O samba dos Velhos Amigos

20 de Agosto de 2025

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O samba dos Velhos Amigos

Não há nada que traduza melhor o sentimento brasileiro que o samba de raiz. Não há nada que reflita tão intensamente na cultura e na história do Brasil como a percussão marcada do samba. É nessa batida harmoniosa que seis rapazes se conheceram, criaram vínculos e fizeram suas histórias em terras fernandopolenses.

Os odontologistas Ovídio Cezar Laveza Martin e Marcio Mello Carnelossi, o advogado Fábio Ricardo Rodrigues Fernandes, o empresário Carlos Alberto Fernandes Phelipe e os servidores públicos Silas Passarini e Carlos Augusto Pereira Bastos, eram apenas jovens universitários que se reuniam durante as férias para agitar a pacata Fernandópolis de 1980.

Fernandópolis abriu seu guarda-chuva cultural na metade da década de 1970, época da radicalização de experiências comportamentais, quando os jovens se mudavam para a capital e cidades maiores para ingressar nos grandes centros universitários. Eles voltavam, durante as férias, cheios de ideias e vontade de mostrar para a pacata cidade interiorana o que era arte e o que eram capazes de fazer quando o assunto era contracultura. Aquele antigo desejo de mudar o mundo (o sentimento pós-guerra) deu lugar ao encontro do “consigo mesmo”, característico da época.

Claro que o cenário era menos sisudo. Tratando-se de jovens, o movimento era regado à festa, cerveja e carnaval. Sim, Fernandópolis reunia seus blocos carnavalescos e fazia festa popular de verdade. No bloco “Fermentação”, que os amigos apertaram os laços e escolheram o samba como trilha sonora de suas vidas.

Casaram-se e constituíram famílias, mas jamais pararam com o samba. Em reuniões regadas a cerveja, risadas e comida, os Velhos Amigos montam sua roda e fazem o que mais gostam: samba de raiz, samba de verdade.

A brincadeira ganhou proporções maiores, a diversão saiu do restrito para o coletivo e hoje eles matem o projeto Samba de Roda e MPB no Samba. Depois do convite para tocar no Absolut Bistrô, o sucesso foi tamanho. Resolveram organizar uma noite no Plazinha Eventos, com a ajuda do empresário Junior Sequini. “Pensamos algo para 100 pessoas, bem restrito, apenas para os amigos. Mas, em dois dias, os ingressos esgotaram e muita gente nos cobrou”, conta o advogado e percussionista Fábio Fernandes.

Hoje, para a alegria dos que já provaram o gostinho do Samba de Roda, os Velhos Amigos realizarão um evento um pouco maior, agora no Plaza Eventos, com o verdadeiro sabor do samba: cerveja, petiscos, dança e amigos. Os ingressos vendidos a R$ 140 o casal já esgotaram, mostrando a ânsia por novos eventos como este.

Para os integrantes, o projeto deve ser leve para todos, mesmo tocando cinco horas diretas. A participação em um evento só é marcada se todos estão de acordo, afinal, todos tem suas carreiras consolidadas e famílias. “Quem sabe seja um projeto para a nossa aposentadoria?”, brinca o dentista Marcio Carnelossi.

Segundo Fábio, o toque de profissionalismo vem de Carlos Bastos que já tocou na noite por muitos anos. “O Carlos Bastos foi o único que levou a música profissionalmente depois da Fermentação. É ele quem entende de som e de palco, nos ensinando um pouco disso”, reconhece.

O trabalho caiu no gosto do público e já ganha a cobiça das cidades vizinhas. Fábio e Marcio contam que já têm convites de Jales e Votuporanga para realizarem shows e que ainda estão avaliando as possibilidades. As apresentações começaram em festas de amigos, em chácaras – como dizem: era tudo na amizade mesmo.

O Samba de Roda vai além. Não é apenas amigos que fazem samba. São amigos que se uniram na música e fizeram dela a trilha sonora de muitos momentos importantes – daqueles que só os elos de amizade entendem.

A música tende a unir as pessoas, a apaziguar, a confortar. É sempre um motivo bom. Sinal disso está na história contada por Marcio. Nos ensaios realizados na antiga casa de seus pais (que está à venda), até os vizinhos querem participar. O boteco defronte já quer estender as mesas mais próximas, descer mais cerveja, ouvir a boa música.

Numa pescaria no Mato Grosso, o dono da pousada se encantou com a roda improvisada pelos Velhos Amigos e empreendeu: virou baile.

- Ganharam desconto na hospedagem?

- Ganhamos a cerveja, o que já foi bom demais! – brinca Fábio.