CIDADÃO: Vamos começar falando sobre sua perspectiva dos fatos em relação às convenções e todas as complicações que resultaram na impugnação de sua candidatura.
MAIZA RIO: Eu passei por um processo dentro do meu partido muito difícil, antes do dia da convenção, no período da convenção e depois da convenção. Os membros do diretório do PMDB tinham muitas divergências. Alguns queriam apoiar o Vilar, outros a Ana, alguns queriam candidatura própria. Em nenhum momento os membros do diretório queriam o Carlos Lima, ele não foi convidado por Fernandópolis para entrar no partido, ele que se colocou por outras pessoas para ir pelo PMDB. Já começou difícil. Aí, o Henri (Dias) queria ser candidato à vice da Ana (Bim). Depois ele se projetou, pois houve uma pesquisa que dizia que ele seria candidato à prefeito, mas não houve jeito de mobilizar a candidatura dele. Eu não podia conversar com outros partidos porque ele seria o candidato. Nas vésperas, dois dias antes da convenção, ele abriu mão de sua candidatura. Era para eu ser a vice de Vilar, mas não deu certo. No dia da convenção, às 11h da manhã, ficamos sabendo que o Carlos Lima seria o candidato à prefeito pelo meu partido. Não era isso que nós queríamos, mas respeitamos e não conversamos com outros partidos para estarem coligando. Ficamos aguardando, mas o Carlos Lima não aceitou coligar com o PMDB na proporcional e não aceitamos. Ele queria ser candidato ao PMDB a prefeito, mas não coligar na proporcional com o PMDB. Se nós aceitássemos isso, estaríamos prejudicando o nosso próprio partido. Nos forçou a não aceitá-lo como candidato à prefeito, nós coligamos com o Luiz Vilar na majoritária. Aí houve uma intervenção do Estado anulando esta ata, com um pedido de impugnação pelo pessoal da Ana Bim. Quem assinou este pedido foi o Rodrigo Ortunho, mas quem assinou também foi o próprio Henri e o Erlifas (Teles) como testemunhas. Como houve um pedido de impugnação, naturalmente precisariam dos livros. E cadê os livros? Pela apuração da Polícia Federal e da Promotoria, foi concluído por eles que foi o Henri e o Erlifas que, por contradição, sumiram com o livro. Isso tudo me prejudicou, prejudicou o partido. Houve um entender para o juiz, na época, que ficou muito claro em sua sentença, que foi o pessoal do diretório quem sumiu com o livro, ou o candidato à vice, para tentar esconder alguma coisa e não foi isso que aconteceu. Ele achou que estávamos agindo de má fé contra ele [o juiz] e deu a impressão que ele deu uma sentença muito pesada, qualquer detalhe ele se ateve. Isso tudo me prejudicou, embora o que mais prejudicou não foi o livro de ata e, sim, a liderança do PMDB, do candidato a prefeito e dos demais partidos que não se ativeram em detalhes e com isso, que acredito que seja um ato de irresponsabilidade, fazendo com que 13 candidatos à vereadores da minha coligação fossem impugnados.
CIDADÃO: Qual o seu sentimento em relação ao PMDB?
MAIZA RIO: Confesso que fiquei muito chateada e decepcionada com o PMDB. Nunca tive problemas com o meu partido, sou do PMDB desde a minha adolescência. Eu entendo que não fui respeitada, que eu não recebi uma consideração, para não dizer outras palavras do meu próprio partido. É um partido que me deixou na mão. Com toda essa situação, uma das maiores causas do meu problema é o meu próprio partido. Ele não se posicionou no momento certo e, quando se posicionou, se posicionou de uma forma em que poderia me prejudicar. Se eu estivesse na coligação com o Vilar ou comAna Bim, eu não teria nenhum problema, mas não, coligou na mão de uma pessoa irresponsável e de uma forma inadequada. O partido contribuiu para que eu não fosse eleita.
CIDADÃO: Como foi promover uma campanha política nesse clima de instabilidade?
MAIZA RIO: As pessoas aqui, pela impressão que nós tempos, ainda sofrem a influência da compra do voto. Ouvimos muitos comentários neste sentido, o que nos deixam muito entristecidos. Tem de haver uma conscientização da população de não vender o seu voto e do candidato também não partir para isso e, sim, partir de propostas, de projetos, o que pode ser feito de melhor para a cidade. Logo que o Carlos Lima teve alguns problemas, no caso para registrar a sua candidatura, já começaram a sair boatos na cidade de que precisaria, sozinha, ter mais de 3500 votos. O que me chateou muito foi que candidatos a vereadores que sabiam que eu não precisaria disso tudo e ficavam batendo nessa tecla. Eu não joguei sujo com ninguém, eu não falei mal de ninguém, fiz uma campanha muito limpa, eu não fiz promessas. Eu simplesmente me ative ao que eu trabalhei. E tem também a questão da compra de votos. O que a gente vê é que a justiça não faz nada em relação à compra de voto. Se houve, faça alguma coisa! Eu fui vítima de uma situação burocrática, já a compra de voto que é um crime eleitoral, o que tem sido feito? Por outro lado, o que deixa feliz é ser a mais votada no município entre mais de 150 candidatos, com uma campanha limpa [chora], sem comprar voto de ninguém. Se eu fui a mais votada e sem comprar voto de ninguém, é porque as pessoas acreditaram em mim, acreditaram na minha pessoa, na minha família, no meu caráter, no meu trabalho. Isso é muito gratificante.
CIDADÃO: Qual era o termômetro da campanha? E como foi a apuração para você?
MAIZA RIO: Havia muitas pesquisas que diziam que eu seria muito bem votada. Mas pesquisa para vereador é meio complicada, então, eu ficava na minha, fazendo o meu trabalho. Eu tinha certo receio, mas eu e minha família achávamos que ainda assim, mesmo com o coeficiente - porque faltaram 38 votos para eu entrar. Se não fosse esse problema eu estaria eleita sem nenhum problema. Mas a gente não esperava que não atingisse o coeficiente. Eu, sozinha, tive 1430 votos. Nove ou dez candidatos da minha coligação, somando todos, tiveram 900 votos. Foi muito pouco, imaginávamos que eles teriam um pouco mais. Falavam na rádio o tempo todo 'Maiza a mais votada'. Na hora não pensamos no coeficiente, achávamos que daria certo. Mas, o meu sobrinho, Vitor, estava ouvindo outra emissora de rádio e disse que não tinha dado certo. Aí que eu pensei no coeficiente. Parece que na hora Deus protegeu meu coração que eu ouvi aquilo e só fiquei preocupada com a minha mãe que é um pouco de idade, com a minha família que estava aqui, minha tia que trabalhou muito me ajudando na campanha. Eu segurei até tranquila. Depois que a ficha foi caindo, que foi ficando mais difícil o processo.
CIDADÃO: E esse depois?
MAIZA RIO: Agora eu posso dizer que estou melhor, que eu estou bem. Nos dias, nós ficamos muito tristes, afinal, eram muitos sonhos. Um resultado de oito anos de dedicação da minha vida. Eu, como vereadora, trabalhava porque amava aquilo, eu fazia com prazer, com alegria. Eu fui a vereadora que, posso dizer com tranquilidade, que mais foi á Brasília e São Paulo, que mais conseguiu recursos, para a santa casa, que estava numa situação complicada, numa viagem a Brasília, consegui viabilizar verbas de 13 deputados. Algumas já garantidas, outras encaminhadas - o que complica já que agora estou fora do legislativo. Eu fiz tudo com prazer, não apenas um ato para cumprir um ritual. Algumas pendencias ficaram. Estávamos conseguindo um prédio para a polícia científica daqui, com recursos que estavam sendo viabilizados para este ano. Tive muitas coisas interrompidas, muitas coisas nas quais me dediquei. Abri mão de muita coisa em oito anos como vereadora. Abri mão da minha família, da minha vida. São coisas que talvez eu até tenha errado, talvez eu não deveria ter aberto tanto mão da minha vida, da minha família, para me dedicar tanto. Agora o que eu tenho feito: colocado na mão de Deus. Ele quem sabe o que é melhor para a minha vida e que ele conduza de forma que seja melhor para mim e para minha família, para a cidade.
CIDADÃO: Você e os outros candidatos recorreram da decisão judicial. Qual a atual situação?
MAIZA RIO: O meu caso ainda existe uma esperança, porém, muito pequena. Existe ainda o processo em Brasília que já foi julgado. Na época, eu não consegui um advogado em Brasília, era muito caro e meu partido não me ajudou. Esse processo foi julgado monocraticamente, então, existe uma chance muito pequena e não sabemos se vai dar certo ou não. É uma esperança que temos colocado nas mãos de Deus. Não sai se será para fevereiro, março ou se vai demorar isso. Mesmo eu não ter sido eleita, eu mantive meus contatos com alguns deputados na tentativa de não perder o que já foi feito, mas dá a impressão de que perdi a força para conseguir. Mesmo eu sendo a mais votada, eu não sou mais a vereadora.
CIDADÃO: Quais são seus planos políticos daqui para frente?
MAIZA RIO: Eu levei um baque muito grande. A minha campanha foi a mais organizada, foi a que eu mais investi. Não ganhei recursos de nenhum empresário da cidade, fiz tudo com recurso próprio, com a ajuda da minha família. Meu único bem é um lote que herdei de meu pai. Esta casa é do meu irmão e o meu carro é financiado. Minha alternativa é vender o lote para pagar os gastos da campanha, uma vez que meus irmãos me emprestaram o dinheiro. Minha campanha foi muito bem projetada. Ver o resultado que foi e a dívida do outro lado, de certa forma, eu desanimei. Eu confesso que eu não sei se voltaria a me candidatar. Eu não sei se paro por aqui como candidata ou se eu vou continuar. É muito comum as pessoas me dizerem que eu tenho de ser candidata à prefeita, mas eu não sei. É algo que estou colocando na mão de Deus. Ainda está muito cedo para uma decisão.
CIDADÃO: é difícil separar a Maiza da Maiza-Política. Mas fale da Maiza-Maiza. Quais são as novas metas?
MAIZA RIO: Já faz 20 anos que trabalho na Polícia Científica em Fernandópolis e continuo com sempre. Estamos criando uma ONG, uma associação de amigos defensores dos animais e eu sou uma das pessoas que está coordenando isso. Algo que eu sempre gostei muito e uma das minhas principais bandeiras na câmara. Tenho conversado com o meu irmão para desenvolver, quem sabe, um lado de pequena empresária. Eu tenho alguns planos, mas ainda sem definição.
CIDADÃO: Qual a sua dica para os que estão entrando no Legislativo agora?
MAIZA RIO: Uma pessoa me disse esses dias que parece ter um ambiente estranho da eleição para cá. A gente fica um pouco preocupado com essa questão da dívida da prefeitura. Uma colega vereadora me disse, certa vez, que pela experiência que já adquiriu, seria uma vereadora diferente da que foi. Então, veja a importância da experiência. Os vereadores que têm certa experiência, acredito que será muito importante que ajudem, compartilhem com os novos que estão entrando. Existem comissões importantes que precisam de cuidado, de serem vistas com muito carinho. Espero que haja uma ajuda mútua entre os vereadores. A gente fica muito triste em Fernandópolis porque existem muitas brigas entre partidos, brigas de interesses que se tornam muito latentes antes da eleição, no período e após a eleição. Acabamos invejandoisso de Votuporanga, que é uma cidade mais unida, que consegue lançar praticamente um candidato único que consegue ter 70% de aprovação da cidade. Deveria ter mais união em Fernandópolis, menos interesses partidários ou particulares, embora a entendamos que política, muitas vezes, envolve compromissos que devem ser honrados.