A ciência ainda não conseguiu explicar a influência da música na vida do ser humano. No entanto, a vida de um jovem fernandopolense pode retratar bem o poder das notas musicais.
Genivaldo Rodrigues Paim Esteves, hoje tem 16 anos e toca três instrumentos musicais, mas, há pouco mais de cinco anos, não era bem esse o interesse do jovem.
“Quando o conhecemos, Genivaldo só queria saber de bola e, como toda criança naquela idade, era um pouco rebelde. Sua família é muito humilde e, na época, passava por muitas dificuldades financeiras, pois sua mãe, sozinha (o pais são separados), teve que cuidar dele e seus nove irmãos”, afirmou Marcos Vilela, fundador do projeto “Os Sonhadores”, que acolheu o garoto logo aos 11 anos.
Depois que começou a frequentar o projeto, o jovem não abandonou o sonho de se tornar um grande jogador de futebol, mas encontrou na música um novo parâmetro de vida.
“Antes, eu vivia nas ruas jogando futebol, minhas notas não eram muito boas e minha mãe se preocupava muito comigo, tinha medo de que eu me misturasse com más influências, mas depois que comecei a participar dos Sonhadores, descobri que a vida não é feita só de futebol, minhas notas melhoraram, tinha conseguido até um emprego para ajudar minha mãe em casa”, disse o garoto.
O jovem começou aprendendo a tocar violino, depois violão e agora percussão, pois também participa da fanfarra do grupo.
“Ele é muito esforçado. Eu participo do ‘Sonhadores’ há 11 anos e acompanho o caso dele desde o começo. Até por conta da idade [ele tem 18 e Genivaldo 16], nossa relação sempre foi baseada na amizade e pude perceber que sua vida mudou muito depois que ele descobriu a música”, destacou Wellison Tozzati, professor de violão de Genivaldo.
Hoje, além de Genivaldo, quatro de seus irmãos mais novos participam do projeto buscando na música, uma vida melhor para a família.
“Ele é um exemplo para as outras crianças, superou as dificuldades com a música e hoje seus irmãos seguem o mesmo caminho. Além dos quatro irmãos que freqüentam a entidade, Genivaldo ainda tem uma irmã cadeirante e, graças a Deus no ano passado, conseguimos doar uma cadeira de rodas elétrica para ela. Infelizmente não podemos fazer tudo que a família dele merece, mas o que estiver ao nosso alcance, sempre atenderemos a ela, assim como as das demais crianças que freqüentam o Sonhadores”, frisou Marcos Vilela.
OS SONHADORES
Fundado na cidade de Fernandópolis em 2001 por Marcos Vilela, o projeto teve início com 20 crianças que precisavam de um grande incentivo para sair das ruas e se manter longe das drogas e da marginalidade.
Hoje, o projeto já possui mais de 150 crianças e adolescentes de 6 a 17 anos cadastradas, das quais 96 já estão registradas e as demais devem ingressar no projeto logo após o carnaval.
“Os Sonhadores” nasceu de uma promessa religiosa feita por Marcos, que pedia uma benção a seu filho que sofria com problemas de saúde.
Quando Marcos se casou, ele esperava dar uma vida melhor à sua família. Mas parte de seus planos foram logo frustrados quando nasceu o primeiro filho e o médico comunicou que o garoto tinha um problema no esôfago.
Com apenas dois dias de vida, o pequeno Guilherme teve que ser submetido a uma cirurgia. “O problema é que a cirurgia custava R$ 8 mil. Então, disse ao doutor Humberto - que era o médico que cuidava do meu filho - que eu só tinha uma moto que valia R$ 2,5 mil e que poderia vendê-la. Mas o médico disse: se depender de mim, eu serei um instrumento guiado por Deus para curar teu filho, ele não há de morrer”.
O bebê foi encaminhado ao Hospital de Base de São José do Rio Preto para fazer a cirurgia gratuitamente. Marcos deveria apenas pagar por três tubos que continham um medicamento que seria usado durante o procedimento.
Ocorre que cada um custava R$ 2,5 mil e novamente os pais ficaram com o coração apertado, pois sabiam que não tinham dinheiro suficiente para salvar a vida do filho. Mas graças à ajuda dos alunos do doutor Humberto, o medicamento foi comprado. Ao todo, Guilherme passou por oito cirurgias, ficou durante um ano internado no Hospital de Base de São José do Rio Preto e por três anos e oito meses se alimentou por uma sonda.
Entre uma cirurgia e outra, Guilherme foi desenganado pelo médico, que chegou a pedir aos pais para que o levasse para morrer em casa. Sem mais poder contar com a ciência, Marcos e sua esposa Ivarneli decidiram contar com as forças divinas.
Por um conselho da mãe, Vilela levou o garoto a uma igreja evangélica para que o pastor orasse por ele. Naquela mesma noite, Guilherme começou a melhorar. Marcos fez, então, um voto a Deus dizendo que, caso o filho fosse curado, ele se dedicaria a um trabalho voluntário com crianças. Outras cirurgias vieram e Guilherme passou a responder ao tratamento até que, aos seis anos de idade, foi curado.
Em 2001, Marcos começou a cumprir sua promessa. Pegou três garotos que moravam em seu bairro e levou para jogar bola no Ginásio de Esportes Beira Rio. Em pouco tempo, o número aumentou para seis, depois para dez e hoje é reconhecido regionalmente como um dos mais importantes projetos sociais com crianças e adolescentes.