosa). Finalmente, parafraseando o discurso de formatura do nosso paraninfo, lembrar que a vida é uma roda que troca nossas posições rapidamente: hoje sou o médico que atende a uma criança; amanhã serei o paciente e essa criança crescerá e será meu médico.

 

CIDADÃO:Você recebeu várias láureas acadêmicas. Quantas e quais foram? Como foi receber esse reconhecimento?

Neto:São prêmios que a faculdade concede a alguns alunos no final do curso; recebi seis deles: pelo destaque nas áreas básicas, nas áreas clínicas, no curso de Medicina como um todo, nos Departamentos de Clínica Médica, Ginecologia-Obstetrícia e Patologia-Medicina Legal. Foi, sem dúvida, um dos momentos mais emocionantes que já vivi, pois aconteceu na Colação de Grau (que por si só já é um momento de grande emoção), na presença de toda a minha família, mestres e amigos, e foi uma surpresa para todos, inclusive para mim. Estava bem à frente dos meus pais enquanto a cerimonialista anunciava os prêmios, o que tornou tudo ainda mais especial. O melhor foi poder dividir essa alegria com todos que estiveram junto a mim, me apoiando ao longo desses anos de dedicação e estavam lá na Colação; eles ficaram realmente felizes e orgulhosos, já que o mérito dessa conquista também é daqueles que estão ao meu lado na vida e na profissão e, dessa forma, todos foram premiados junto comigo.

 

CIDADÃO:Quais os planos daqui para frente? Residência, especializações? Pretende trabalhar em Fernandópolis ou seus planos são outros?

Neto:Em março vou começar a residência em Clínica Médica no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, vinculado à USP. É um pré-requisito para diversas outras especialidades. Estou começando a residência de mente aberta para a escolha da especialidade, mas se fosse escolher hoje, faria Cardiologia. Depois, dentro da Cardiologia, posso escolher entre diversas áreas de atuação. A que mais me interessa no momento é Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, mas também poderia ser Ecocardiografia, Arritmologia e outras áreas. Como um bom filho da terra, gostaria muito de voltar e trabalhar aqui depois de concluir a residência. Porém, essa formação todaleva em torno de seis anos, por enquanto, fica difícil fazer planos concretos para retornar para cá; vou ter que esperar alguns anos para isso.

 

 

CIDADÃO:Lá no passado, quando você escolheu medicina, qual era a sua visão da profissão e como ela é hoje?

Neto:Como eu disse, nunca tive uma visão idealizada da Medicina, desde a época em que escolhi já sabia que teria limitações de diversas naturezas e nem sempre conseguiria fazer tudo o que seria ideal em todos os casos. Porém, já nessa época acreditava que, apesar de ser uma profissão como todas as outras, o altruísmo, a responsabilidade, o desejo de fazer o bem ao seu semelhante e a empatia (a capacidade de se colocar no lugar do outro) são mais do que qualidades: são deveres para aqueles que se propõem a exercê-la. Felizmente, nesse aspecto minha visão mudou muito pouco de lá para cá. Talvez o que tenha mudado para melhor é a noção que tinha no início de que meu dever é buscar a cura a todo custo; hoje,este continua sendo o objetivo principal, mas, se não puder ser atingido, também é meu dever trazer alívio e conforto, dentro das minhas possibilidades. Enquanto puder fazer isso, continuarei me sentindo realizado e orgulhoso pela profissão que escolhi.